10 março 2009

Felicidade hoje (2)

Hoje, o ideal de felicidade mudou. Casamentos se tornaram menos estáveis. Vivemos em um mundo dividido entre a cultura dos sentimentos (como o romantismo definiu) e a cultura das sensações. A sociedade agora é de tudo, menos de prazer. Enquanto o mundo (espetáculo, tv, cinema, publicidade) diz para gozar, o ser humano é obrigado aos exercícios físicos, check up diversas vezes, evitar colesterol, Alzheimer, câncer etc. Há uma neurose geral, um medo terrível onde o sujeito não pode usufruir nada sem culpa ou pecado.

Os diversos quadros de depressão, angústia, mal-estar, anorexia, bulimia e outras neuroses decorrentes da cultura do corpo e suas dietas e regimes, cirurgias plásticas e diminuição do estômago tem provocado a “cultura das sensações” no que se refere a educação dos sentidos. Hoje em dia as pessoas estão desencantando os sentimentos e reencantando o corpo. Hoje em dia nos unimos pelos prazeres que compartilhamos pelos acessórios que combinamos.

Em seu livro Tempo das Tribos, lançado em 1987, Michel Maffesoli postula que novas formas de socialização, assim como novas tribos urbanas, estão surgindo, com isso explicitando que o engajamento de corpo e alma foi substituído por uma participação passageira. A morte do indivíduo burguês coincidiu com o fim de uma moral totalitária, emergindo uma ética sem sanção ou obrigação, uma ética da estética com o experimentar junto. Nós nos unimos pelo que consumimos, seja moda, música, ou até pessoas. As festas Raves é um bom exemplo. Eles não compartilham uma ideologia, apenas uma forma de sentirem comum.

A hipótese da socialidade- para Maffesoli – baseia-se no fato de que se partilhar um hábito, uma ideologia ou um ideal é o que determina o estar junto hoje em dia. E aponta para o declínio do individualismo nas sociedades de massa, e postula que o que surge atualmente é um neotribalismo caracterizado pela fluidez, reuniões pontuais, ou melhor, por momentos de êxtase e, principalmente, pela identificação.

Na cultura de consumo que acontece nas grandes cidades os jovens mostram-se atentos à imagem que exibem. Eles não tratam as roupas e o corpo de forma ingênua ou desavisada. Mudam seus estilos, cabelos e roupas na tentativa de acompanhar o veloz fluxo de mercadorias e imagens que surgem para se sentir pertencentes. Há uma constante metamorfose que caracteriza a contemporaneidade.

Se antes o que garantia o projeto a longo prazo era a família, o trabalho, a religião e a política. Hoje você tem que ser capaz de mudar o tempo inteiro, fazendo projetos fragmentados. A tecnologia médica fez com que agente hoje sinta cada vez menos dor. Se há depressão o Prozac resolve. Mas as pessoas estão tristes por não exercer o afeto (e tome ectasy!). E se antes a cultura dos sentimentos se prolongou no futuro, ou seja, você não procurava realizar tudo que gostava na sua vida e seu filho continuava suas realizações. Agora, tudo o que a juventude quer é para já.


Hoje o que importa é a imagem. Vivemos sob uma nova cultura, que promete felicidade através de sensações corporais: a boa forma, a sensualidade, o estímulo da beleza, o êxtase das festas. Mas tudo isso é muito rápido e logo desaparece, gerando uma aplicação de uma angústia. Resultado: o uso de Prozace outros psicotrópicos. O uso e abuso de diversas drogas nos dias atuais pelos jovens é essa busca desenfreada pela felicidade, mesmo que momentânea.

O pragmatismo do conceito vence-quem-tem-mais-e-melhor desembocou numa ausência total de reflexão sobre o sentido da vida. É a paralisia da vontade, a cultura da impotência. A felicidade fica cada vez mais inatingível, na medida em que a forma física ideal vai se deteriorando com o tempo ou se não segue os preceitos exigidos. É preciso recuperar valores como a generosidade, o altruísmo, aprender a dividir, diminuir o sentimento de posse.

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