04 junho 2009

Culto do falo (2)

O pênis não foi simplesmente exaltado em Atenas – ele foi exposto. A reverência pela forma masculina foi personificadas em milhares de estátuas de rapazes nus, espalhadas pelo mundo grego. “Na Grécia”, escreveu Michel Foucault em História da Sexualidade, “a verdade e o sexo estavam ligados na forma da pedagogia pela transmissão de conhecimento precioso de um corpo a outro corpo; e sexo servia como meio para iniciações na aprendizagem”.

Não foram os padres da Igreja e sim os filósofos estóicos, como Sênica, que começaram a chamar os órgãos genitais de “partes vergonhosas”, ou pudendas (os gregos diziam cidia).
A partir do século V Agostinho pregava que o homem adoeceu pela luxúria e o sêmen e, então, estabeleceu a Igreja como o Grande Médico Espiritual. As opiniões negativas de Agostinho sobre ereção, sêmen e natureza humana se tornariam “a influência dominante no cristianismo ocidental, católico e protestante, e dariam o tom de toda a cultura ocidental, cristã ou não”, informou Elaine Pagels.

O pênis mudou-se para outro lugar. Depois de homenageado como motor da vida pelos homens que construíram as pirâmides e o Panteão, depois de reverenciado como o deus interior pela tribo do deserto que introduziu no Ocidente o monoteísmo e a idéia do Messias, esse “caule sagrado” foi derrubado de seu pedestal e apagado do léxico cultural ocidental. O seu lugar foi ocupado pela “vara do demônio”, o corruptor de toda a humanidade.
O pênis na Europa medieval, geralmente estava longe dos olhos, mas nunca longe do pensamento. A vara do demônio tornou-se uma obsessão da Igreja na literatura conhecida como penitencial. Tendo se originado na Irlanda do século VI, esses manuais para confessores definiram o comportamento cristão – especialmente o comportamento do pênis. Os penitenciais procederam da idéia agostiniana de que sexo era pecaminoso justamente em relação ao prazer que gerava.
Tomás de Aquino perpetuou a atribuição de características demoníacas ao pênis, que começou com Agostinho e culminou em um dos períodos mais feios da história. Ele contribuiu para o estabelecimento da histeria da bruxaria.
IDADE MÉDIA
A crença do homem, na Idade Média, em sua integridade física era tão vacilante que alguns ostentavam a braguilha sobreposta no gancho de seus calções, geralmente décor viva e acolchoada, moldada na forma de uma ereção permanente. “A primeira peça na armadura de um guerreiro”, disse Rabelais. Em 1536, o rei Henrique VIII, dono da braguilha mais volumosa da Inglaterra, decapitou sua segunda esposa, Ana Bolena, antes cortesã, que ele denunciou como feiticeira depois de perder o interesse sexual por ela – ou terá sido a capacidade de ereção?. A misogenia, em suas expressões sutil e bestiais, provavelmente fornece, de modo geral, a resposta. O que havia era uma permanente obsessão cultural com o pênis, as inseguranças que gerava e o mal que poderia fazer.
A masturbação “proclama a independência do macho”, escreveu John H. Gagnon e William Simon em “Sexual Condut”. “Concentra o desejo sexual masculino no pênis, por causa da centralização da genitália nos domínios físico e simbólico (...). A capacidade de ereção é um sinal importante” a maioria dos homens diria o sinal mais importante – “de virilidade e controle”.
Os pregadores do século 17 afirmavam que a masturbação era o mais grave pecado contra a natureza, pois acarretava fraqueza física, incapacidade para o casamento e abreviava a vida, levando ao suicídio. Com o Iluminismo, a condenação muda radicalmente de sentido. A masturbação não é mais uma “falta” apenas, ela se torna uma “doença”. No século 19 a idéia fixa médica do onanismo como doença beirou o delírio e justificava todo tipo de recomendações, admoestações e ameaças dirigidas aos jovens. O discurso médico refletia as fantasias da classe burguesa, em vias de se tornar a nova classe dominante.
Há diversos nomes para a masturbação: servir-seda mão, punhetear, polir o instrumento, pelar o ganso, os cinco contra o careca, onanismo, matar o zezinho, glorioso, empinar a pipa, descascar o pepino, descascar abanana, amolar a ferramenta, bater bronha, tocar pífano, tocar aflauta, vício solitário...
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um estado d´alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Roha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela)


03 junho 2009

Culto do falo (1)

Desde o período paleolítico, a imagem do pênis é encontrada nas paredes das cavernas. Ela volta com força no neolítico, especialmente na forma de megálitos (pedras monumentais erguidas em tempos pré-históricos) muito fálicos. Nessa época, o homem se torna sedentário e passa a desenvolver a agricultura.

Nas culturas pagãs que precederam o cristianismo, o elo entre o humano e o sagrado, um agente do êxtase físico e espiritual que aludia à comunhão com o eterno. Mas também era uma arma contra as mulheres, crianças e homens mais fracos. Era uma força da natureza, reverenciada por sua potência, ainda que não menos amoral. Unia o homem à energia cósmica que cobria os campos todo ano com novos rebanhos e safras – e, com a mesma freqüência, os destruía.

Desde o começo da civilização, o pênis foi mais do que uma parte do corpo. Foi uma idéia, na medida-padrão conceitual, ainda que real, do lugar do homem no mundo. Há séculos, o falo é símbolo de poder e glória. Oscilando entre o sagrado e o profano, já foi motivo de orgulho e vergonha, mas jamais saiu do centro das atenções humanas.
Mito e religião conviveram em paz com o pênis durante toda a Antiguidade. “Egípcios, gregos, romanos usavam a imagem do falo para representar as forças criadoras e fecunda do Universo, o poder gerador da natureza”, diz Bayard Fischer Santos, médico andrologista de Porto Alegre (RS), autor do livro A Medida do Homem.
CULTURA DA VENERAÇÃO
Algumas culturas, antigas e modernas, veneram, esculpem e usam o pênis como pingentes. Outras, como a nossa cultura judaico-cristã, consideram melhor pra todos os envolvidos mantê-lo escondido. Do período neolítico, quando os homens descobriram qual era o seu papel na concepção, até o cristianismo se espalhar pela Europa, quase todas as culturas tinham deuses com pênis notórios.
Os gregos tinham vários deuses do pênis. Priapo era um deles, Dioniso, outro. Ainda havia Hermes que é uma palavra para pênis em grego. Baco, também chamado de Líber, era o deus do pênis em Roma. Osíris, o deus egípcio do pênis. Shiva era o deus indiano. Em lugares antigos, tão variados e distantes como Índia, Japão, Grécia, Roma e Grã Bretanha, havia festivais anuais em homenagem aos deuses do pênis. Imitações de pênis imensos eram carregadas pelas ruas, as pessoas usavam máscaras de pênis e as celebrações geralmente terminavam em orgias.
Enquanto os deuses do pênis reinavam, os monumentos fálicos se espalhavam pela paisagem. Os egípcios levantaram obeliscos, com extremidade em forma de pontas de pirâmide. Alguns sobreviveram – entre eles, a Agulha de Cleópatra, realocada para o Central Park, em Nova York, e outro para a represa de Londres.
Nas sociedades que praticavam a veneração fálica, os falos quase sempre enfeitavam os objetos do dia-a-dia. Eles eram comuns em pinturas de vasos da Grécia Clássica, que regularmente tinham jogos sexuais como tema – somente entre mortais, e entre mortais, sátiros e deuses. Nas escavações das ruínas de Pompéia, o falo era o motivo condutor. A especialidade da antiga cultura peruana, mochica, era vasos com falos servindo de bicos.
O xintoísmo, a religião original do Japão, se relaciona intimamente com a natureza e a veneração fálica é a veneração à força da vida. O Japão vem a ser cheio de pedras naturais com formato de pênis. Eles são tidas como pedras mágicas, com poderes de proteção. Há santuário de pedras fálicas por todo o país.
Através das eras, artistas desenharam e pintaram ereções e atos sexuais de vários tipos. Mas o Ocidente judaico-cristão essas obras eram consideradas pornográficas. Muitas são mantidas em segredos por seus proprietários e grande parte do restante está nos acervos dos museus, em coleções especiais. Entre os artistas famosos estão obras de Leonard da Vinci, Thomas Rowlandson, Egon Schiele, Toulouse-Lautrec, Cocteau, Dali, Picasso e muitos outros. Na fotografia há obras polêmicas de Robert Mapplethorpe ou de desenho erótico de Tom of Finland. Nos quadrinhos temos o nosso Carlos Zéfiro ou mesmo Milo Manara, Robert Crumb, Serpieri..

