30 outubro 2008

Morte (3)

“A morte tem corpo de modelo, roupa de poesia e o sorriso da sua melhor amiga. Ela usa uma cartola para se divertir, um colar com um ankh como pingente para ter força e carrega um guarda-chuva preto enorme para viajar às ´terras sem sol´. Fico aqui imaginando; qual será o cheiro dela?. Tenho certeza de que é fresco e limpo e de que a risada deve ser tilintante, ou talvez seja calorosa e de menininha, mas, seja lá como for, o negócio é que a Morte ri muito”.

“Falamos sobre o ´milagre do nascimento´, mas e o ´milagre da morte´?. Já entendemos muita coisa sobre a ciência da morte, mas a magia e a inevitabilidade dela são temidas e ignoradas há muito tempo. E se a Morte foi uma pessoa?). Esta Morte simpática e que adora as pessoas, que eu conheci aqui, não é amedrontadora nem distante. Ela está por aqui todos os dias e aproveita as coisas. Ela não está aqui para nos castigar nem para nos matar, mas sim para nos ajudar a descobrir como viver antes de precisarmos partir”. Esses trechos são de Claire Danes, protagonista de “Stardust”, adaptação para o cinema do livro de Neil Gaiman e Charles Vess.
VALOR DA VIDA
A mais popular personagem feminina dos quadrinhos norte-americanos, Morte surgiu em 1989, na edição número oito da revista Sandman, de Neil Gaiman. Nas histórias de Sonho. Os dois fazem parte da família dos Perpétuos, que acompanham a humanidade eternamente. Diferente de tudo o que se esperava, Morte é uma personagem divertida, carinhosa e gentil. Adora as pessoas e se preocupa com elas. E desde quando surgiu, a Morte não saiu mais de cena. De personagem coadjuvante nas histórias do irmão Sandman, Morte passou à estrela de suas próprias minisséries, com histórias ousadas e imprevisíveis.
A família dos perpétuos é composta por sete imortais anteriores à criação do universo. São todos irmãos: Morpheus, Destino, Delírio, Destruição, Desejo, Desespero e Morte. A personagem já foi desenhada por Dave Mckean, Chris Bachalo, Jill Thompson, Mike Dringenberg, entre outros. E se antes a imagem da morte na literatura, poesia, pintura era masculina, cadavérica, com um manto negro e uma foice ceifadora, o mestre dos quadrinhos criou uma personagem oposta da imagem estereotipada por quase todas as culturas. Na sua mensagem ela expressa o valor da vida, o quanto pode ser naturl e simples. Assim é uma forma diferente de entender e aceitar a Morte, como um fenômeno natural.
Sobre o tema Charles Chaplin escreveu um texto diferente de tudo o que se costuma escrever, confira: “A coisa mais injusta sobre a vida é como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo, ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante para poder aproveitar a sua aposentadoria. Aí curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade. Vai para o colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando, e termina tudo num grande orgasmo. Não seria perfeito!”. Perfeitíssimo Chaplin. Genial!

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