25 maio 2006

Zé Trindade


Humorista e poeta. Milton da Silva Bittencourt nasceu em Salvador no dia 18 de abril de 1915. Sua infância não foi das melhores. O pai, um boêmio deserdado por abastada família porque casara com uma moça pobre de apenas 13 anos, morreu cedo, vítima de tuberculose. Sozinha, Esther, quase uma menina, passou grandes dificuldades para sustentar o filho. Nessa época o garoto Milton passou fome em Salvador. Foi quando arranjou emprego no melhor hotel da cidade. Começou a trabalhar aos 11 anos de idade como office-boy e ascensorista de um hotel em Salvador. Com 13 anos, já frequentava cabarés e tinha amantes. No hotel, contando piadas, fazendo trovas num grupo em que pontificavam Dorival Caymmi e Jorge Amado, o baiano Milton da Silva Bittencourt acabou ganhando um programa de rádio e tendo de trocar de nome para não chocar os conservadores da família com seu humor. Conseguiu que Antônio Maltez (parceiro de Dorival Caymmi), musicasse um de seus poemas e passou a frequentar a Rádio Sociedade da Bahia. Convidado para dirigir o programa Teatro pelos Ares (cópia do apresentado pela Rádio Mayrink Veiga), acabou substituindo um ator cômico e adotando o nome artístico de Zé Trindade, para não constranger a família. Ídolo popular na Bahia, ele decidiu migrar para o Sul em 1945 e o sucesso nacional não tardou.

No Rio de Janeiro atuou nas rádios Clube do Brasil, Mayrink Veiga e Nacional. Durante quinze anos seguidos, a Rádio Mayrink Veiga, celeiro dos grandes nomes do humorismo brasileiro, concedeu-lhe o prêmio de Melhor Cômico. No rádio ele criou bordões como “Com licença da má palavra”, “É lamentável”, “O negócio é experimentar” que eram repetidos nas ruas. Ele inventava expressões que logo passava a fazer parte do vocabulário nacional. Uma delas virou título de um de seus filmes: Mulheres, Cheguei. Ele viveu a fase áurea da Rádio Mayrink Veiga nos programas humorísticos Vai de Valsa, A Cidade se Diverte, Este Norte é de Morte e Alegria de Rua, entre outros, programas com ‘scripts’ de Chico Anísio, Haroldo de Andrade e Antônio Maria. Nos anos 80 ele continuava a gravar quadros para o programa A Impecável Maré Mansa, com que a Rádio Tupi carioca atendia a sua assídua platéia de nordestinos. O comediante Zé Trindade ficou famoso com o bordão “Meu negócio é mulher”, que sempre dizia em tom enfático, porque, segundo Chico Anisio, “era sempre o irresistível e pegava as mulheres boas”. Ele criou o homem mulherengo e paquerador, a imagem profissional de bom malandro que a cada filme ia ganhando beijos das mais lindas mulheres do elenco.

Para Chico Anísio, Zé Trindade “não foi feliz na tevê, porque tinha horror à decorar textos”, enquanto nas rádios e cinema possuía outros recursos para dizer ‘scripts’, como ler e dublar. Ele também fez parte do elenco de Aperte o Cinto, humorístico da Rede Manchete . Com as dificuldades do cotidiano da televisão, Zé Trindade transformou-se também em comerciante. Ele tinha um restaurante de comidas típicas de sua terra, que mantinha em Ipanema. Fechou e abriu uma indústria de produtos alimentícios: a farinha de mandioca Bastante Boa e Baianinha Boa era vendida com exclusividade para a Casa Bahia.

Em 1948, estreou no cinema fazendo uma ponta no filme O Malandro e a Grã-fina, dirigido por Luís de Barros. O sucesso do tipo baixinho, gordo e de bigode fino foi tão grande que ele acabou atuando em outros filmes, como Mulheres, Cheguei; Prá lá de Boa; Garotas e Samba; Mulheres à Vista; Maluco por Mulher; Massagista de Madame; Batedor de Carteiras; e Marido de Mulher Boa. Entre seus últimos filmes estão Tem Folga na Direção e Um Trem para as Estrelas, de Cacá Diegues. Aproveitando o êxito, Zé Trindade também gravou 25 discos, sempre de músicas nordestinas e a maioria composições suas. Quando lançou o disco, pela CBS, É um Estouro, em 1963, recebeu o cobiçado troféu Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, do Ministério de Educação e Cultura, como melhor intérprete de música regional em disco.
Em 1965 lançou o livro de poesias O Poeta Zé Trindade, apresentação de Jorge Amado com ilustrações de Carybé pela Editora Ozon, do Rio. O livro foi um grande fracasso nas vendas, não obtendo nenhum lucro. Escreveu ainda o livro de trovas e pensamentos, Fonte Iluminada. O outro, de poemas e sonetos, Versos sem Retoque, e o terceiro, de memórias, Lágrimas e Glórias de um Cômico - A Vida de Zé Trindade Contada por Ele Mesmo, não chegaram a ser editados. “São 50 anos de profissão e 70 de vida. Mas confesso, sou cômico frustrado. Nasci poeta e gostaria de ser famoso à custa dos meus versos. Mas no Brasil só Castro Alves é quem vende poesia”, revelou o artista. Zé Trindade é também nome de rua, em Iguaba Grande, na Região dos Lagos, Rio de Janeiro, onde morou há muitos anos com a família. Em 1972, Zé Trindade resolveu dar um tempo na carreira. Tirou férias e viajou com a mulher para Portugal, levou a filha para casar em Lisboa e aproveitou para visitar 20 países.

Ele fez sucesso nos anos 50 e 60, quando interpretou tipos cômicos e mulherengos em 35 filmes, na maioria produzidos pela Atlântida e pela Herbert Richers. No cinema, sete entre dez chanchadas produzidas por Herbert Richers ou pela Atlântida levavam seu nome no elenco. Na televisão, integrou os elencos da Tupi e da Globo, participando durante oito anos do programa Balança mas Não Cai. Em 1986, participou da série Memórias de um Gigolô, também da TV Globo. Ele faleceu no Rio de Janeiro no dia 03 maio de 1990, aos 75 anos, vítima de câncer nos pulmões. Foi enterrado no Cemitério São João Batista, em Botafogo, Rio de Janeiro. O humorista Chico Anísio lembrou que Zé Trindade foi “o único comediante que conseguiu nos anos 50 e 60, competir com Brandão Filho nos programas de rádio e o único que conseguiu competir e até vencer Oscarito no cinema”.

3 comentários:

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