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02 junho 2009

História da Vagina (2)

“A religião – o sistema de crenças de uma sociedade – sempre é um assunto controverso. E, ao examinar como no passado as diversas religiões viam a genitália feminina, descobri as posições mais polarizadas. De um lado, o Ocidente, com sua atitude que considera a vagina como a porta do inferno, a fonte de todos os problemas e sofrimento neste mundo, e a desgraça em potencial do homem. Aqui a vagina era algo a ser temido, ridicularizado e abominado. Entretanto, oposto a isso havia os sistemas de crença originários da Índia e da China. Estes ensinavam que a genitália feminina era a origem simbólica do mundo, a fonte de toda nova vida e a via pela qual se poderia obter longevidade e a vida eterna. Aqui a vagina era um ícone a ser venerado, amado e honrado. A divina vagina. E, caso eu não conseguia acreditar nessas palavras, havia uma abundante e bem visível arte vaginal – pintores, escultores, gravuras –confirmando que essa era a forma com que muita gente, em culturas extremamente variadas, havia concebido milhares de anos”, afirmou.

Enquanto no Ocidente a vagina é tão desvalorizada e a sexualidade feminina reprimida, a etnografia dos últimos 100 anos mostra como é diferente o que ocorre em várias outras culturas. Nas Ilhas Marquisas, Ilha de Páscoa, Ilhas do Pacífico, Polinésia, os genitais femininos são valorizados – é frequente que o clitóris, os pequenos e grandes lábios sejam manipulados e alongados artificialmente e enfeitados com piercings, tendo como objetivo sua maior capacitação para o prazer sexual. A autora termina a obra com amplas considerações sobre o orgasmo feminino.

O livro é um guia meticuloso sobre o sexo feminino. Blackledge não se poupou esforços para realçar o papel que a vagina tem na nossa vida, chamando a atenção para o fato de esse papel ter sido subalternizado durante séculos, não só devido aos conceitos morais vigentes, liderados por homens, mas também devido a uma certa cegueira científica. A Ciência ignorou muitos fatos sobre a importância da vagina já detectados pelos Antigos. Neste particular, o papel obscurantista da Igreja é notável.
Blackledge encontrou coisas curiosas, como a ligação entre chifres, fertilidade e útero. Os médicos sabem que, segundo a anatomia humana, o útero tem cornos. Diz a autora: “A associação entre um homem corneado e chifres prevalece em toda a Europa meridional. Em português (cornudo ou cabrão), em espanhol (cornudo), em catalão (cornut ou cabroni), em francês (cocu) e em grego (ketatas), a palavra para a pessoas corneada quer dizer ´o que foi corneado´ ou áquele que transporta chifres´ (...) E significativo que esse termo que transporta a homen, nunca a mulheres”.

A autora procura também decifrar o significado das palavras relacionadas com a vagina, dedica páginas e prazeres ao clitóris. O papel da vagina na relação sexual é bem destacado pela autora, e da exemplos curiosos: “O escritor francês Gustave Flaubert refere-se\com entusiasmo aos seus encontros com as prostitutas profissionais exiladas na cidade egípcia de Esneh: ´a sua cona ordenhahava- me como rolos de veludo – eu enlouquecia”.
Através do mundo, Shilihong era uma profissional de sexo de Xangai famosa pelo seu excepcional controle dos músculos vaginais. Consta que era capaz de movimentar o pênis do homem para dentro e para fora, simplesmente contraindo e relaxando os seus músculos, movimento que produzia uma sensação de sucção. Diz-se igualmente que a “chupeta de Xangai”, de Wallis Simpson, foi um dos motivos pelo qual a Grã-Bretanha perdeu um rei em 1936. Comentava-se que a Sra. Simpson conseguia que um palito de fósforo se sentisse um charuto de Havana.
A importância do cheiro para as relações bem sucedidas não foi esquecida na obra. Quando uma mulher diz “este tipo não me cheira”, é natural que a relação não avança. O chamado ponto G (aquele que, estimulado, provocaria, o orgasmo da mulher) e outros são abordados sem subterfúgios. Dessa forma Catherine Blackledge contribuiu para derrubar as barreiras e repressão que ainda persistem e constrangem tanto as mulheres. Que essas barreiras e repressões são resistentes dão provas o fato de que a autora, que demonstra tanta bravura no corpo de seu livro, não ousa escrever o título com todas as letras.
Até recentemente as fêmeas de muitas espécies eram tidas como monógamas, preferindo acasalar-se com apenas um macho. Sabe-se agora que tal teoria está errada – as fêmeas da maioria das espécies são polígamas, preferindo acasalar-se com vários machos. Na realidade, a idéia da fêmea monógama era uma noção científica decorrente de uma ideologia, não dos fatos. A ideologia, neste caso, era a idéia ultrapassada que as fêmeas conseguiam e não deveria sentir desejo e prazer sexuais, como os machos podiam e conseguiam. A pesquisadora observa que para entender as teorias científicas deve-se examinar a cultura que as cria.
E ela analisou como a ciência, a medicina e a anatomia ocidentais têm visto a vagina. Doutrinas antigas e arbitrárias determinaram que o homem era a medida da mulher, e que o pênis dele era o padrão de medida da genitália dela. O resultado dessa lógica foi que os anatomistas do Renascimento viram-se proclamando que a vagina era um pênis subdesenvolvido e virado do avesso, que os ovários eram testículos, o útero era um escroto e o clitóris também era um pênis. E fizeram isso a despeito de uma notável evidência em contrário, porque tinham que repetir o que as autoridades de plantão lhes mandavam dizer.
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01 junho 2009

História da Vagina (1)

Uma viagem pelas diferentes concepções culturais em torno do órgão sexual feminino. A historia da V – Abrindo a Caixa de Pandora (Editora Degustar) é o título do livro da jornalista britânica Catherine Blackledge, especializada na cobertura de Ciência. Ela decidiu se dedicar ao livro por considerar que a vagina é o mais nebuloso, mitológico e incompreendido órgão do corpo humano.

