14 setembro 2010

A charge

“Rir é o melhor remédio” ensina o senso comum. Contudo, o jornalismo diário não possui muito espaço para o riso. O universo midiático é um campo mais austero. Por outro lado há uma forma diferente de fazer jornalismo: as charges jornalísticas. É por meio delas que podemos encontrar fatos abordados pelo humor, pela sátira e paródia, com o objetivo de buscar o riso, a reflexão, a crítica acerca dos acontecimentos narrados (ou não) pelo jornalismo convencional.


A charge nasce a partir da notícia. Na construção de charge o noticiário diário é fonte inspiradora para o chargista. Dessa fonte a charge leva a uma construção social da realidade. Trata-se de uma manifestação comunicativa condensadora de múltiplas informações. A interpretação da charge aciona o conhecimento de um conjunto de dados e fatos contemporâneos ao momento específico em que se instaura a relação discursiva entre o produtor e o receptor da charge. O texto chargístico, além da facilidade da leitura, diferencia-se dos demais gêneros opinativos por fazer sua crítica usando constantemente o humor.


Por focalizar uma realidade específica, a charge se prende mais ao momento, daí, portanto, a razão da limitação temporal da charge. Devido ao seu teor crítico é a maior facilidade com que a imagem é apreendida, o caráter da charge é temporal; depressa ela é esquecida. O humor é a principal característica das charges. Para a construção desse humor, o chargista utiliza recursos da linguagem e estruturas narrativas. Esses recursos de estratégias, destaca-se o componente visual, sem o qual seria praticamente impossível pensar o humor gráfico. A presença do “exagero” (aumento desproporcional e intencional de formas, fatos e atitudes) é utilizada como estratégia discursiva. E isso possibilita uma ênfase naquilo que o chargista quer dizer, evidencia aspectos específicos e marcantes daquilo que a obra retrata e isso atinge o leitor com rapidez e maior impacto que algumas outras formas de artes visuais.


Em Salvador, o jornal A Tarde é o único, no momento, que exibe diariamente, a charge na página de opinião. O suporte material, o jornal A Tarde, de publicação diária e grande circulação, traz todo dia na página A3 Opinião, uma charge. O fato de a charge se encontrar na página A3, de opinião, já diz muito em relação ao seu conteúdo, devido às características de gênero opinativo e permitem que o leitor compreenda que se diz respeito a um gênero opinativo, que evidencia uma crítica através do humor. Isso comanda o “uso” que o leitor irá fazer da charge, ou seja, ele tem ciência de que se trata da retomada de um acontecimento/notícia por meio do humor, sátira e ironia e pode, assim, propiciar o riso, parodiando situações e/ou pessoas.


Assim, a charge constitui importante modalidade do discurso jornalístico. A charge é uma crítica político social através da qual o chargista expressa graficamente, com humor e ironia, seu ponto de vista sobre determinadas situações cotidianas. Esse desenho sempre teve significativa repercussão, as vezes mais que os editoriais ou artigos – a exemplo dos constrangimentos provocados pelas charges sobre Maomé, publicadas em um jornal dinamarquês, no ano de 2005, causando incidentes diplomáticos.

A importância do desenho humorístico na imprensa, seja como documento histórico, como fonte de informação social e política, como fenômeno estético e como forma de expressão artística e literária, é inegável. O humor gráfico exige de seu criador um mínimo de destreza de traço e um mínimo de julgamento estético. Exige muita síntese, tanto de traços, por causa do impacto visual que deve provocar, quanto de significado, que tem que ser necessariamente claro para que a mensagem passe a todos os leitores.


Os chargistas são responsáveis pelas entrelinhas da história oficial impressa, traçadas no dia a dia com a atualidade de um editorial e a potência de uma bomba. Uma parte importante do pensamento brasileiro está no traço desses humoristas. Afinal, a caricatura, a charge, o desenho de humor, mesmo sendo uma área frequentemente esquecida, são sempre um indício seguro do pensamento e cultura de uma época. O desenho de humor é uma parte narrativa e descritiva da arte do nosso tempo. Ele é necessário para a crítica social, para fixar os novos hábitos e costumes e para demonstrar com vigor mais imediato as novas ideias.


