No prefácio de seu livro Tratado de Ateologia, Michel Onfray comenta que “em nenhum lugar desprezar aquele que acreditava nos espíritos, na alma imortal, no sopro dos deuses, na presença dos anjos, nos efeitos da prece, na eficácia do ritual, na legitimidade das encantações, no contato com as loas, nos milagres com hemoglobina, nas lagrimas da Virgem, na ressurreição de um homem crucificado, nas virtudes dos cauris (...) Em nenhum lugar. Mas em toda parte constatei quanto os homens fabulam para evitar olhar o real de frente. A criação de além-mundos não seria muito grave se seu preço não fosse tão alto: o esquecimento do real, portanto a condenável negligência do único mundo que existe. Enquanto a crença indispõe com a imanência, portanto com o eu, o ateísmo reconcilia com a terra, outro nome da vida”.
Ele lembra que “por causa do poder dominante da antifilosofia na historiografia oficial do pensamento, peças inteiras de uma reflexão vigorosa, viva, forte, mas anticristãs ou irreverenciosa, ou simplesmente independente da religião dominante, permanecem ignoradas, inclusive com freqüência pelos profissionais de filosofia fora um punhado de especialistas”.
Em seguida fala do antigo jesuíta português Cristóvão Ferreira que em 1936 escrevia o livro “A fraude revelada” onde afirma que a religião é invenção dos homens para garantir o poder sobre seus semelhantes. E que o abade Jean Meslier escreveu um volumoso testamento no qual achincalha a Igreja, a Religião, Jesus, Deus, mas também a aristocracia, a Monarquia... Meslier negou qualquer divindade, Holbach desmontou o cristianismo, Feuerbach desconstruiu Deus. Esses foram os esquecidos da história da filosofia dominante. Veio a seguir Nietzsche que revelou a transvaliação: o ateísmo não deve permanecer somente como um fim. Suprimir Deus, certamente, mas para fazer o quê? Uma outra moral, uma nova ética, valores inéditos, imprensados, pois impensáveis.
Para o filósofo os devotos têm o interesse em fazer passar o pior em relação ao ateísmo. “Persiste a velha idéia do ateu imoral, amoral, sem fé nem lei ética. O lugar comum pra o último ano do colegial segundo o qual ´se Deus não existe, então tudo é permitido´- refrão extraído de Os Irmãos Karamazov de Dostoievski – continua produzindo efeitos, e de fato a morte, o ódio e a miséria são associado a indivíduos que invocaria a ausência de Deus para cometer seus crimes”.
Onfray demonstra essa tese equivocada e explica que três milênios “testemunharam, dos primeiros textos do Velho Testamento até hoje: a afirmação de Deus único, violento, ciumento, briguento, intolerante, belicioso gerou mais ódio, sangue, mortes, brutalidade do que prazer. (...) A existência de deus, parece-me, gerou em seu nome muito mais batalhas, massacres, conflitos e guerras na história do que paz, serenidade, amor ao próximo, perdão dos pecados ou intolerância. Que eu saiba os papas, os príncipes, os reis, os califas, os emires em sua maioria não brilharam na virtude, e já Moisés, Paulo e Maomé esmeravam-se respectivamente, por sua vez, em assassínios, espancamentos ou saques – as biografias o testemunham. São todas variações sobre o tema do amor ao próximo...”.
A medicina ocidental adere de muito perto às exortações da Igreja (condena a transgênese, a experimentação em embriões, as mães de aluguel, os homossexuais, a clonagem reprodutora etc). E a máquina judiciária funciona como um mecanismo encontrado às portas do jardim do Éden sem se perguntar o que ele é, por que está ali, de que maneira funciona.
O judaísmo, cristianismo e islã partilham do ódio da razão e da inteligência; ódio da liberdade, da vida, da sexualidade, das mulheres e do prazer, do corpo, dos desejos e das pulsões. E defende a fé e a crença, a obediência e a submissão, o gosto pela morte e a paixão pelo além, o anjo assexuado e a castidade, a virgindade e a fidelidade monogâmica, a esposa e a mãe, a alma e o espírito. Equivale a dizer a vida crucificada e o nada celebrado. “Os padres das três religiões recusam que se pense e reflita por si mesmo, preferem dar a autorização aos prestidigitadores que o ofuscam o ouvinte com sua destreza em manejar a linguagem, exibir o vocabulário e esculpir as formulações” (...). “Este mundo não tem direito de cidadania, pois a terra inteira carrega o peso do pecado original até o fim dos tempos”.
Ele lembra que “por causa do poder dominante da antifilosofia na historiografia oficial do pensamento, peças inteiras de uma reflexão vigorosa, viva, forte, mas anticristãs ou irreverenciosa, ou simplesmente independente da religião dominante, permanecem ignoradas, inclusive com freqüência pelos profissionais de filosofia fora um punhado de especialistas”.