“Este é um livro sobre concepções de vagina. Concepções nada ortodoxas, concepções coloridas, concepções cintilantes e concepções revolucionárias. Nestas páginas, você encontrará perspectivas vaginais provenientes de uma ampla variedade de fontes. Concepções de vagina provenientes da ciência, da história, da mitologia e do folclore, da literatura e das línguas, e da antropologia e da arte. Meu objetivo é fornecer um quadro o mais completo e franco possível da genitália feminina. Uma fotografia tirada com uma lente grande-angular, se preferir. Espero que, devido a este livro, você nunca mais olhe para a vagina da mesma maneira que antes”, escreveu na introdução do livro.

Catherine Blackledge aborda a sexualidade feminina sob o prisma histórico, cultural, antropológico e fisiológico. Ela articula seus argumentos em prol da valorização da genitália feminina e do direito da mulher ao gozo sexual.
Ao longo da História, a Medicina apresentou mal a anatomia sexual da mulher e reduziu suas capacidades à noção de mero receptáculo passivo. A obra reúne os últimos achados científicos sobre a função do sexo feminino e o papel da vagina, tanto em relação ao prazer quanto à reprodução. Procura explicar também por que a simples menção da palavra “vagina” constrange os ouvintes ainda nos dias de hoje.
A autora mostra como as representações da vulva são muito mais antigas do que as do pênis nas pinturas rupestres, atribuindo esse fato ao tardio reconhecimento da importância do órgão masculino nos processos reprodutivos. Descreve antigas crenças relacionadas com a vagina, cuja exibição teria o poder de afastar o mal, proporcionar uma maior fertilidade nos animais, garantir a germinação das plantas, paralisar os inimigos – até mesmo o Diabo. Com o advento do cristianismo, houve uma grande reviravolta, o órgão feminino passou a ser visto como fonte do mal e – consequentemente – algo a ser reprimido. Tal enfoque permanece até nossos dias, evidenciando-se na pobreza etmológica para descrever suas várias estruturas como o clitóris, os pequenos lábios e os grandes lábios.

Blackledge dedica outra parte do livro (a descrição da anatomia e da fisiologia dos genitais da mulher e das fêmeas de várias espécimes do mundo animal. Ela defende a idéia de que as fêmeas têm papel ativo no ato da concepção, senão seu controle total. Mostra os preconceitos culturais e sociais que reprimiram e censuraram portanto tempo a sexualidade feminina, especialmente aqueles que se manifestaram a través das ideologias científicas das diferentes épocas. A negação da sexualidade feminina era de tal ordem que se refletia até mesmo na observação do comportamento social das fêmeas dos animais, cuja poliandria era sistematicamente negada em nome de uma monogamia ideologicamente concebida.
Em épocas passadas, se desconhecia o papel do clitóris na reprodução e, por muito tempo ele foi ignorado pelos tratados médicos. Sua qualidade de zona erógena, de órgão de prazer sexual, não podia ser reconhecida, por isso implicaria na questão do orgasmo feminino, fato negado pelas autoridades científicas e religiosas.
No final do século XIX eram realizadas na Europa e Estados Unidos clitoridectomias (extirpação cirúrgica do clitóris) para curar histéricas. A função erótica do clitóris era implicitamente reconhecida e reprimida pela genética médica. Essa não é uma pratica do passado. Atualmente, como lembra Blackldge, há outros 100 e 130 milhões de mulheres que sofreram a infibulação (extirpação do clitóris, parte dos pequenos lábios e/ou sutura dos grandes lábios), procedimento costumeiro em países muçulmanos. Em 27 países africanos, algumas regiões do Oriente Médio e da Ásia, Europa, América do Norte, Austrália e Nova Zelândia calcula-se que cerca de 2 milhões de meninas por ano são submetidas atais práticas de mutilação genital.
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29 maio 2009

Dez anos de Matrix (5)

O filme de ficção científica que reinventou vários conceitos no gênero no final dos anos 90, fala sobre o domínio das máquinas sobre os homens e de um grupo liderado por Morpheus que procuram o “One” (o escolhido) que, diz a profecia, libertará a raça humana desas máquinas. Diversas referências e citações na obra dos irmãos Wachowski são encontradas nos clássicos do cinema moderno como “Blade Runner, o caçador de andróides! (1982), de Ridley Scott; “O Exterminador do Futuro” (1984), de James Cameron; o desenho animado “Akira” (1988), de Katsuhiro Otomo. Outros filmes relacionados: “Metropólis”, de Fritz Lang; “O Show de Truman”, de Peter Weir; “Gattaca – A Experiência Genética”, de Andrew Nicoll; “Simone”, de Andrew Nicoll.

“Ghost in The Shell” (1995), o desenho animado de Oshii Mamoru (uma das principais inspiração para a trilogia Matrix), mostra o ato de heroísmo de um membro da Comissão de Segurança pública Nacional Japonesa, especializado em combater crimes relacionados a tecnologia. Criado por Masamune Shirow, o quadrinho foi publicado pela primeira vez em 1989 e já foi transformado em vários produtos, de videogames a séries de TV. O estúdio DreamWorks (de Steven Spielberg) conseguiu os direitos para adaptar o famoso quadrinho japonês “Ghost in shell” para o cinema em versão 3-D. Vamos aguardar.
O sucesso de Matrix foi tão grande que influenciou muitos cineastas da nova geração como nas idéias para Xavier Gens dirigir “Hitman, Assassino 47” (2007), no visual de “Anjos da Noite” (2003), de Len Wiseman, ou mesmo nos efeitos de “O Procurado” (2008), de Timur Bekmambetov. Depois de Matrix, o cinema nuba mais foi o mesmo.
Animatrix é uma coleção de pequenos filmes em animação, mostrando a história anterior ao universo de “Matrix”, e a guerra original entre humanos e máquinas que levará a criação da Matrix.
A coletânea reúne 9 curta-metragens animados que tratam de eventos relacionados ao mundo de Matrix, proposto pelos irmãos Wachowski. Os desenhos foram em sua maioria, criados e dirigidos por renomados profissionais japoneses, uma forma de homenagear os populares animes, dos quais os irmãos Wachowski são fãs confessos.
“O Segundo Renascer - Parte 1 E 2”: Neste curta-metragem, dividido em duas partes, é contada a história do surgimento da Matrix desde o primeiro assassinato cometido por um robô, que foi o estopim para a rebelião humana e para o início da guerra contra as máquinas; “Coração de Soldado”: Na simulação de um treinamento no mundo dos samurais, CIS, um soldado de Zion, é forçado a escolher entre o amor e seus camaradas no mundo real.”Uma História de Detetive”: Investigador linha-dura, Ash está a procura da cyber-criminosa Trinity. “O Vôo Final de Osíris”: A tripulação da nave Osiris precisa transmitir a Zion uma mensagem de suma importância. E para tal, terão que atravessar um exército de sentinelas que os separa da cidade.
“O Recorde Mundial”: Por meio de uma incrível combinação de força de vontade e força física, Dan, um corredor recordista mundial, consegue sair da Matrix e tem uma breve visão do mundo real. “O Robô Sensível”: Um pequeno grupo de rebeldes captura um robô sentinela e o reprograma para atuar como um aliado da causa. “Era uma Vez um Garoto”: Sentado em sua sala de aula, o garoto recebe um convite pessoal de Neo para fugir da Matrix. Mas achar uma saída comprova-se muito mais difícil do que se imaginava. “Além da Realidade”: Numa pequena cidade, onde nada é como parece, Yoko acha uma falha nos sistemas: uma mansão abandonada na qual tudo parece possível. Mas o suporte técnico vem com força total para fazer o "de-bug".
Inspirado pelas experiências com drogas do escritor Warren Ellis e considerada pelos críticos como uma instigante mistura das tramas policiais de Sin City com o universo de Matrix, “Azul Profundo” é uma das histórias em quadrinhos mais inovadoras da atualidade. A arte de Jacen Burrows está surpreendente ao mostrar a vida do policial Frank na pista de um perigoso serial killer que começa a duvidar da realidade que o cerca (o que é a realidade?)
Os irmãos Wachoswski eram roteiristas de quadrinhos. Steve Skroce, o artista de storyboard dos filmes, foi desenhista, entre outras coisas, do Homem-Aranha. Geoff Darrow, o artista conceitual da série, fez, junto com Frank Miller, a aclamada minissérie Hard Boiled. Juntando essa equipe e mais outros artistas o conceito original do filme foi expandido para os quadrinhos. A Panini acaba de larçar The Matrix Comics Vol. 1 reunindo 12 histórias inspiradas pelo revolucionário mundo do filme Matrix e produzidas por alguns dos maiores criadores contemporâneos como Larry & Andy Wachowski, Geof Darrow, Bill Sienkiewicz, Neil Gaiman, Ted McKeever, John Van Fleet, Dave Gibbons, Paul Chadwick, Kilian Plunkett, entre outros. Vale a pena conferir.
Filme: Matrix
Título original: The Matrix
País: Estados Unidos
Ano: 1999
Filme: Matrix Reloaded / Matrix 2
Título original: The Matrix Reloaded / The Matrix 2
País: Estados Unidos
Ano: 2003
Filme: Matrix Revolutions / Matrix 3
Título original: The Matrix Revolutions / The Matrix 3
País: Estados Unidos
Ano: 2003.