A charge é uma crítica política na qual o artista demonstra através de seus traços sua visão em relação a determinados temas utilizando recursos como a sátira. Como o desenho é uma linguagem mais acessível que muitos textos políticos, seu alcance chega a ser maior do que um editorial. A charge é uma crítica humorística de um fato ou acontecimento específico, funcionando como uma reprodução gráfica de uma notícia já conhecida do público, segundo a ótica do desenhista. Tanto pode se apresentar somente através de imagens quanto combinando imagem e texto (título, diálogos).


A validade humorística da charge advém do real, da apreensão de facetas ou de instantes que traduzem o ritmo de vida da sociedade, que flagram as expressões hilariantes do cotidiano. Sua intenção é representar o real, criticando-o. O desenho chargístico contém a expressão de uma opinião sobre determinado acontecimento, só adquirindo sentido no espaço jornalístico, porque se nutre dos símbolos e valores que fluem permanentemente e está sincronizada com o comportamento coletivo.

&&&&&&&&&&&




De 01 de setembro a 03 de outubro na Caixa Cultural Salvador (Rua Carlos Gomes, 57, Centro. Tel. 3421-4200) será aberta a Mostra de charges, caricaturas, cartuns e tiras de Hélio Lage. A mostra é aberta de terça a domingo, das 09 às 18h, curadoria de Nildão, produção cultural de Alice Lacerda, com o apoio da TV E e patrocínio da Caixa. Além da exposição, haverá palestra e debates no mesmo local. Dia 14, das 8:30 às 12h está programada uma oficina “A caricatura como forma de expressão artística”, apresentada por Paulo Setúbal. No mesmo dia pela tarde, das 14h às 16h, palestra de Nildão sobre “O Processo criativo do humor gráfico: o cartum.”. E das 16h às 18h, palestra sobre “Vida e obra de Hélio Lage” pelo professor Washington Filho.

Na quarta-feira, dia 15, das 8:30h às 12h, oficina sobre “Do desenho a animação: processo e técnicas” ministrada por José Vieira. Pela tarde, das 14h às 16h, palestra sobre “Humor gráfico na Bahia: trajetória e perspectivas” por Gutemberg Cruz. E das 16h às 18h, palestra sobre “O papel do cartunista em um veículo de mídia”, por Cau Gomez. E para os aficcionados nos trabalhos de Lage, vale conferir o site:wwwheliolage.com.br.

&&&&&&&&&&



24 Horas de Quadrinhos 2010


As inscrições para quem quiser participar do desafio custam R$ 5,00 e já estão abertas através do site www.rvculturaearte.com ou mesmo na loja.


Quem não conseguir passar 24 horas produzindo uma HQ, este ano a RV Cultura e Arte vai montar um Muro de Tiras, para que todo mundo possa mostrar um pouquinho do que sabe fazer, mesmo que em poucos quadros. A loja ficará aberta até a meia-noite do dia 02 com promoções especiais.


Outra novidade: além da Devir e da Conrad, parceiras em 2009, a JBC também apoia o 24 Horas. Assim, haverá brindes para alguns dos participantes do desafio, sorteio para quem contribui com o Muro de Tiras e ainda uma promoção que acontece via TWITTER e que todo mundo já pode participar. É só seguir a @rvquadrinhos lá no microblog e dar RT na mensagem até o dia 30/09. O sorteio vai ser realizado no dia 01 de outubro, na véspera do 24 Horas de Quadrinhos.


Criado em 1997 pelo quadrinista americano Scott McCould, o 24 Horas de Quadrinhos é um desafio individual no qual o participante deve criar uma história em quadrinhos de 24 páginas em 24 horas ininterruptas. Famoso desde 2004, quando se tornou um evento mundial, o desafio já foi cumprido por experientes autores como Neil Gaiman e por milhares de amantes da nona arte. Hoje sob a organização da ComicsPRO, a associação americana de comics shops, o 24 Horas de Quadrinhos promete se tornar ainda maior. Quer saber mais? Consulte o site oficial: www.24hourcomicsday.com

--------------------------------------------------
Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho, 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

Nenhum comentário: