13 fevereiro 2009

Um vulcão, uma explosão, um tesão?

Numa rede de descanso (tem coisa mais baiana do que uma rede?), ouvindo os sambas de roda do Recôncavo na Rádio Educadora que lembro da menina sapeca de pé no chão e a cabeça nas nuvens. Uma guerreira, com certeza. Batalhadora, consciente, verdadeira, ativa, um girassol neste deserto. Com sua visualidade negro-africana, ela respira vida. Com uma tatuagem nas costas, sob o sol e a brisa da praia da Boca do Rio, ela desfila admirada por todos, solvendo o sorvete que tanto gosta.

Os caminhos nunca foram abertos serenamente para ela. Dificuldades e armadilhas foram superadas para aquela menina pobre que veio de Catolandia para seguir naquilo que acredita. E sob o fogo cruzado dos medos e ansiedades ela continua sem se corromper. Navega sob o peso do mundo. E foi de uma terra quente que ela deixou seus familiares em busca da carreira que tanto almejava. Partiu em direção a Salvador deixando para trás as luzes de rua da cidadezinha. E foi parar na Boca do Rio.
Cathy parece um desenho do Di Cavalcanti. Nasceu para ser admirada pelo resto do mundo. Morena cor de framboesa, ela lembra a cor daquele céu que vai mudando com o passar do tempo, parecendo estar pegando fogo, rubros de fogueira. Quente e ardente que deslumbrava como aurora da natureza. Talvez, por isso, gosta de sorvete. E o da Ribeira lhe cativou. Delicia-se com vários sabores enquanto os nativos admiram a morena toda prosa, fogosa, baiana legítima.
Essa morena ama a liberdade. Ama andar aos risos e riscos pelas praças e passeios da cidade. De Itapoan ao Rio Vermelho, da Ladeira da Barra ao Porto rumo ao Farol. Tudo lhe ilumina. Observadora, gosta de cortar caminho pela Ribeira num desejo irrepreensível de rua, de circular livremente, de conhecer pessoas.
Detesta hipocrisia, o que pensa fala assim, na lata. E haja palavras, sons, ruídos. A menina é brava. Namorado com ela tem que ter atitude, virtude, integridade, senão a validade é logo vencida. (“É só isso/não tem mais jeito/acabou, boa sorte”, como canta Vanessa da Mata). Essa garota aguerrida, garota tesão, garota festeira, tudo estirado numa esteira de um sol de verão. E haja sol para o belo corpo, escultural, fascinante, colossal. Será tudo um sonho ou isso é apenas um texto formal? Nada é o que parece ser. Tudo pode ser fantasia, um olhar sutil de viajar, um recorte da realidade, uma observação mais atenta de uma figura querida, barulhenta. De um doce amargo na gustação, de um olhar e de uma benção, de um cheiro caseiro, de um toque caligráfico em seu corpo, de um beijo no coração.
Ah palavras! Sempre ao nosso redor, sós, em busca de uma explicação. Mas para que explicar o que é visto se tudo é recoberto de um cisco, uma poeira no chão. Se tudo vai e vem como onda e desaparece na imensidão. E seu sorriso brejeiro ilumina essa doce solidão. E nada melhor do que recordar nesse sábado quente, com uma trilha sonora diferente. Esse doce sabor de recordação. Você parece saída de uma música de Alceu Valença (“Morena Tropicana”) de uma poema de Drummond em noite quente de verão ou mesmo no texto de Clarice Lispector em plena solidão. Você existe ou é imaginação?
Você é assim, essa mistura de arte abstrata, figurativa, surrealista e pop. É uma Bossa Nova incorporada na Jovem Guarda e mesclada no Tropicalismo. E assim como um sorvete de manga vou solvendo essa delícia em tom confessional, não é paixão, não é delírio nem mesmo o sonho de cair num abismo depois do perigo. É apenas uma recordação que sai feito um jato de vulcão. Talvez a viagem que mais parece com você seja isso, um vulcão. E vou parando aqui porque não pára de chover idéias em meu pensamento, um dilúvio de contentamento uma certeza de união, feito um céu negro carregado de estrelas. Sim, agora eu sei que você é a senhora dos raios e das ventanias, a guerreira Oiá-Iansã.
E assim, aonde ela passa ilumina a vida ao seu redor, espalha perfumes, conquista outras cores, amores e ganha nova música. É só abrir olhos e ouvidos para perceber tudo isso. Se perguntar pela vida, ela responde, sim.
CATHY
Há um fluxo intenso entre você e eu
aquela química, energia eficaz, me convenceu
Não há explicação nem o que falar
apenas é verdade, autenticidade no seu olhar
E o que dizer de sua escrita?
Palavras fortes, libertas, que grita!