28 maio 2009

Dez anos de Matrix (4)

Matrix Reloaded: Neo dá mais um passo na busca da verdade, que começa com sua jornada até o mundo real no início de Matrix - mas essa transformação o deixa privado de seu poder, perdido num limbo entre a Matrix e o mundo das máquinas. Enquanto Trinity (Carrie-Annie Moss) cuida de Neo, que está em coma, Morpheus (Laurence Fishburne) sofre com a revelação de que o Escolhido, em quem ele depositou todas as suas esperanças, não passa de mais um sistema de controle inventado pelos criadores da Matrix. Com o auxílio de Niobe (Jada Pinkett Smith), Neo e Trinity decidem ir até onde nenhum humano jamais ousou ir, numa jornada traiçoeira acima do solo, através da superfície queimada da terra e para o coração da ameaçadora Cidade das Máquinas. Nesta imensa metrópole mecanizada, Neo se vê face a face com o maior poder do mundo das Máquinas - Deus Ex Machina - e parte para uma negociação que é a única esperança de um mundo que agoniza. A guerra chegará ao fim esta noite, e os destinos de duas civilizações e do próprio Neo dependem inexoravelmente do desfecho de seu confronto com Smith.

Matrix Revolutions (2003): O explosivo episódio final da trilogia Matrix, a guerra épica entre homens e máquinas atinge o seu clímax: os militares de Zion, ajudados por corajosos voluntários civis como Zee (Nona Gaye) e o Garoto (Clayton Watson), lutam desesperadamente para deter a invasão de Sentinelas na medida em que o exército das máquinas avança sobre sua fortaleza. Sob a ameaça de aniquilação total, os cidadãos do último bastião da humanidade lutam não apenas por suas vidas, mas pelo futuro de toda a humanidade. Sem que ninguém saiba, porém, o grupo está contaminado por dentro: Smith (Hugo Weaving) astuciosamente se apodera do corpo de Bane (Ian Bliss), membro da frota de hovercrafts. Tornando-se mais poderoso a cada segundo que passa, Smith está fora até mesmo do controle das máquinas e agora ameaça destruir o império destas, juntamente com o mundo real e a Matrix. Oráculo (Mary Alice) diz a Neo suas derradeiras palavras de orientação, e ele as acata, embora ciente de que também ela é um programa e de que suas palavras podem não passar de mais um elemento enganador no grande esquema da Matrix.
Matrix Revolutions, o terceiro episódio mostra que o maior problema de Neo não será somente salvar a humanidade, ele terá que combater o Agente Smith, que desenvolveu os mesmos poderes que ele. Smith pode voar, lutar como Neo, e destruir Zion, já que ele se tornou como um vírus dentro da Matrix, e somente Neo poderá detê-lo. Paralelamente a isto, os humanos livres lutam para salvar Zion do ataque das máquinas.
“O que é real? Como define real? Se você está falando do que pode ser cheirado, provado e visto, então real é simplesmente um sinal eléctrico interpretado pelo seu cérebro “( Morpheus)
Além das seqüências Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, nove capítulos de curtas de animação compõem a série Animatrix, uma fusão inédita da tecnologia CGI com os “animés” japoneses que consumiu mais de três anos em estúdios no Japão, Coréia e Estados Unidos. Esta série mergulha mais profundamente no mundo de Matrix e de seus habitantes. Houve uma série de games (Enter The Matrix, entre outros), histórias em quadrinhos, bonecos e muitos outros objetos.
O final chega com Revolutions, a paz. A maioria das pessoas não aceitou este final, mas os cineastas fizeram uma crítica à raça humana, incapaz de aceitar a paz como solução. Ainda vivemos em tempos de força, de preconceito, de guerras, de superioridade, de poder... Não aceitamos a convivência pacífica com os desiguais. O Universo Matrix não é uma simulação, mas sim uma metáfora. Nossa condição humana é jogada na nossa cara. Nossa fragilidade e angustia existencial fazem com que acreditemos em qualquer história que nos conforte e traga esperança. Enquanto ficamos acreditando em algo superior a nós, seremos facilmente controlados. O Oráculo descobriu e se aproveitou dessa característica humana, como muitos têm feito durante nossa história. Acreditando em mentiras reconfortantes, e nos opondo a aceitar o mundo real, nunca conheceremos nossas possibilidades. Nunca poderemos construir nosso próprio futuro. Nunca seremos realmente livres. Enquanto insistirmos na pílula azul, seremos sempre escravos.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um estado d´alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Roha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela)

27 maio 2009

Dez anos de Matrix (3)

Já o terceiro filme há muitas dúvidas: Seria Neo apenas uma simulação da Matrix para cumprir sua tarefa de retirar 23 pessoas de Zion antes que ela seja destruída ou um ser humano real? O oráculo está do nosso lado ou ainda é fiel as máquinas e ao seu criador? O Arquiteto era um ser humano ou uma manifestação da Matrix, como um programa de inteligência própria? Zion será destruída? Terá Neo que escolher entre a morte dos humanos que ainda estão presos dentro da Matrix ou a morte dos que estão fora dela? Não seria Zion uma simulação da própria Matrix para abrigar as pessoas que não aceitaram ficar dentro do programa?



