A questão ecológica já frequenta as
páginas das histórias em quadrinhos desde o início de 1980, década que marcou a
ascensão dos quadrinhos adultos. Muitos autores se preocupam com o meio
ambiente e discutem em suas obras a melhor maneira de como a civilização pode
continuar a viver, sem que, para isso, a natureza deixe de existir. Com a onda
verde que atingiu os meios de comunicação, a ecologia entrou com mais força nos
gibis. Basta lembrar o Monstro do Pântano, Homem Animal, Orquídea Negra, o
caipira Chico Bento, o baiano Mero, dentre outros.
Um personagem obscuro e com poucas
histórias publicadas nos anos 1960 surgiu através dos traços de Carmine
Infantino. Trata-se do Homem Animal,
cujo poder era a capacidade de absorver as características de animais que
estivessem por perto. A partir de 1988, o argumentista inglês Grant Morrison
iniciou a sua versão do herói e, em pouco tempo, a revista Animal Man passou a
ser uma das mais elogiadas pela crítica e público. Motivo: as histórias têm
sido a sua aproximação real com os animais, não apenas para extrair poderes,
mas para sentir o que eles sentem. A partir daí, Morrison humaniza os animais
que aparecem nas histórias: um golfinho relata ao impressionado herói como foi
a festa anual da matança de uma aldeia de pesadores; a agonia de um chipanzé
aidético e estágio terminal, propositadamente contaminado pelo homem. O Homem
Animal se envolveu tanto com as causas ecológicas que, ao chegar em casa e
encontrar a geladeira cheia de pedaços de amigos seus, virou vegetariano. O
enredo é consistente, e os desenhos de Chas Troug e Doug Hazlewood, bem
estruturados.
Nenhum herói se envolveu tanto com as
causas ecológicas como o Homem Animal. Alterego de Buddy Bakder, o Himem Animal
era um personagem obscuro e com pouquíssimas histórias publicadas nos anos
1960, através dos traços de Carmine Infantino. Quando os agentes da DC foram
para a Inglaterra em busca de talentos para os gibis americanos, ficaram
surpresos ao contratarem o roteirista Grant Morrison. Ele queria o pior
personagem da editora, prometendo que o transformaria num grande sucesso. Em
pouquíssimo tempo, a revista Animal Man passou a ser uma das mais elogiadas
pela crítica e público entre os títulos mensais de super herói. O quinto número
da publicação recebeu na última votação anual, promovida entre os leitores,
pelo Comics Buyers Guide, a classificação de segunda melhor história do ano.
Uma prova que um autor é sempre melhor que os personagens que o cercam.
O leitor brasileiro começou a acompanhar
as aventuras do personagem no terceiro número da revista DC 2000, da Editora
Abril. Foi um experimento (da Vertigo/DC Comics) dos mais bem sucedidos com a
expansão do conceito de super-herói: Buddy Baker, o Homem Animal, embora um super-herói,
sofria dilemas e situações nada comuns. Na história de estreia – primeira parte
de uma minissérie em quatro edições – Buddy Baker, um pacato dublê de cinema
que abandonou o uniforme de super herói, resolve voltar à ativa. Seu superego,
o Homem Animal tem o poder de absorve e duplicar as habilidades do animal que
estiver mais próximo por apenas 3º minutos. Assim, ao passar perto de uma
formiga pode adquirir a força dela nas proporções humanas, perto de um cachorro
pode obter o faro dele e assim por diante. O herói não se transforma nos bichos
como no seriado televisivo Manimal, apenas adquire os poderes.
Desempregado, com filhos, Buddy resolve
retomar sua carreira por estar cansado e ser sustentado pela esposa. Mas as
pessoas não o levam muito a sério, preferem os outros super herois mais
conhecidos. O personagem tem uma aproximação real com os animais, não apenas
para extrair poderes, mas para sentir p que eles sentem. Começam aí os
problemas. E tudo vai e complicando logo na sua primeira aventura. O herói
atende ao chamado de um laboratório de experiências que contaminou um chipanzé
com o vírus da Aids. Como ficar impassível diante de um animal aidético, em
estágio terminal, propositalmente contaminado pelos humanos?
Quando o Homem Animal chega em casa e
encontra a geladeira cheia de pedaços de amigos seus, o a que sente? Buddy
briga com a família, quer torna-los vegetarianos e passa a adotar atitudes
pouco comuns para um super herói, como ajudar ações ilegais do Green Peace. A
cada aventura, Morrison humaniza os animais. Assim, a atual onda ecológica deve
muito ao sucesso do Homem Animal, escrita por Grant Morrison e desenhada por
Chas Trouog e Doug Hazlewood.
Na saga “O Evangelho do Coiote”,
Morrison mergulha, por meio do personagem, num universo alheio ao gênero de
super-heróis, embora lidando essencialmente com um. “O Evangelho do Coiote” retrata a realidade
como algo existente em camadas, na verdade em pluralidades e, como tal, as
realidades existem para além da percepção unidimensional do leitor/leitora para
com histórias em quadrinhos, mas também da própria história em quadrinhos para
com o leitor/leitora. Morrison, em “O Evangelho do Coiote”, mergulha nessa fina
e delicada transição de realidades por meio do Coiote, na HQ chamado de “Astuto”,
que personifica um coiote saído diretamente de outra mídia. E nessa transição
entre autor/obra artística/leitor-leitora, experimentamos página a página,
quadro a quadro, a “ponta do iceberg” da nossa realidade para com a realidade
de Buddy Baker. É o ápice da metalinguagem em Homem Animal.
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