Em seguida fala do antigo jesuíta português Cristóvão Ferreira que em 1936 escrevia o livro “A fraude revelada” onde afirma que a religião é invenção dos homens para garantir o poder sobre seus semelhantes. E que o abade Jean Meslier escreveu um volumoso testamento no qual achincalha a Igreja, a Religião, Jesus, Deus, mas também a aristocracia, a Monarquia... Meslier negou qualquer divindade, Holbach desmontou o cristianismo, Feuerbach desconstruiu Deus. Esses foram os esquecidos da história da filosofia dominante. Veio a seguir Nietzsche que revelou a transvaliação: o ateísmo não deve permanecer somente como um fim. Suprimir Deus, certamente, mas para fazer o quê? Uma outra moral, uma nova ética, valores inéditos, imprensados, pois impensáveis.
Para o filósofo os devotos têm o interesse em fazer passar o pior em relação ao ateísmo. “Persiste a velha idéia do ateu imoral, amoral, sem fé nem lei ética. O lugar comum pra o último ano do colegial segundo o qual ´se Deus não existe, então tudo é permitido´- refrão extraído de Os Irmãos Karamazov de Dostoievski – continua produzindo efeitos, e de fato a morte, o ódio e a miséria são associado a indivíduos que invocaria a ausência de Deus para cometer seus crimes”.
Onfray demonstra essa tese equivocada e explica que três milênios “testemunharam, dos primeiros textos do Velho Testamento até hoje: a afirmação de Deus único, violento, ciumento, briguento, intolerante, belicioso gerou mais ódio, sangue, mortes, brutalidade do que prazer. (...) A existência de deus, parece-me, gerou em seu nome muito mais batalhas, massacres, conflitos e guerras na história do que paz, serenidade, amor ao próximo, perdão dos pecados ou intolerância. Que eu saiba os papas, os príncipes, os reis, os califas, os emires em sua maioria não brilharam na virtude, e já Moisés, Paulo e Maomé esmeravam-se respectivamente, por sua vez, em assassínios, espancamentos ou saques – as biografias o testemunham. São todas variações sobre o tema do amor ao próximo...”.
A medicina ocidental adere de muito perto às exortações da Igreja (condena a transgênese, a experimentação em embriões, as mães de aluguel, os homossexuais, a clonagem reprodutora etc). E a máquina judiciária funciona como um mecanismo encontrado às portas do jardim do Éden sem se perguntar o que ele é, por que está ali, de que maneira funciona.
O judaísmo, cristianismo e islã partilham do ódio da razão e da inteligência; ódio da liberdade, da vida, da sexualidade, das mulheres e do prazer, do corpo, dos desejos e das pulsões. E defende a fé e a crença, a obediência e a submissão, o gosto pela morte e a paixão pelo além, o anjo assexuado e a castidade, a virgindade e a fidelidade monogâmica, a esposa e a mãe, a alma e o espírito. Equivale a dizer a vida crucificada e o nada celebrado. “Os padres das três religiões recusam que se pense e reflita por si mesmo, preferem dar a autorização aos prestidigitadores que o ofuscam o ouvinte com sua destreza em manejar a linguagem, exibir o vocabulário e esculpir as formulações” (...). “Este mundo não tem direito de cidadania, pois a terra inteira carrega o peso do pecado original até o fim dos tempos”.
2 comentários:
Bom dia Gutemberg. É interessante corrigir o ano em que Cristóvão Ferreira escreveu "A decepção revelada": foi 1636 e não 1936. Isso dá uma outra dimensão significativa ao texto de Cristóvão.
Um abraço.
Um dos questionadores: Cristóvão Ferreira, antigo jesuíta, autor de A Decepção (Fraude) Revelada (p.18, ano 1636), onde ele afirma:
“Deus não criou o mundo; aliás, o mundo não foi criado; a alma é mortal; não existe nem inferno, nem paraíso, nem predestinação; ... o cristianismo é uma invenção; o decálogo [os Dez Mandamentos], tolice impraticável; o papa, personagem imoral e perigoso; o pagamento de missas, as indulgências, a excomunhão, as proibições alimentares, a virgindade de Maria, os reis magos, tudo lorotas; a ressurreição, conto despropositado, risível, escandaloso, uma enganação; os sacramentos, a confissão, bobagens; ... o juízo final, um delírio...A religião? Invenção dos homens para garantir o poder sobre seus semelhantes”.
A Bíblia, não caiu magicamente do céu, nem chegou por fax. O homem a criou como relato histórico de uma época conturbada e se desenvolveu com incontáveis traduções, acréscimos e revisões e sem uma versão definitiva. Foi escrita com a finalidade de “restabelecer o reino de Deus em Cristo”. A história é de fato escrita pelos vencedores, é uma história conveniente (com muitas semelhanças com o livro sagrado Zend Avesta dos antigos persas). Sempre fez parte do arsenal de manipulação política para suas próprias vantagens. Não me admira que ainda existam pessoas que acreditam que os “velhos Adão e Eva” tenham sido personagens reais, que Deus teria criado a Terra e tudo que há nela é obra Dele. Há cerca de seis mil anos as pessoas contam as gerações desde Adão e Eva até o presente. Na mitologia de que Jesus nasceu de uma virgem, realizou milagres, morreu e ressuscitou voltando do mundo dos mortos. Acreditam que o Dilúvio existiu e que os fósseis seriam marcas de animais que não haviam encontrado mais lugar na Arca de Noé... e desconhecem os Evangelhos Apócrifos e mitologias.
Postar um comentário