Mas afinal, o que é a Matrix? "Você pode escolher entre a pílula vermelha ou a azul" diz Morpheus a Neo a certa altura do filme. "Se escolher a azul você vai acordar de manhã em sua casa e sua vida vai permanecer a mesma . Mas, se escolher a vermelha, vai descobrir o quão funda é a toca do coelho da Alice". Numa das cenas iniciais do filme, Neo é desafiado a escolher entre a pílula azul e a pílula vermelha. Esta é sua primeira (e decisiva) escolha Ou seja, ele terá que escolher entre permanecer como está ou conhecer a verdade do Real. Imbuído de aguda curiosidade, Neo escolhe a pílula vermelha, que o conduz a uma outra dimensão da sua vida pessoal.

Ao escolher a pílula vermelha, Neo renasce, literalmente. A partir daí, Neo “conhece” a Matrix e o significado da luta do grupo de Morpheus. Torna-se membro da resistência humana, atuando na Matrix a partir de sua base submarina, o Nabucodonosor. Desde a escolha da pílula vermelha, a trama do filme dos Irmãos Wachowski se desenrola em fases delimitadas: o (re)nascimento de Neo, o descobrimento da Verdade, seu treinamento, a ida ao Oráculo; a traição e armadilha de Cypher, a captura de Morpheus, seu resgate por Neo e Trinity, o duelo no Metrô entre Neo e o agente Smith; a fuga de Neo, sua morte e ressurreição e a afirmação de Neo como o Escolhido, aquele que irá redimir a humanidade da dominação das Máquinas, libertando-os da Matrix. A tragédia de Neo, no decorrer de Matrix, é ser obrigado a escolher, a agir e não apenas a perguntar (o mesmo desafio moral é posto no decorrer de todo o filme). Em vários momentos, Neo se depara com o desafio: “Você é quem escolhe”.



“É a pergunta que nos impele, Neo. Foi a pergunta que te trouxe aqui. Sabes a pergunta, assim como eu sei. A resposta está lá fora Neo “( Trinity)



A trama narrativa é permeada de escolhas e de enfrentamento do destino, daquilo que está programado e contra isto se insurge Neo e os demais. É, em última instância, o tema da liberdade humana e da própria dialética liberdade e necessidade. É através deste enfrentamento cotidiano, que Neo adquire a consciência de si. É outro ponto decisivo – não existe consciência de si sem luta intensa e enfrentamento com as condições dadas (a Matrix é uma condição dada e os agentes federais, como software de rastreamento, são condições dadas, programadas, escravos da programação-mor da Matrix, obstáculos à liberdade pleiteada pelos seres humanos).



Dois planos espaço-temporais permeiam a narrativa de Matrix. A primeira ocorre no deserto do Real, onde a Terra após a vitória das Máquinas transformou homens e mulheres em fonte de energia. Mas existem homens que resistem no subterrâneo, habitando a cidade de Sião, “a última cidade humana, o único lugar que nos restou perto do núcleo da Terra onde ainda é quente”, cujo acesso é secreto (o que os agentes federais queriam era o código de acesso a Sião para poderem derrotar, de vez, a resistência humana). Segundo, o que ocorre no mundo real simulado pela Matrix, cenário urbano da metrópole, com sua vida cotidiana, onde as pessoas estão imersas no emprego e nas suas ambições triviais. É o mundo tal como ele é.





A realidade simulada é uma virtualização complexa que oculta a verdadeira Realidade, o “deserto do Real”. De um lado, a bárbarie regressiva perto de 2199. De outro lado, o simulacro digital complexo que oculta a exploração do gênero humano pelas Máquinas Inteligentes. Estamos diante de um mundo digital, binário, tão perfeito quanto a própria realidade concreta. Neste mundo de Matrix, os objetos e pessoas são meros sistemas de códigos binários, programas de computador, deste imenso sistema informático. “A Matrix é um mundo dos sonhos gerado por computador feito para nos controlar, para transformar o ser humano nisto aqui [bateria]”, observou Morheus.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um estado d´alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Roha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela).

26 maio 2009

Dez anos de Matrix (2)

O sociólogo e poeta e fotógrafo francês Jean Baudrillard é considerado um dos principais representantes do pensamento pós-moderno. Desenvolveu teorias sobre o impacto dos meios de comunicação de massa, principalmente da tv, na cultura contemporânea. Um de seus conceitos mais famosos é o de hiper-realismo. Essa teoria estuda como a consciência interage com a realidade e a fantasia, criando uma cópia do mundo, chamada por Baudrillard de hiper-realidade. É a idéia de que as coisas não acontecem se não são vistas.

No cinema, Baudrillard é famoso por ter inspirado a trilogia Matrix. No primeiro filme da série, o personagem Neo, interpretado por Keanu Reeves, aparece escondendo um de seus programas subversivos no interior do livro “Simulacros e Simulação”, de Baudrillard. Os autores do filme chegaram a chamar o filósofo para colaborar com Matrix Reloaded e Matrix Revolutions. Mas Baudrillard não aceitou. Declarou na época que não tinha ligação com o kung fu e que seu trabalho era o de discutir idéias “em ambientes apropriados para isso”. Em entrevista recente para a revista Época, o filósofo declarou que não gostava do filme. Disse que ele faz uma leitura ingênua da relação entre ilusão e realidade. Baudrillard disse preferir filmes como Cidade dos Sonhos e Show de Truman. Neles os produtores perceberam que essa diferença entre realidade e ilusão é menos evidente.

Para quem deseja se aprofundar na teoria do filme, a narrativa revela que no futuro os humanos terminaram de destruir o planeta numa guerra com as máquinas. Bombas nucleares geraram uma nuvem de poeira para impedir a chegada de raios solares cortando uma fonte de energia renovável, o que levaria a extinção das máquinas. Antes deste fato os humanos criaram a Inteligência Artificial (IA). Com a I.A. e o fim da energia solar, começou uma batalha entre as máquinas e os humanos. As máquinas venceram e acabaram aprisionando os humanos dentro delas, após descobrir que o ser humano produzia uma carga de energia diária gigantesca, e que poderia ser usado como espécie de bateria para que as máquinas pudessem continuar a existir.

