26 junho 2008

De olhos abertos ao real

No mundo global saturado pelos meios de comunicação, existe uma super produção de imagens da realidade. Assim, a realidade é socialmente fabricada, os imaginários culturais são parte dessa realidade. Nosso acesso ao real e à realidade somente se processa por meio de representações, narrativas e imagens. Com o esmorecimento das vanguardas e a fragmentação de agendas políticas, o realismo crítico emerge em diferentes vertentes, tecendo um contraponto com o realismo sentimentalizado das telenovelas, o realismo mainstream dos filmes de Hollywood, o realismo sensacionalista da imprensa, o realismo espetacularizado dos reality shows, entre muitos outros.

Essa modernidade promoveu um desencantamento do mundo na medida em que negou o mágico, mítico, misterioso e oculto. Esse desencantamento do mundo gerou uma crise de sentidos, na medida em que a ciência e a técnica não seriam mais capazes de oferecerem explicação sobre o significado da existência humana. E é aí que entra o processo de criação de instituições de vigilância, purificação e disciplina, configuradas em âmbitos espaciais específicos, tais como a escola, a fábrica e a prisão. O indivíduo moderno se auto constrói mediante interiorização das normas vigilantes sociais. O pensamento é de Michel Foucault.

Nas últimas décadas os debates em torno da cultura do espetáculo (Guy Debord, 1967), da desaparição do real pela produção do simulacro (Jean Baudrillard, 1983) ou a crítica à perda do sentido da história por meio do pastiche midiático e artístico (Fredric Jamenson, 1991) são parte central das discussões sobre a condição pós-moderno que enfatiza a porosidade entre o vivido e o imaginado; entre a experiência e a produção da realidade pelos meios de comunicação; entre a memória pessoal, histórica e coletiva e as memórias imaginadas dos meios de comunicação.

Ao articular sua crítica à sociedade capitalista ocidental, as imagens imperam, impõem o domínio da aparência e fomentam a alienação social já que dinamitam agenciamentos sociais em prol das fabricações visuais que não convidam ao diálogo, mas à mera passividade da absorção comunista. Para Baudrillard, as perspectivas de agenciamento político foram completamente esmagados pelo domínio não mais da mera imagem, mas do simulacro midiático. No mundo do simulacro não há mais real nem realidade,
somente cópias e imagens autônomas, que não possuem lastro do real.


As noticias televisivas, por exemplo, que comentam eventos, atentados, estariam na plena ordem do simulacro, porque atuam em esfera própria, fabricando enredos próprios como num jogo virtual. Já Jamenson questiona o pós-moderno como um estágio no desenvolvimento do capitalismo tardio, marcado pelo desaparecimento da natureza e o apagamento do sentido da história. Estaríamos rendidos aos jogos híbridos dos parques temáticos e dos shopping malls. Assim, tudo se consuma e se neutraliza na circulação de um presente saturado de mercadorias, imagens\e realidades mediadas.

Se já não há crenças nem tomadas de posição revolucionárias nesse presente de banalidade do cotidiano, da descartabilidade do sujeito para atiçar uma sublimação da experiência com algo revelatório, o que apostar?. Nessa proliferação midiática, da perda de espaços públicos, do esgarçamento de experiências coletivas, nem todos sucumbem inteiramente à cultura do espetáculo. Há sempre uma brecha, um fio onde o real e a realidade são arduamente contestados e fabricados. Resta-nos abrir bem os olhos para essa realidade que nos apresenta.

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