25 abril 2013

De volta ao passado (2)



Na juventude conheci a bibliotecária Denise Tavares, tão dedicada na tarefa de cuidar dos pequenos e sua biblioteca para aumentar ainda mais o hábito de leitura. E para ajudar em suas tarefas, ministrei diversas palestras sobre histórias em quadrinhos no local, uma vez que tinha fundado um clube de historias em quadrinhos com os amigos do bairro. O clube realizava exposições de personagens de quadrinhos, palestras para mostrar como o leitor de quadrinhos pode criar hábitos de leitura e, mais tarde, passar a ler os grandes romances. E Denise Tavares dava a maior força e acreditava no poder dos quadrinhos para o hábito da leitura. Ela era uma das poucos na época, pois a maioria criticava os gibis.


O professor Adroaldo Ribeiro Costa também era um dos que defendia a HQ, tanto que ele passou a ser o nosso presidente de honra. Fizemos uma exposição no Instituto Educacional Isaías Alves (ICEIA) e um debate com todos que acusavam e defendia os gibis. Um sucesso.

No debate conseguimos vencer fácil os argumentos preconceituosos de que quadrinhos era coisa para crianças, ou porque tinha fantasia, ou mesmo violência etc. E se fosse como eles afirmavam teríamos que acabar com os contos de fadas, a literatura infantil, os jornais diários e a tevê porque nesses veículos fantasia tão necessária a criançada, a violência quotidiano que não pode ser desassociada da realidade. E o que vemos hoje são crianças que não tem oportunidade de sonhar, de fantasiar sua infância, de viver seu tempo.

LEITURA

Na minha adolescência li Hermann Hesse (1877-1962), escritor alemão que depositou no fim dos anos 60, do movimento hippie e das culturas alternativas. Seus livros Sidarta, O Lobo da Estepe, Demian entre outros foram decisivos em minha formação. Verdadeiro artesão da linguagem, ele transmite suas ideias filosóficas místicas marcando a geração da contracultura dos anos 70, bem diferente da profunda e modificada intelectualidade de seu amigo Thomas Mann.

Na minha época cultuava-se o professor, ou seja, eles eram respeitados e valorizados. Na escola modelo Centro Educacional Carneiro Ribeiro, Escola Parque, tive a felicidade de conhecer grandes mestres que ensinaram lições essenciais de vida. O professor era um educador. E a minha professora de Português, Emilia que me ensinou a amar os livros, a leitura e eu me aprofundava em Érico Veríssimo (e seus romances magistrais), Monteiro Lobato (com suas narrativas geniais), Malba Tahan (e suas lendas orientais), José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Jorge Amado e tantos outros, os poemas de Carlos Drummond de Andrade, Mário Quitana e Cecília Meireles, os contos de Anibal Machado, Machado de Assis entre outros alimentavam minha alma juvenil. Claro que eu li gibis, e muitos, misturado aos livros, tudo transformador, híbrido, mutante.

A Escola Parque, com suas formas arquitetônicas e seus bens culturais artísticos, são testemunho do projeto de modernização e de educação integrada elaborado por Anísio Teixeira, que visavam à formação do indivíduo não somente com as matérias fundamentais, mas também acesso às artes, em suas diversas expressões, à cultura, à sustentabilidade, à integração com a natureza, bem como ao ensino profissionalizante. A Escola Parque é tombada pelo Estado como Patrimônio Cultural da Bahia, via IPAC, desde 1981.

Na juventude não posso esquecer o universo exuberante do escritor Colombiano Gabriel Garcia Marquez em Cem Anos de Solidão. A narrativa da mística cidade de Macondo e seus habitantes quase desmemoriado e de comportamento anacrônico capaz de deixar um rastro de borboletas amarelas. Era o realismo mágico que sempre me fascinou (e que veio a mim dos quadrinhos), uma forma de protesto que escapava à censura e com Márquez conheci o peruano Mário Vargas Llosa, o cubano Alejo Carpentier e os argentinos Júlio Cortazár (que inclusive flertou com as histórias em quadrinhos) e Jorge Luís Borges. Também me fascinou, na época, Encontro Marcado, de Fernando Sabino.

Há autores que ficam enquadrados em diferentes gêneros e épocas e estilos, outros tornam-se eternos no presente dos seus leitores, pois seu texto respira livre – como Machado de Assis, Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Oswald de Andrade, Thecov. São escritores que trazem palavras mantricas, transparentes ao não dito. Que se liberta das etiquetas, e percebe o fenômeno sem nome dar vida, respirado no corpo sem órgão, como dizia Euclides da Cunha.