Foi criada então a Matrix, uma máquina que simula uma realidade virtual para que os humanos não saibam que estão presos dentro de uma realidade virtual, e que eles fazem sua mente imaginar que está vivendo em um mundo real, enquanto o seu corpo está deitado dentro de uma câmara com um liquido e conectado a vários fios que puxam a sua energia. Os sobreviventes da guerra entre as máquinas e os homens criaram a cidade de 'Zion', uma cidade que se encontra no núcleo da terra e é eternamente procurada pelos sentinelas, robôs da Matrix que destroem as naves. Neo é, na verdade, a reencarnação do único homem que conseguia enxergar o código da Matrix e alterar ele da maneira que quiser, ou seja, dentro da realidade virtual ele pode fazer o que quiser, sem barreiras.
“Já teve um sonho, Neo, que você tinha a certeza de que era real? E se você não conseguisse acordar desse sonho? Como saberia a diferença entre o sonho e o mundo real? “( Morpheus)
O segundo filme traz a seguinte teoria: A primeira versão da Matrix não foi aceita pelos humanos, pois era perfeita demais, sem problemas, guerras, pressa, violência, e foi isso que desencadeou a fúria das máquinas e a guerra entre os humanos e elas. Após vencerem, as máquinas criaram uma Matrix mais imperfeita, e aprisionaram os humanos, fazendo-os esquecer de tudo o que aconteceu e voltar ao ano de 1999, onde o mundo ainda era da maneira que vemos hoje. A Matrix já passou por seis reformulações, assim como programas como o Windows, em cada reformulação havia um predestinado, como o Neo, que tinha a missão de selecionar apenas 23 humanos que vivem fora da Matrix, divididos entre homens e mulheres, para que comece tudo de novo, e a Matrix é aprimorada e os erros que foram encontrados nesse tempo são concertados, assim como um Update. Os outros humanos fora da Matrix serão mortos, e a cidade de Zion será destruída, e a missão dos 23 sobrevivente é reconstruir a cidade e povoá-la novamente, pois se Zion continuasse a crescer a Matrix estaria ameaçada.
O Oráculo é um programa da Matrix, ou melhor, a mãe da Matrix, é um programa com vontade própria que tem o dom de encontrar e concertar todos os problemas dentro da Matrix. Mesmo após a rebelião das máquinas, o segundo filme mostra que os seres humanos ainda tem que usá-las, como é mostrado na cena em que se passa dentro de Zion, onde uma máquina controla a água e outra cria o oxigênio necessário para a sobrevivência. Os humanos tem o controle sobre as máquinas, mas as mesmas exercem o mesmo controle sobre os humanos. Se os humanos desligar, morrem, se elas matar os humanos, param de funcionar por falta de manutenção ou energia.
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Quem desejar adquirir o livro "Bahia um estado d´alma", o mesmo encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA no Canela). E boa viajem na trajetória cultural da Bahia.

25 maio 2009

Dez anos de Matrix (1)

Há dez anos, os irmãos Larry e Andy Wachowski entravam para história do cinema com um filme. Misturava filosofia, audiovisual, kung fu, budismo, matemática, física, cyberpunk, referências a Philip K. Dick e William Gibson (pais do cyberpunk), clássicos do cinema (Blade Runner, Exterminador do Futuro, Akira) e um efeito especial nunca antes visto foram alguns dos elementos que provocaram o sucesso de Matrix.

Matrix utilizou, além do próprio longa, dois jogos de videogames, um site e uma série de animes – os Animatrix – para completar o universo da trama, onde homens e máquinas inteligentes travam um duelo em ambientes reais e virtuais. A Matrix vem da raiz européia Matr, mãe. Assim, Matrix é a fêmea com crias (no filme, os seres humanos são amamentados, origem, útero, matrix, de onde todos nós viemos)

Só para o leitor ter uma idéia do sucesso: 460 milhões de dólares foram arrecadados pelo filme nas bilheterias de todo o mundo. 29ª posição no ranking dos melhores filmes de todos os tempos, segundo o site MDB. E quatro Oscars na bagagem: Edição, som, edição de som e efeitos visuais. Agora, vamos entrar nessa Matrix e conhecer mais de perto...
“Há uma grande diferença entre saber o caminho e percorrer o caminho” (Matrix)
Em um futuro próximo, Thomas Anderson (Keanu Reeves), um jovem programador de computador que mora em um cubículo escuro, é atormentado por estranhos pesadelos nos quais encontra-se conectado por cabos e contra sua vontade, em um imenso sistema de computadores do futuro. Em todas essas ocasiões, acorda gritando no exato momento em que os eletrodos estão para penetrar em seu cérebro. À medida que o sonho se repete, Anderson começa a ter dúvidas sobre a realidade. Por meio do encontro com os misteriosos Morpheus (Laurence Fishburne) e Trinity (Carrie-Anne Moss), Thomas descobre que é, assim como outras pessoas, vítima do Matrix, um sistema inteligente e artificial que manipula a mente das pessoas, criando a ilusão de um mundo real enquanto usa os cérebros e corpos dos indivíduos para produzir energia. Morpheus, entretanto, está convencido de que Thomas é Neo, o aguardado messias capaz de enfrentar o Matrix e conduzir as pessoas de volta à realidade e à liberdade.

Este é o enredo de Matrix, filme dirigido pelos irmãos Andy e Larry Wachowski e que ganhou quatro Oscars (Melhor Edição, Efeitos Sonoros, Efeitos Especiais e Som) e recebeu uma indicação ao Grammy, como Melhor Trilha Sonora.
“Você acredita em destino?", "Temos o controle sobre as decisões da nossa vida?", e “O que é real?" são algumas das reflexões lançadas pelo primeiro filme. O que há de tão diferente entre se comer um delicioso bife e simplesmente ser induzido por seu cérebro a acreditar que se está fazendo isso. Afinal, como nos é mostrado no filme, somos baterias para as maquinas dominantes, e estas geram sensações em nosso sistema nervoso para que nosso cérebro acredite que estamos levando uma vida perfeitamente normal, com todas as alegrias e frustrações cotidianas, quando na verdade estamos hibernando desde a nossa criação.
O visual dos personagens é dark ao extremo. Roupas escuras, poucas palavras, óculos escuros e muita elegância. Um dos principais destaques do filme é a técnica "bullet time photography", cenas de intensa ação são desaceleradas, com a ajuda de computadores, gerando até 12 mil quadros por segundo, transformando totalmente a forma que é vista determinada seqüência do filme, como, por exemplo, a cena em que Neo consegue desviar dos tiros de um dos agentes que o perseguem O bullet time congela a cena e dá um giro por ela é um belo efeito especial. Outros efeitos importantes: as explosões, os vidros quebrando, as balas caindo em direção ao chão enquanto tocam em alguns pedaços do helicóptero, o “mini bullet-time” que é utilizado quando o agente Smith acerta um tiro de raspão no pé de Morpheus, quando ele ainda está pulando.

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Quem desejar adquirir o livro "Bahia um estado d´alma", o mesmo está à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria doLivro (Boulevard 161 no Itaigara e Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela). A obra trata de um passeio cultural pela Bahia.




22 maio 2009

Paulo Leminski (1944 – 1989)

Faz 20 anos que Leminski se foi. Vamos lembrá-los através de seus poemas

amar é um elo
entre o azul
e o amarelo

Ameixas
ame-as
ou deixe-as

Tarde de vento.
Até as árvores
querem vir para dentro.
Tudo o que eu faço
alguém em min que eu desprezo
sempre acha o máximo

Vai ver o dia
quando tudo o que eu diga
seja poesia
SE
se
nem
for
terra
se
trans
for
mar

A noite me pinga
uma estrela no olho
e passa.

Amor bastante

quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

DESENCONTRÁRIOS

Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu, em rosa,
em grego, em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si,
a sílaba silenciosa.


Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar um império extinto.

RAZÃO DE SER


Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.



Tem que ter por quê?


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Os interessados em adquirir o livro Bahia, um estado d´alma podem se dirigir as livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 e Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA)

21 maio 2009

Emília Biancardi faz um tributo ao índio brasileiro

A folclorista e musicóloga baiana Emília Biancardi já realizou diversas exposições em homenagem ao índio brasileiro. Ela possui peças indígenas como instrumentos no vestuário (máscaras, saias, colares, joelheiras, adornos corporais em geral que trazem chocalhos), instrumentos de sopro (flautas, trompetes, apitos), percussão (maracás, tambores entre outros), além de baners e fotografias em geral com textos relacionados as peças expostas. Na mostra que percorre diversas cidades a pesquisadora focaliza numerosas e expressivas manifestações artísticas populares, refletindo a permanente musicalidade indígena. Fruto de investigações, pesquisas e levantamentos efetuados durante anos em diversas regiões baianas, e também em outros estados.

