Geógrafo e professor, Milton Santos se
vivo fosse comemoraria 95 anos de nascimento neste mês de maio. Ele é baiano de
Brotas de Macaúbas, onde nasceu a 03 de maio de 1926, de pais professores
primários.
A Bahia está sempre surpreendendo o Brasil
e o mundo, e não se está falando aqui de música, dança, Carnaval e outras
expressões culturais do gênero – ainda que estas sejam nossas matizes mais
fortes e que merecem igualmente a devida valorização. Mas, o estado baiano é
mais que isso, e uma das maiores provas é um nome: Milton Santos. Negro,
nascido no interior da Bahia, em Brotas de Macaúbas, este geógrafo, doutor
honoris causa por 20 universidades de sete países, teve mais de 40 livros
publicados em diversos idiomas e se tornou um dos maiores pensadores da
história recente do Brasil. O mestre visionário baiano morreu aos 75 anos,
defendendo a tese de que é pelas ideias que se irá alcançar a transformação
social.
Ainda criança, Milton Santos desenvolveu o
gosto pela álgebra e pelo francês. Seu “forte” foi a matemática, tanto que aos
13 anos dava aulas no ginásio em que estudava. Aos 15 anos passou a lecionar
Geografia e aos 18 prestou vestibular para Direito em Salvador. Enquanto
estudante secundário e universitário marcou presença com militância política de
esquerda. Formado em Direito, não deixou de se interessar pela Geografia, tanto
que fez concurso para professor catedrático em Ilhéus. Nesta cidade, além do magistério,
desenvolveu atividade jornalística, estreitando sua amizade com políticos de
esquerda.
TRAJETÓRIA & RECONHECIMENTO - Apesar
de ter se graduado em Direito, desenvolveu trabalhos em diversas áreas da
Geografia, em especial nos estudos de urbanização do Terceiro Mundo. Foi um dos
grandes nomes da renovação na geografia brasileira ocorrida nos anos 1970.
Embora pouco conhecido fora do meio acadêmico, Milton Santos alcançou
reconhecimento fora do Brasil, tendo recebido em 1994, o Prêmio Internacional
Vautrin Lud, uma espécie de prêmio Nobel da Geografia, conferido por
universidades de inúmeros países. O geógrafo foi dos poucos cientistas
brasileiros que, expulsos durante a ditadura militar (naquilo que foi conhecido
por êxodo de cérebros), voltaram depois ao país, sendo disputado por diversas universidades.
Sua obra “O espaço dividido”, de 1979, é
hoje considerado um clássico mundial, onde desenvolveu uma teoria sobre o
desenvolvimento urbano nos países subdesenvolvidos. Suas ideias de
globalização, esboçadas antes que este conceito ganhasse o mundo, advertia para
a possibilidade de gerar o fim da cultura, da produção original do conhecimento
- conceitos depois desenvolvidos por outros. “Por uma Outra Globalização”,
outro livro seu escrito dois anos antes de morrer, é referência atual em cursos
de graduação e pós-graduação em universidades brasileiras. Traz uma abordagem
crítica sobre o processo perverso de globalização atual na lógica do capital,
apresentado como um pensamento único.
Na visão dele, esse processo, da forma
como está configurado, transforma o consumo em ideologia de vida, fazendo de
cidadãos meros consumidores, massifica e padroniza a cultura e concentra a
riqueza nas mãos de poucos. Durante toda a vida buscou métodos e visões diferentes
para encarar seus temas de estudo. França, EUA, Canadá, Tanzânia, Milton Santos
lecionou em diversas universidades mundo afora em seu exílio durante a ditadura
militar no Brasil. Também lecionou na Venezuela e no Reino Unido. Regressou ao
Brasil em 1977, onde anos depois, finalmente, cursou geografia na Universidade
Católica de Salvador.
ABORDAGEM INOVADORA - Durante seus 13 anos
de exílio, seus contatos com inumeráveis profissionais em diversos países, e,
sobretudo sua capacidade de elaborar teorias, a partir de variadíssima leitura,
por diversos campos do saber, impulsionaram seu esforço de escrever, de compor
sua obra considerada como monumental. A ditadura lhe impôs sofrimento em função
de suas ideias. Realizou forte defesa de uma Geografia mais crítica, com
abordagens da teoria marxista.
A obra de Milton Santos é inovadora ao
abordar o conceito de espaço. De território onde todos se encontram, o espaço,
com as novas tecnologias, adquiriu novas características para se tornar um
conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações. As velhas
noções de centro e periferia já não se aplicam, pois o centro poderá estar
situado a milhares de quilômetros de distância e a periferia poderá abranger o
planeta inteiro. Daí a correlação entre espaço e globalização, que sempre foi
perseguida pelos detentores do poder político e econômico, mas só se tornou
possível com o progresso tecnológico.
Para contrapor-se à realidade de um mundo
movido por forças poderosas e cegas, impõe-se, para Milton Santos, a força do
lugar, que, por sua dimensão humana, anularia os efeitos perversos da
globalização. Estas ideias são expostas principalmente em sua obra “A Natureza
do Espaço”, publicada em 2002. Ele recebeu em 1997 o prêmio Jabuti pelo melhor
livro em ciências humanas: A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e
emoção. Em 1998, o geógrafo foi homenageado pelo Jornal do Brasil, recebendo o
título de Homem de Ideias. Um ano depois, foi contemplado em concurso nacional
pela Revista Isto É como um dos 20 cientistas do século.
Ainda em 1999 recebeu o Prêmio Chico
Mendes por sua resistência. Foi condecorado Comendador da Ordem Nacional do
Mérito Científico em 1995. Hoje, o geógrafo tantas vezes laureado empresta seu
nome ao Prêmio Milton Santos de Saúde e Ambiente, criado pela Fundação Oswaldo
Cruz. Milton Santos nunca participou de movimentos negros – acreditava que
deveria conquistar reconhecimento em atitudes como, por exemplo, ingressar na
universidade. “Minha vida de todos os dias é a de negro”, declarou. “Mantenho
com a sociedade uma relação de negro. No Brasil, ela não é das mais
confortáveis”.
“o sonho obriga o homem a pensar”
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