01 junho 2009

História da Vagina (1)

Uma viagem pelas diferentes concepções culturais em torno do órgão sexual feminino. A historia da V – Abrindo a Caixa de Pandora (Editora Degustar) é o título do livro da jornalista britânica Catherine Blackledge, especializada na cobertura de Ciência. Ela decidiu se dedicar ao livro por considerar que a vagina é o mais nebuloso, mitológico e incompreendido órgão do corpo humano.

“Este é um livro sobre concepções de vagina. Concepções nada ortodoxas, concepções coloridas, concepções cintilantes e concepções revolucionárias. Nestas páginas, você encontrará perspectivas vaginais provenientes de uma ampla variedade de fontes. Concepções de vagina provenientes da ciência, da história, da mitologia e do folclore, da literatura e das línguas, e da antropologia e da arte. Meu objetivo é fornecer um quadro o mais completo e franco possível da genitália feminina. Uma fotografia tirada com uma lente grande-angular, se preferir. Espero que, devido a este livro, você nunca mais olhe para a vagina da mesma maneira que antes”, escreveu na introdução do livro.

Catherine Blackledge aborda a sexualidade feminina sob o prisma histórico, cultural, antropológico e fisiológico. Ela articula seus argumentos em prol da valorização da genitália feminina e do direito da mulher ao gozo sexual.
Ao longo da História, a Medicina apresentou mal a anatomia sexual da mulher e reduziu suas capacidades à noção de mero receptáculo passivo. A obra reúne os últimos achados científicos sobre a função do sexo feminino e o papel da vagina, tanto em relação ao prazer quanto à reprodução. Procura explicar também por que a simples menção da palavra “vagina” constrange os ouvintes ainda nos dias de hoje.
A autora mostra como as representações da vulva são muito mais antigas do que as do pênis nas pinturas rupestres, atribuindo esse fato ao tardio reconhecimento da importância do órgão masculino nos processos reprodutivos. Descreve antigas crenças relacionadas com a vagina, cuja exibição teria o poder de afastar o mal, proporcionar uma maior fertilidade nos animais, garantir a germinação das plantas, paralisar os inimigos – até mesmo o Diabo. Com o advento do cristianismo, houve uma grande reviravolta, o órgão feminino passou a ser visto como fonte do mal e – consequentemente – algo a ser reprimido. Tal enfoque permanece até nossos dias, evidenciando-se na pobreza etmológica para descrever suas várias estruturas como o clitóris, os pequenos lábios e os grandes lábios.

Blackledge dedica outra parte do livro (a descrição da anatomia e da fisiologia dos genitais da mulher e das fêmeas de várias espécimes do mundo animal. Ela defende a idéia de que as fêmeas têm papel ativo no ato da concepção, senão seu controle total. Mostra os preconceitos culturais e sociais que reprimiram e censuraram portanto tempo a sexualidade feminina, especialmente aqueles que se manifestaram a través das ideologias científicas das diferentes épocas. A negação da sexualidade feminina era de tal ordem que se refletia até mesmo na observação do comportamento social das fêmeas dos animais, cuja poliandria era sistematicamente negada em nome de uma monogamia ideologicamente concebida.
Em épocas passadas, se desconhecia o papel do clitóris na reprodução e, por muito tempo ele foi ignorado pelos tratados médicos. Sua qualidade de zona erógena, de órgão de prazer sexual, não podia ser reconhecida, por isso implicaria na questão do orgasmo feminino, fato negado pelas autoridades científicas e religiosas.
No final do século XIX eram realizadas na Europa e Estados Unidos clitoridectomias (extirpação cirúrgica do clitóris) para curar histéricas. A função erótica do clitóris era implicitamente reconhecida e reprimida pela genética médica. Essa não é uma pratica do passado. Atualmente, como lembra Blackldge, há outros 100 e 130 milhões de mulheres que sofreram a infibulação (extirpação do clitóris, parte dos pequenos lábios e/ou sutura dos grandes lábios), procedimento costumeiro em países muçulmanos. Em 27 países africanos, algumas regiões do Oriente Médio e da Ásia, Europa, América do Norte, Austrália e Nova Zelândia calcula-se que cerca de 2 milhões de meninas por ano são submetidas atais práticas de mutilação genital.
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