06 abril 2009

Sertanejo é retratado nos 40 contos de “seo” Nenenzinho, de Valente

O semi-árido baiano ocupa 360 mil quilômetros quadrados, representando 64% da área territorial do estado da Bahia e 51,7% de toda a região semi-árida do Nordeste. Em suas vastas dimensões vive mais de 45% da população baiana, totalizando 6 milhões de habitantes residentes nas regiões rural e urbana de 258 municípios que apresentam os menores Índices de Desenvolvimento Humano do país (IDH). A área onde atualmente está erguida a sede de Conceição do Coité, nascida das entradas que penetravam o sertão baiano, foi inicialmente a sede de uma fazenda, que se tornou uma crescente povoação. O município, que no início chamava-se Nossa Senhora da Conceição do Coité, fica a 210 quilômetros de Salvador, tendo uma população estimada em 58.358 habitantes. A cidade é considerada o terceiro maior produtor baiano de sisal e mandioca, destacando-se também na pecuária, mineração e artesanato.

E foi nessa pequena localidade, no povoado de Valente que nasceu João José de Oliveira, conhecido como Nenenzinho. Sua paixão pela terra e os animais fez com que ele desenvolvesse diversas atividades rurais, recebendo medalhas e homenagens pelo trabalho. O resultado disso tudo foi o vereador mais votado do distrito de Valente (Conceição do Coité) e, mais tarde, prefeito do município de Valente (1993/1996 e 2001/2004). Agora, “seo Nenenzinho” lança o livro Contando 40 contos. O lançamento vai acontecer nesta segunda-feira, dia 06 de abril, a partir das 18h no Clube Espanhol, em Salvador.

Segundo o ex-governado do Estado da Bahia, Roberto Santos, no prefácio, trata-se de “um livro escrito com o coração”. “A começar pela história da vida do próprio autor, quando, de um começo de vida muito difícil, progrediu até tornar-se proprietário de extensas áreas de terra e de importantes rebanhos de pecuária bovina, ovina e caprina. Não esconde ele, porém, as lutas enfrentadas nas primeiras décadas de sua existência, ao escolher para título da apresentação do livro, de sua própria autoria, as seguintes palavras: ´De pobreza ninguém me ensina nada´.”.

DIVISÃO - Dividido em sete partes, a primeira intitulada Bonifácio com oito contos. Tiro ao alvo, A mula preta, Convenção do sisal, É no encher do úbere ou no secar do leite, Festa de barraca, Manha em burro, Mulher mata mesmo e Tempo de vacinar. A segunda parte o tema predominante é a morte com personagens populares como Antonio do Inferno (e sua história fantástica) e Tio Moura (contador de façanhas e de estórias de almas do outro mundo). Do coração é a terceira parte, voltada para os contos de amor; de mãe, de filha, de Dingo e Lindika, de pai, entre outros.

Os contos relacionados ao trabalho são completados com histórias sobre as lidas com o gado, importante fonte de receita para os habitantes da região. A fama das cobras justificando as mortes constantes do gado, a predadora muçurana, o dente de Arnor, o gago Sinhozinho Cordoeiro e o garoto Luiz. Relembra a simplicidade e beleza das mulheres, os carrapatos de fulano, entre outros são registrados na quinta parte dedicada a mulher. A figura de Celino Gaia às voltas com a estiagem, a raça Santa Inês, dos conselhos de fazendeiros: Terra é massapê, Cavalo é Mangalarga Marchador, Boi é Nelore, Jumento é Pêga, Bode é Anglo Nubiano, Carneiro é Dorper, Cachorro é Pinscher, Galinha é Legorne, Trator é Caterpillar, Caminhão é Mercedes, Madeira é Aroeira, Manga é Espada. E mulher é Mariá. “Tudo tem que saber fazer e usar, não saia dessa”, ensina.

RECOMENDAÇÃO - Em deveres do capataz ele recomenda: Não deixar para amanhã o que deve fazer hoje. Não emprestar nada dos pertences da fazenda, nem tomar nada emprestado, salvo em situações especiais; Prestar colaboração a seus colegas sem esquecer suas obrigações; Advertir a seu patrão de tudo que pense trazer resultados a fazenda; Tudo fazer para que a fazenda renda um pouco mais. A sétima e última parte dos contos são dedicados a Expovalente, ao morto-vivo de Ichu, e o inocente Tomotinho.

A linguagem é simples com boas doses de humor, retratando figuras conhecidas da região do sisal. Nas crônicas há frases antológicas e criativas. Seo Nenenzinho escreveu os 40 contos com o coração, fotografando as diversas peculiaridades do nosso sertanejo. A leitura é agradável e aconselhável para todos. Contando 40 Contos conta com edição e projeto gráfico de Luís Guilherme Pontes Tavares, ilustrações de Antonio Cedraz, com capa e tratamento de imagens de Sérgio Alexandre Pontes Tavares. Vale a pena conferir.
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Para que não compareceu ao lançamento do meu quinto livro "Bahia, um estado d´alma", encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 e Espaço Cultural Cinema Glauber Rocha (Praça Castro Alves) e Pérola Negra (Canela).

Um comentário:

Luis Guilherme disse...

Caro Gutenberg,o lançamento de Contando 40 contos, na úmtima segunda-feira, no Clube Espanhol, foi um sucesso, Quanto mais gente chegava, mais fartura havia na mesa de salgados e nas bandejas dos garçons. O autor, acompanhado da família, era só alegria. O dinheiro apurado na noite será ofertado a uma instituição que cuida de vítimas do câncer. Abraço forte, Luis Guilherme