05 fevereiro 2009

Palavra Pintada (1)

Três conteúdos fundamentais do século XX vieram do século XIX: O marxismo, a psicanálise e a arte moderna. O marxismo trouxe uma renovação na ordem do pensamento e na ordem prática política e econômica ao propor que havia um movimento de ascensão das massas que chegariam ao poder até que se estabelecesse uma sociedade dialética, no futuro, muito próxima da utopia. A psicanálise propõe que o inconsciente (até então mal conhecido) fosse o gerador, o estruturador de uma energia simbólica. Essa e outra série de conceitos transformou o comportamento individual e social. Nos anos 60, essas idéias passaram a ser revista. Os psicanalistas começaram a discordar de Freud até surgiu a antipsiquiatria. O marxismo entrou em processo de revisão.
O século XIX desmontou e misturou os significados e as formas da arte como nunca se fizera antes. Deixados longe passadas sacralidades, a arte se aproxima da filosofia. E opta pela emoção, pela intuição e fugacidade do instante. Mas separa-se como nunca razão de emoção, enfatizando esta cisão sobre todas as outras separações/compartimentações acadêmicas.
O modernismo mostrou que tanto quanto na política, na arte o racionalismo podia também se transformar num fim absoluto. Durante o transcorrer do período a arte vai, aos poucos, buscando cada vez mais o novo, a ruptura com os antigos padrões. Modernos versus antigos é a grande briga, que se configura até o surgimento, no começo do século XX, da idéia de vanguarda. Para os Tempos Modernos (anos 20/30), vanguarda em arte tem um sentido racionalista, quase científico. É, principalmente, transformação formal, espiritual, conceitual ou qualquer nome que se queira dar.
Assim, a questão racionalismo versus emoção atravessou as últimas décadas artistas do século XX. Posições intransigentes foram tomadas a favor dos construtivistas, concretistas, racionalistas, entre outros, ou dos artistas gestuais do expressionismo abstratos.
ESCOLAS ESTÉTICAS
No século 20 foram criadas mais escolas estéticas do que em toda a história da arte. As obras – no dizer do escritor satírico americano Tom Wolfe-, precisarem de legendas para ser entendidas. No livro A Palavra Pintada, Wolfe se referia principalmente à escola conhecida como expressionismo abstrato, na qual um crítico, Clement Greenberg, não se limitava a analisar as obras. Ele chegou a influir diretamente na pintura do principal representante do movimento, Jackson Pollock, para que ela confirmasse suas teorias.
A ironia que Tom Wolfe trata dos teóricos da arte moderna é fina e com fundamento, ou seja, ele não faz críticas raivosas contra a teoria da arte moderna. Simplesmente mostra como se conduziu os movimento avant garde do começo do século XX até o início dos anos 70, a começar pelo deslocamento de Paris para Nova York o centro mundial da Arte. Assim, Tom Wolfe analisando a arte nos Estados Unidos nos anos 70 em seu livro A Palavra Pintada, observou que a pintura havia se transformado em texto escrito, ou que o conceito verbal, como se diz em economia, era “valor agregado” à obra.
A idéia de Wolfe poderia ser aplicada a várias outras escolas artísticas, como o dadaísmo do início do século XX. Para entender como uma roda de bicicleta enfiada num banco (como a que Marcel Duchamp colocou num museu em 1912) pode transformar-se numa escultura é preciso saber que não se trata apenas de uma roda de bicicleta, mas de um questionamento da própria idéia de arte. Ou seja, é preciso uma legenda. Surrealismo, cubismo, futurismo, suprematismo – o século estava cheio de "ismos" e terminou, paradoxalmente, com um retorno da pintura a suas raízes realistas. Na era da indústria cultural, as artes plásticas viveram ainda um período em que o valor dos quadros, transformados em objetos de especulação, disparou. O pico ocorreu nos anos 80, quando milionários japoneses entraram no mercado e puxaram para cima o preço de várias obras. O recorde foi atingido por uma pintura do século passado, Retrato do Dr. Gachet, de Vincent van Gogh, vendida por 82,5 milhões de dólares em 1990.

Um comentário:

Samantha Beduschi Santana disse...

Sintaxe, só pra começar... Linguagens são (mesmo as léxicas), em um primeiro momento, uma questão de sintaxe. Depois disso, pode-se levar os símbolos gráficos a outras esferas. Concordo que a história e a educação têm muito a nos ensinar: aos que falam, aos que ouvem, aos que lêem, e também, aos que escrevem, of course, my dear!

:)
Sarah