É uma pena que no Brasil, e pior ainda, na Bahia, os escritores não tem boas oportunidades de mostrar seu trabalho. A leitura, e ainda mais a leitura de literatura, não faz parte do cotidiano das pessoas.

E na religião  a mensagem de Cristo revolucionou o mundo grego e romano ao unir as duas pontas, trazendo a para o plano da história. A vida humana está cercada ou oprimida por três tipos de  medo que nos impedem de ter uma vida boamedos sociais, medos psíquicos (fobias) e medo da morte. A religião oriental prepara todos para a hora da morte. A ocidental não, teme cada vez mais.

Todas as grandes filosofias são doutrinas de salvação sem Deus. Prometem que poderão se salvar por conta própria e por meio da razão. As religiões prometem que poderemos alcançar a salvação, mas mediante um Outro (Deus) e mediante a (e não pela lucidez da razão). Para alcançar a serenidade, é preciso conseguir vencer os medos e podemos alcançá-la com nossas próprias forças.

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Canções da música popular que ouço o tempo todo (Vol.9)
 
Disritmia, Zeca Baleiro (Vô Imbolá)
Isto é bom, Mariene de Castro (Tabaroinha)
Fico assim sem você, Adriana Calcanhoto (Adriana Partimpim)
Quiquiô “Kykyo” e Madre Latini, Dani Lasalvia (Madregaia)
Aroma da Vida, Carlinhos Brown (Agente Ainda não sonhou)
Ai di ti Copacabana, Alceu Valença (Na Embolada do Tempo)
Há mulheres, Rita Ribeiro (Pérolas aos Povos)
Mãe natureza, Kid Abelha (Pega Vida)
10 minutos, Ana Carolina (Nove)
Bubuia, Céu (Vagarosa)

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Sete anos de blog


Há sete anos que venho escrevendo este blog diariamente. Surgiu no dia 25 de abril de 2006, abrangendo uma infinidade de assuntos que vão desde cinema, música, quadrinhos, poesia, ideias, fotografias, filosofia, artes plásticas, cidadania, enfim, tudo que acontece em nossa aldeia global.

Criado como uma ferramenta para publicação de diários pessoais na internet, os weblogs, ou simplesmente blogs, estão sendo cada vez mais usados por jornalistas para publicar, de forma ágil, informações e opiniões.

Blog é um termo criado pela abreviação da união das palavras inglesas Web (rede) e Log (diário de bordo). Na versão básica é, portanto, um diário eletrônico publicado via internet. Similar a um site, sua popularidade se deve a dois fatores: facilidade no manuseio e possibilidade de interatividade.

790.421 pessoas já visitaram este blog. A contagem é feita desde que a página foi criada, em 25 de abril de 2006. Agradeço ao público leitor que acompanha minha trajetória neste escreviver diário.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras, 28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

24 abril 2013

De volta ao passado (1)



Desde bebê, minha mãe me tornou a rocha sobre a qual construir minha vida de jovem adulto. Foi ela que incentivou os estudos, pois meu pai era puro trabalho. Sua padaria era sua vida e, com o tempo, tornou-se o pão mais popular do bairro. Pela manhã, bem cedinho havia fila para comprar seu produto. Minha mãe, muitas vezes, escondida, pegava vários pães para distribuir aos necessitados. Diante do excesso de trabalho para manter na família numerosa meu pai era uma pessoa fria, distante e exigente. Um homem rude, afinal. Era a imagem que fazia dele, mas um trabalhador árduo, sistemático e emotivo, muito. Meu pai era um homem difícil, de barulhos silenciosos e murmúrios intrigantes. E tinha o hábito de tomar banho frio de madrugada.

Assim, para não sair igual a ele, brutalizado pelo trabalho, procurei estudar o máximo possível (mesmo contra sua opinião que achava que quem estudava muito ficava louco ou mesmo suas indagações de que a História era um monte de bobagens, pois quem escrevia era o vitorioso, quem contaria a história do perdedor? onde está a verdade nisso tudo?, questionava) para investir em um único aspecto da vidaa profissão.

Quando esse aspecto ficava repentinamente ameaçado ou perdido, a dor vindo da infância ressurgia. Brinquedos? nem pensar..., não havia economia para esse objeto do desejo e luxo numa infância pobre. Enquanto sonhava em ter um trenzinho (do tipo Autorama) ou o famoso Forte Apache, fazia meus próprios brinquedos com latas de sardinha (e haja latinhas para o trenzinho) ou mesmo uma velha tábua com rodinhas de rolimã para fazer o patinete. Na minha infância brincava ainda de bolinhas de gude,  furapé, guerreou ou empinar arraia (pipa).
 