Colecionar peças e objetos é uma prática tão antiga quanto a própria técnica de confecciona-los. A pesquisadora de folclore, Emília Biancardi se dedica a juntar instrumentos musicais primitivos do mundo inteiro. Essa paixão vem desde os 19 anos de idade e pode ser avaliado nos enormes sacrifícios feito pela pesquisadora para a compra de suas peças, como, durante suas viagens, deixou muitas vezes de alimentar-se corretamente, a fim de poupar dinheiro. Ela não se arrepende, porém. Hoje já são mais de 2.000 instrumentos espalhados por casas e garagens de amigos. Há instrumentos do mundo todo. De Katmandu, no Tibet, a vilarejos do interior da França. É um acervo interminável. “Não existe um só lugar que não tenha instrumentos primitivos”, garante, com razão, Emilia, que se ressente, porém, com a falta de preservação dos instrumentos aqui no Brasil.

Criadora do primeiro grupo para-folclórico da Bahia, na Escola Normal, em 1962, Emilia começou a viajar pelo interior em busca das feiras livres, onde pudesse encontrar preciosos instrumentos primitivos. Mais tarde, já coordenando o grupo folclórico Viva Bahia, pôde viajar ao exterior, quando adquiriu instrumentos em países da Europa, da África e do Oriente. Mesmo dos países que não teve oportunidade de visitar, Emilia possui algumas peças presenteadas por vários amigos diplomatas que se encarregavam sempre de lhe trazer um exemplar novo para a coleção.

No acervo de Emília, contudo, há espaço também para os instrumentos primitivos brasileiros. Da tribo dos Kamaiurás, no Xingu, ele trouxe, por exemplo – a flauta jacuí – considerada sagrada na tribo e exclusivamente dos homens. Outra flauta, a uruá, é usada às vésperas do quarup para limpar as casas dos índios contra os maus espíritos. Outras preciosidades da coleção de Emília são algumas réplicas de instrumentos pré-colombianos, trazidos do México, e o instrumento africano monocórdico que se chamava rucumbo e hoje é conhecido como berimbau.
LIVROS - Desde o início dos anos 60, a professora e musicóloga Emília Biancardi realiza pesquisa sobre cantos e danças do folclore baiano. Publicou seis livros sobre o tema, abordando diversos aspectos do folguedo, incluindo partitura musical, fotografias antigas de dançarinos e mestres e coreografias. “Lindro Amô” foi lançado em 1968 e narra a trajetória do folguedo típico de Santo Amaro da Purificação e de outras cidades do Recôncavo baiano que tem por finalidade tirar esmolas ou “missa perdida”, em louvor aos santos mais populares da região. Em 1969 ela lançou “Cantorias da Bahia” só dedicada a música folclórica da Bahia.
“Viva Bahia Canta”, lançado em 1972, foi uma homenagem aos dez anos do grupo Viva Bahia e foram registradas músicas das zonas rural e urbana da Bahia. “A Dança da Peiga”,em 1983, registrou a dança do interior de Santo Amaro feita só por homens e ligada ao dia da hora. Naquele dia pára tudo, até as moscas. A noite é realizada a oração ao dia da hora. A dança hoje se perdeu no tempo. “Olelê Maculelê”, de 1990, conta a história da dança guerreira presente no Recôncavo baiano, seu desenvolvimento, mestres, divulgadores e a descaracterização que vem sofrendo, além das partituras, desenhos e nomes dos instrumentos. É o quinto livro de Emília e trata de uma das mais significativas manifestações da cultura popular do Recôncavo Baiano, especialmente Santo Amaro da Purificação onde proliferou o Maculelê. A obra registra a trajetória de suas andanças, desde o primeiro contato em 1962 até os nossos dias. Além de examinar, aborda os diversos aspectos do folguedo, traz a partitura musical dos cânticos do Maculelê, fotografias antigas de dançarinos, mestres e coreografias que facilitam a divulgação e a aprendizagem.
O livro “Raízes Musicais da Bahia” (2000) reúne partituras e informações raras. Na obra há inúmeros registros de letras de canções e ritmos que já não existem, além de passos de danças e coreografias como as do maculelê, samba de roda e outras. Focaliza numerosas e expressivas manifestações artísticas populares, como festas tradicionais e folguedos, instrumentos e cantorias da capoeira, reisados, ternos e ranchos da Bahia, ranchos do boi, da burrinha, queima da palhinha, puxada da rede do xaréu, o som dos orixás, candomblé e orquestra afro brasileira. Há letra e partitura musical dos cânticos que integram cada uma dessas tradições, além do desenho ou da fotografia de instrumentos musicais das três etnias que deram origem à nossa música folclórica.

A obra, segundo a autora, visa a contribuir não só para reativar o papel social do folclore no âmbito de nossas manifestações artísticas, mas, sobretudo, se propõe a divulgar tais manifestações em suas múltiplas dimensões de grandeza para o fortalecimento das raízes musicais populares da Bahia. Além do grupo folclórico Viva Bahia, Emília criou a Orquestra Afro Brasileira, fez a direção musical do Balé Brasileiro da Bahia, fez a direção musical dos espetáculos.

20 maio 2009

Besouro, um nome na história da capoeira da Bahia nas telas

“__Você viu pra onde foi aquele negro?”, “__Vi, sim senhor. Ele virou besouro e saiu voando”. Foi assim que o apelido de Manuel Henrique Pereira surgiu e começou a correr por toda a Bahia. Nascido no antigo quilombo de Urupy, distrito de Oliveira dos Campinhos, município de Santo Amaro, em 1895, Besouro foi um dos capoeiristas mais famosos de sua época e extremamente hábil com as facas. Reza a história que quando ele nasceu, também estavam lá (e do seu lado nunca saíram), os protetores da capoeira: os orixás Ogum e Oxossi.

Depois do sucesso do musical Besouro Cordão de Ouro inspirado na vida do capoeirista com texto do compositor Paulo César Pinheiro, chegou a vez do valente que desafiava as autoridades se exibir nas telas do cinema. O publicitário brasileiro mais premiado no Festival de Publicidade de Cannes, João Daniel Tikhomiroff escolheu a história do capoeirista para estrear seu primeiro longa metragem. O filme Besouro foi rodado em Igatu, na Chapada Diamantina. Besouro será interpretado pelo ator Ailton Carmo, o Coquinho. O fotógrafo Christian Cravo (filho do renomado Mário Cravo) está preparando um livro com a fotodocumentação artística da aventura da produção do filme na Chapada Diamantina e no Recôncavo Baiano.

