01 fevereiro 2021

O russo Tishchenko não pode ser esquecido

 

Há 40 anos morria o desenhista russo Nicolay Tishchenko (1926-1981). Ele começou a publicar suas charges no jornal A Tarde. Foram 16 anos de charges (julho de 1958 a março de 1975). Ele ajudou, com suas charges, a perceber as ambiguidades da condição humana, as contradições disfarçadas, os anseios e insatisfações. Seu traço vivo, forte, fixou nossos tipos, usos e costumes sociais e políticos, dando às suas figuras um décor próprio. Preferiu a charge à caricatura, pois inspirava mais o riso do que o terror. Afinal, a caricatura individualiza o ataque, abrindo o flanco a retaliações diretas. A charge política é uma arma de combate que, além de fazer rir, leva o leitor à reflexão, ainda que sob a ótica de desconstrução e do entretenimento.

 


No início – 1958 – ele não entendia o coloquialismo do nosso idioma, mas seu traço forte se destacava logo nas charges que foram publicadas no jornal A Tarde. O russo Tischenko aos poucos foi conhecendo nossa cultura, nossa política e idioma. Preferiu a charge à caricatura, pois inspirava mais o riso do que o temor. Afinal, a política é uma forma de combate que além de fazer rir, deve levar o leitor à reflexão, ainda que sob a ótica da desconstrução e do entretenimento. 

 

Pintor, chargista e publicitário, seu traço era marcado pela sensibilidade européia e, naquela época, foi uma grande sensação no mercado. A repercussão das charges publicadas em A Tarde incentivou o desenhista a reuni-las no livro Charges. Ele publicou dois livros de charges e um dedicado “às crianças grandes”, além de uma série de ilustrações para a Câmara de Vereadores da Cidade. Introspectivo, Tischenko tem trabalhos em guache, aquarelas e esculturas espalhadas por todas as partes do mundo.

 


Os primeiros trabalhos do russo Nicolay Tishchenko foram publicados na Europa, mas foi na Bahia que ele dedicou quase toda a sua vida às charges e ilustrações. Quem desejar conhecer a trajetória desse artista, leia o livro O Traço dos Mestres, premiado com o HQ Mix em 1996.

Um comentário:

Nikolay Tishchenko disse...

Caro Gutemberg,
sinto-me muito honrado em encontrar este artigo sobre o meu avô. Fico feliz em saber que a memória dele continua viva!
Somente há uma correção a fazer referente a data de falecimento meu avô. Ele morreu no dia 29/08/1992. Eu tinha 12 anos. Ele foi sepultado no Cemitério dos Estrangeiros na Federação, em Salvador.
Também percebi que a data de nascimento não confere. Ele nasceu 20 anos antes, no dia 25/02/1906.
Inclusive consta dos relatos dele, que quando houve a Revolução Russa, ele estudava num colégio militar afastado da família. O Colégio inteiro fugiu do exército vermelho e nunca mais até o fim da vida ele teve contato com a família dele.
Daí ele foi parar em Belgrado, onde estudou Belas Artes.