04 janeiro 2010

Nova ética para salvar o planeta (01)

Um dos principais expoentes da Teologia da Libertação, Leonardo Boff, defende a criação de uma "ética global" para evitar a "destruição do planeta e construir um novo modo de produção, em harmonia com a natureza". O ser humano tem se empenhado em desenvolver um modo de produção que está levando os recursos do planeta a seu limite, o que já começou a alterar seu próprio modo de funcionamento. O teólogo alertou que "milhões e milhões de pessoas" serão vítimas da mudança climática global que transformará em deserto grandes áreas do planeta, sem acesso à água e aos alimentos. "Hoje mesmo cerca de 3 mil espécies de plantas e animais desaparecem anualmente do planeta devido ao aquecimento global". E reafirmou a necessidade de "se retomar a filosofia da opção preferencial pelos pobres e, o grande pobre, é o planeta Terra, no qual vivemos e que nos dá vida".

A Terra pede socorro e a humanidade deve escolher o seu futuro. A medida que o mundo se torna mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta grandes perigos e grandes promessas. os padrões dominantes de produção e consumo causaram a devastação ambiental, a extinção das espécies, a redução dos recursos,as desigualdades sociais, as injustiças, a pobreza, a ignorância, os conflitos violentos e os grandes sofrimentos. Há uma aterradora crise ética e moral em todas as partes, atingindo a humanidade.
Para o teólogo, ou formamos uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos outros, ou arriscamos a nossa destruição e a da diversidade da vida. O ser humano, dotado da força de auto-afirmação e da força de integração, rompeu com os demais seres, esqueceu a teia de comunhão com os vivos e com a fonte originária de todo ser e quis dominar a Terra. Esse "pecado original do ser humano" criou o princípio de auto-destruição da espécie e de seu habitat natural. È necessário o reencantamento com a natureza, a busca do "feminino" que nos ensina a cuidar de tudo com zelo. Em oposição ao paradigma conquista que o ser humano vem desenvolvendo em seu processo de hominização, é urgente que se acate o paradigma cuidado, ética mínima e universal para preservar a herança Terra e garantir nosso futuro.
Na nova fase em que a Terra se encontra - a de Civilização Planetária - o sonho de integração de todas as culturas e etnias, de uma nova aliança dos homens com os demais seres vivos da natureza, é o sonho de uma civilização de re-ligação universal que inclui a todos - da formiga do caminho à galáxia mais distante. Essa nova civilização planetária dará centralidade à religião na sua dimensão antropológica - qual uma força que se propõe a re- ligar todas as coisas entre si, com o ser humano e com o Supremo Ser. Dessa nova ótica nascerá uma nova ética que inaugurará a fase globalizada do destino humano e da Terra.
Historicamente as sociedades foram orientadas ética e moralmente pelas religiões e pela razão. Os pontos comuns das religiões permitem elaborar um consenso ético mínimo capaz de manter a humanidade unida e preservar o capital ecológico indispensável para a Vida (Ethos que ama e Cuida). A razão crítica fundamentou a ética e a moral tentando estatuir códigos éticos universalmente válidos (ethos que procura). Esses dois paradigmas precisam ser enriquecidos (nesse tempo de crise) para que se dê conta das demandas éticas provenientes da realidade globalizada. São as experiências humanas, os valores fundamentais ligados à vida, ao ser cuidado, ao trabalho, às relações cooperativas e à cultura da não-violência e da paz, que fazem surgir a ética (ou as éticas) e podem estabelecer uma possível resposta aos problemas atuais da globalização, da pobreza e da violência.
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