NA HISTÓRIA - Aos 13 anos, Besouro ganhou o mundo: saiu de casa para trabalhar e começou a escreveu seu nome na história através de suas aventuras. Foi vaqueiro e amansador de burro bravo pelas vilas do Recôncavo Baiano. Aprendeu com um tio africano e ex-escravo os mistérios da capoeira, do jogo, das facas e das boas orações. Já adulto foi também saveirista e soldado do Exército Brasileiro. O capoeirista era tão respeitado que costumava sair às ruas avisando aos comerciantes que fechassem as portas, pois tinha acabado de decretar feriado. Também era comum vê-lo presenteando um de seus compadres com penas de pavão, arrancadas dos chapéus dos valentões de Santo Amaro.
Nas rodas de capoeira do Trapiche de Baixo (até hoje o bairro mais pobre de Santo Amaro) e nas festas populares, o jovem Besouro começou a se destacar. O seu forte era a agilidade, a rapidez de raciocínio, a calma e a surpresa, além de ter o corpo fechado com fortes mandingas e rezas. Paulo Barroquinha, Boca de Siri, Noca de Jacó, Doze Homens e Canário Pardo, todos moradores do local, foram os seus companheiros nas memoráveis rodas de Capoeira que hipnotizavam quem quer que passasse. Rodas de capoeira como aquelas só são vistas de tempos em tempos e, talvez, mesmo assim, nunca se vejam outras iguais.
UMA LENDA - Besouro fez história e virou lenda. Um homem que é tido por alguns como arruaceiro, criminoso ousado, fora-da-lei e, ao mesmo tempo, é considerado por outros um justiceiro, protetor dos oprimidos. Apesar de violento, não se tem notícia de que ele tenha matado alguém. Os casos de suas façanhas são contados por pessoas antigas, algumas conviveram com ele, outras que ouviram falar de sua rebeldia. Ele vivia num mundo em que para sobreviver era preciso ter malícia dentro e fora da roda de capoeira.
O difícil é descobrir como esse homem negro e pobre nascido no fim do século XIX, numa época em que ser praticante de atividades ligadas à herança africana era considerada um crime, se tornou a figura mais respeitada no mundo da capoeira. Sua fama extrapolou os limites do Recôncavo, chegou à Salvador, ao restante do país e alcançou os quatro cantos do mundo. Capoeirista valentão num tempo em que não havia a divisão entre os estilos Angola e Regional, muito menos escolas e academias de ensino, “Besouro Cordão de Ouro”, como era também conhecido, inspirou um dos capítulos do livro Mar Morto, de Jorge Amado.
JUSTIÇA - Para alguns, Besouro desejava apenas justiça. Ele era o elemento negro injustiçado pela cultura dominante que necessitava existir pela formulação de um novo código e, ao mesmo tempo, de um novo conceito de justiça. Foi em meio a essa cultura dominante, de nobres e senhores de escravos, que o hábil capoeirista conseguiu se sobressair. Besouro morreu muito jovem, assassinado antes de completar 30 anos. O homem mais valente do Recôncavo baiano foi golpeado traiçoeiramente com uma faca de ticum (preparada especialmente para abrir seu corpo fechado pela mandinga) por um de seus colegas. Até hoje, Besouro é símbolo da capoeira em todo o território baiano, sobretudo pela sua bravura e lealdade com que sempre comportou com relação aos fracos e perseguidos pelos fazendeiros e policiais.
“Quem é você que acaba de chegar//Eu sou Besouro Preto/Besouro de Mangangá/Eu vim lá de Santo Amaro/Vim aqui só pra jogar/Quem é você que acaba de chegar/Quem é você que acaba de chegar//Eu sou Besouro Preto/Besouro de Mangangá/Ando com corpo fechado/Carrego meu patuá/Quem é você que acaba de chegar/Quem é você que acaba de chegar//Me chamam Besouro Preto/Besouro de Mangangá/Bala de rifle não me pega/Que dirá faca de matar/Quem é você que acaba de chegar/Quem é você que acaba de chegar//Aqui em Maracangalha/Você não vai escapar/Contra faca de tucum/Ninguém pode se salvar/Quem é você que acaba de chegar/Quem é você que acaba de chegar”.

19 maio 2009

Charge, libertinagem da imaginação

Absolutista na política, iluminista na filosofia, no século XVII, a razão (quando investe na seriedade como condição de credibilidade para os discursos sociais e as práticas que deles decorrem) destitui o humor da ordem dos saberes, como portador de discurso cômico sem razão, desprovido, portanto, de verdade. Exilado da cultura, banido da função de expressar o sujeito, o humor recupera, agora no traço da charge, essa sua antiga faculdade de produtor e portador da verdade.

Enquanto existirem o poder e o ser humano, a charge persistirá, independentemente do regime político vigente, seja a ditadura ou a democracia. Charge significa carga, bateria e só é possível na periodicidade de um jornal diário e de um contexto político. A charge é uma ferramenta que revela as fraquezas. Para Lage nada pode apagar o sorriso provocado pela exposição de um político ao ridículo extremo. Tem o poder de catarse. Ele não acreditava nos políticos nem na honestidade deles. Na dinâmica social, o povo é o grande inimigo da ditadura.
A charge é um desenho de humor que estrutura sua linguagem como reflexão e crítica social. A proposta não é registrar o real, mas significá-lo. Registra a história, a partir do que a história, objetivamente, não registra. A charge, “essa libertinagem da imagem”, é um instrumento universal de crítica e sátira política limitado pelas especificidades culturais de cada país, ao contrário da caricatura e do cartum, sempre iguais, independentemente de origem. Dos três gêneros gráficos que se apropriam da realidade para expressá-la através do traço de humor, a charge é o mais sofisticado, pois conta e resume histórias reais de modo e maneiras convincentemente irreais.
O caráter de denúncia, revestido de ironia e humor, sempre marcou os traços de Lage. Em sua trajetória na imprensa baiana ele fez da pena o instrumento de crítica lúcida e afiada, traduzida na melhor literatura.
A charge é um tipo de texto que atrai o leitor, pois, enquanto imagem, é de rápida leitura, transmitindo múltiplas informações de forma condensada. Além da facilidade de leitura, o texto chárgico diferencia-se dos demais gêneros opinativos por fazer sua crítica usando constantemente o humor. Mas a charge não está isolada dos demais textos que aparecem no jornal. Ela contém a expressão de uma opinião sobre determinado acontecimento importante com muita probabilidade de aparecerem outros textos do jornal.
Os textos chárgicos transmitem informações utilizando o sistema pictórico e verbal. A charge assim é um texto visual humorístico que critica uma personagem, fato ou acontecimento político específico. Por focalizar uma realidade específica, ela se prende mais ao momento, tendo, portanto, uma limitação temporal.
Há charges compostas por um único quadro e outras compostas por mais de um. Nas charges com mais de um quadro, os primeiros funcionam como preparadores para o efeito humorístico ou surpreendente que é colocado no último. O humor surge do traço, do gag, da contraposição entre os códigos verbal e visual.
O humor é o principal fundamento de sua narrativa, o instrumento singular de sua linguagem, uma vez que é através dele que a charge transforma a noticia numa consciência sobre ele. Como charge se designa, sobretudo, imagens, cujo sentido está além dos limites da razão. Assim, a charge resume situações políticas que a sociedade vive como problemas, e os re-cria com os recursos gráficos que lhe são próprios. Essa economia de recursos que a caracteriza, isto é, o modo como sua linguagem se articula produtivamente, aponta para a negação da razão como doadora exclusiva de significado à realidade, e para a criticada linguagem textual como instrumento privilegiado de seu sentido. E a charge produzindo uma verdade independente da realidade, da razão. Ao incorporar o humor como linguagem produz uma verdade cujo sentido esta fora da realidade e além da razão.