03 setembro 2014

É preciso olhar com atenção (2)



O mundo sensorial é ilusório. Esse mundo das paixões e desejos é o mundo que vemos e percebemos.
Real seria o mundo das propriedades matemáticas que só podem ser descobertas pelo intelecto. É o que pensava Lévi-Strauss. Charles de Bovelles afirmou que há três olhos – o olho angélico, o olho humano e o olho animal, a saber, o intelectual, o racional e o sensível. Os dois mais potentes estão admitidos à contemplação de Deus, o sol natural de cada um deles. Mas o olhar angélico percebe Deus na luz, enquanto o olhar humano o percebe na sombra.

Há os olhos do corpo e os olhos do espírito, segundo Bovelles. Os primeiros -  a que chama de olhos mundanos – são esferas perfeitas que “não podem ver toda a superfície da esfera”, excitados pela luz e pela cor apenas “em metade de sua esfera, aquela voltada para o mundo”, mas “cegos por natureza em sua outra metade, aquela presa no interior da cabeça”. A Natureza não lhe deu a visão interior. O homem ganhou o primeiro olhar. Deve conquistar o segundo através da sabedoria ou ciência de si mesmo.

O olhar também foi considerado perigoso. Basta conhecer a história das filhas e a mulher de Ló, transformadas em estátuas de sal. Ou Orfeu perdendo Eurídice. Narciso perdendo-se de si mesmo. E Édipo cegando-se para ver o que, vidente, não podia enxergar. Ou mesmo Perseu defendendo-se da Medusa forçando-a a olhar-se. E os índios, recusando espelhos, pois sabem que a imagem refletida é sua própria alma que a perderão se nelas e nele depositarem o olhar. Olhar é, ao mesmo tempo, sair de si e trazer o mundo para dentro de si.
 
O uso das palavras que expressam o olhar é bem diversificado. O povo diz “Olho gordo” quando há sinais de ganância. Se o desejo é voraz o olho é comprido. Olho de sapo é olho parado, olho de peixe morto. Olho de lince é agudo, terno é olho de pomba, infiel ou suspeito é olho de gato, tímido é olho de coelho, cruel é olho de cobra, sensual é olho de macaca. Assim, a expressão do olhar busca e acha suas metáforas no ser vivo. O olhar é muito mais do que função fisiológica, é uma linguagem forte, um universo carregado de sentido. O universo do olhar é vasto e misterioso.

O homem de hoje é um ser predominantemente visual. A maioria das informações que ele recebe lhe
vem por imagens. O mundo se dá ao olho humano (segundo o discurso de Epicuro e de Lucrécio), porque a natureza desenvolve um movimento constante, veloz, desprendendo da superfície dos seres os simulacros, figuras que duplicam sutilmente a forma superficial das coisas. Assim os simulacros vêm ao encontro dos nossos olhos, trazidos que são pelos raios da luz solar, estelar ou lunar. Os olhos recebem passivamente, com prazer ou desprazer, contanto que estejam abertos. O efeito desse encontro chama-ser conhecimento. Para conhecer basta abrir bem os olhos em um espaço iluminado e acolher os ícones do mundo. Assim, conhecer é estar imerso em um oceano de partículas cintilantes e nele engolfar-se sensualmente. Assim, segundo os filósofos antigos, conhecer é ser invadido e habitado pelas imagens errantes de um cosmos luminosos. Para eles a vida é um percurso de luz e morrer é perder a luz. Assim, viver é olhar essa luz, por breve mas belo tempo. Mas o olhar que vê o nascer para a luz contempla também o mergulhar na treva.

HUMOR GRÁFICO NA BAHIA
Uma exposição com as obras dos precursores do grafismo baiano (cartum, caricatura, charge e quadrinhos) até os dias atuais é de grande necessidade para o grande público (jovem e adulto).

É necessário apresentar ao público a história desses artistas que continuam invisíveis e são importantes no registro dos acontecimentos históricos e sociais.

Por esse motivo, vamos apresentar em 2015 uma grande exposição de humor gráfico na Bahia e queremos a participação de todos os artistas.

Paraguassu, K-Lunga, Tischenko, Sinézio Alves, Fernando Diniz, Theo, Lage, Setubal, Nildão, Ruy Carvalho, Cedraz, Cau Gomez, Bruno Aziz, Valterio, Flavio Luis, Luis Augusto, Valmar Oliveira, Andre Leal, Angelo Roberto, Eduardo Barbosa, Gentil, Jorge Silva, Carlos Ferraz, Helson Ramos, Hector Salas, Tulio Carapiá, Sidney Falcão são alguns dos artistas cujas obras estarão na mostra.
Participe, colabore. Contato: gutecruz@bol.com.br
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública), na Midialouca (Rua das Laranjeiras, 28, Pelourinho. Tel: 3321-1596) e Canabrava (Rua João de Deus, 22, Pelourinho). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929.

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