Como não tinha brinquedos de loja, o jeito era improvisar e a diversão era com todos os garotos de rua, compartilhando tudo, no velho Corta Braço, hoje Pero Vaz, o quintal do bairro da Liberdade, tão pobre e esquecido pelas autoridades. O bairro do Pero Vaz surgiu na segunda metade dos anos 40, época em que a invasão começava a se formar, nos limites do bairro da  Liberdade. Na época, o povo pobre lutava para construir e manter sua moradia numa área de terra invadida. O pobre pouco saia do bairro por força de um obstáculo muito forte – a renda. É como o professor Milton Santos deixou claro que “o espaço é a morada do homem e também pode ser a sua prisão”.

 Assim era Salvador que persiste e outra que mudou. A que deixou de existir é aquela dos saveiros, das roças e fazendas, dos bondes. Já a Salvador que continua, e persiste, é a cidade das grandes desigualdades sociais, da segregação espacial, da fome e da exclusão. Tudo isso disfarçado numa alegria que escamoteia toda a miséria reinante. Temos coisas boas em nossa cidade e são patrimônio do povo, mas nossos governantes deixam a desejar diante de uma falta de educação mais eficaz.

Na adolescência conseguir juntar alguns trocados para a sessão da tarde nos cinemas São Jorge ou Liberdade, e, de vez em quando no cine Pax, na Baixa dos Sapateiros. Antes das sessões dos seriados havia troca de gibis, e não faltava revista do Flecha Ligeira, Cavaleiro Negro, Fantasma, Roy Rogers, Tarzan, Popeye, Brucutu entre outros. Era uma felicidade total a troca de gibis. Os olhos brilhavam com aquelas aventuras dos heróis da nossa infância, do nosso imaginário. E como sonhava com aqueles gibis. Muitas vezes esquecia de toda aquela pobreza em volta para sonhar com esses mitos, esses deuses de nossa imaginação.

Foram essas pequenas ações que fazia esquecer as feridas, a da infância, suportável mesmo que seja permanentemente sentida. Não deixei que minha vida escorregasse por entre os dedos por ter nascido em uma família pobre, analfabeta e quase desajustada. Isso me fortaleceu para não repetir os erros dos meus pais. Amúsica da minha vidapassou a ser os estudos, seguida do trabalho. Ai é que foquei no jornalismo, na época, aventura, mas acima de tudo, participar da vida comunitária.

Dar sua parcela de contribuição na sociedade. E o jornalismo era o mais próximo. Meus colegas preferiramprofissões mais resistíveis ou respeitadascomo médico, engenheiro, arquiteto, odontólogo. Eu não, tinha decidido aquilo que mais queria, tanto é que no ginásio produzia o jornal do colégio do IAPI, o Bicão (gíria da época) onde discutia os rumos da educação, fazia parte do grêmio e discutia com os professores os assuntos da sala de aula.

E era um custo ter um livro nas mãos, porque faltava dinheiro. Até hoje lembro a primeira vez que saí do distante bairro do Pero Vaz para conhecer no bairro de Nazaré a Biblioteca Infantil Monteiro Lobato. Que felicidade ao ver aquele casarão belíssimo cheio de livros. Fiquei muito emocionado. Aquilo parecia até que tinha ido a Disneylândia, o paraíso das crianças endinheirada da época. Sim a Biblioteca Infantil Monteiro Lobato foi minha Disneylândia. Ficava horas passeando com olhos aqueles livros encantadores. Sonhava em morar perto dali, era um desejo fortíssimo. E não é que, décadas depois, esquecendo do fato, fui morar e ainda moro ali pertinho.

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Canções da música popular que ouço o tempo todo (Vol.8)

Livre outra vez, Rita Lee (Zona Zen)
Afoxe do Garcia, Pepeu Gomes (Ao Vivo)
Avôhai, Zé Ramalho (Ze Ramalho)
Cara de indio, Djavan (Djavan)
Matinada, Fagner (Raimundo Fagner)
Amigo, Diana Pequeno (Diana Pequeno)
Lady Jane, Olivia Byington (Corre o Risco)
Como uma onda, Lulu Santos (Ultimo Romantico)
Qual é?, Marcelo D2 (Acústico)
Mutirão da vida, Xangai (Mutirão da Vida)

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras, 28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)