Há em você toda essa doçura e selvageria
uma mistura barroca, afro baiana
que encanta, mas vai além do clichê
e o efeito em todo mundo não se explica, por quê?
E não adianta querer se perder em seu labirinto
tem que ter ética, transparência, força e instinto
nada de sair correndo sem senso e sem juízo
você é bela, guerreira, majestosa e com sorriso.

Mas bobo é aquele que só fica no visual
o que poucos sabem é que você é profundo astral
uma criança saída lá de Barreiras
e não venha com conversa fiada, besteira
você dá um chega prá lá, deixa de asneira.
Você é d´Oxum e é bom navegar
com a mente, o corpo, o sal e o mar
A sensação é de carícia, de satisfação
de amor, delícia, pura integração
pode ser no litoral, no campo ou no sertão
em qualquer ponto é uma questão de construção.
E na sua vida sofrida, precisa mudar todo dia
perseguir os sonhos e ver o futuro por cima do muro
mas o que a satisfaz é encarar a vida de frente
repleta de desertos, lutas e firmamentos
e no “acúmulo de azuis” de sua cor negra
o que transparece é uma mulher de múltipla faceta.
Cathy é:
Cativa
Autêntica
Tesão
Harmônica
Yansã.

4 comentários:

Unknown disse...

Nossa, lindo... tamanho fogo e doçura descritos com tanta precisão, nos leva a ter o desejo desesperado de conhecê-la e quem sabe até delirar também nesse jeito forte e suave, que me aparenta ser de uma legítima filha de Oxum Opará, Ora iêiê ô, minha mãe é leve, doce, linda, sensual e detentora de tamanha força que nem podemos imaginar... enfim, parabéns, adorei seu texto, gostei tanto quanto o sorvete de amendoim da ribeira que também tenho lOucuraa!!! E amei ter encontrado seu blog, já me atrevi a adicioná-lo aos meus favoritos, para sempre que possível passar por aqui, caso você não se incomode, é isso, fico por aqui, com a curiosidade de saber quem e como seria CATHY...
Um grande beijo
Verena, filha de Mirtes, sua vizinha.

Gutemberg disse...

Cathy é uma dessas pessoas que entra em nossas vidas e não sai mais, fica com a gente. Ela é uma jornalista que conheci, veio de Barreiras e tem uma personalidade forte e uma suavidade nas plavras que fala. Ela é um encanto. Hoje está distante, mas continuo com sua lembrança, uma memória que não morre jamais. Ela é fogo, ela é ar, sublime no olhar, um cheiro que não destoa, um coração meigo mas que não perdoa. Ela é tudo isso e muito mais. Saudades Cathy!

Cathy disse...

Oh meu amigo e menino... para retribuir tanto amor latente assim, só com outras palavras de igual amor:

Assim que vi você
Logo vi que ia dar coisa
Coisa feita pra durar,
Batendo duro no peito
Até eu acabar virando
Alguma coisa
Parecida com você
Parecia ter saído
De alguma lembrança antiga
Que eu nunca tinha vivido,
Mas ia viver um dia
Alguma coisa perdida
Que eu nunca tinha tido
Alguma voz amiga
Esquecida no meu ouvido
Agora não tem mais jeito,
Carrego você no peito
Poema na camiseta
Com a tua assinatura
Já nem sei se é você mesmo
Ou se sou eu que virei alguma coisa tua

Alice Ruiz

Gutemberg disse...

Cathy

Poema belíssimo
emotivo
Obrigado
Guto