10 dezembro 2009

O que é necessário saber sobre mundialização e cultura (2)

O geógrafo Milton Santos (1926-2001) criticou a globalização, mas acreditava em transformação social. “O sonho obriga o homem a pensar”. Para ele “essa globalização cria, como nunca ocorreu no passado, um meio técnico científico e informacional em contraposição ao meio natural; promove as transformações dos territórios nacionais em espaços nacionais da economia internacional; intensifica a especialização e a divisão social e territorial do trabalho; concentra e aumenta a produção em unidades menores, entre outros aspectos. O enfraquecimento dos Estados nacionais e oi acirramento da tensão entre o local e o global, com o avanço da globalização”.

Stuart Hall completa o raciocínio mostrando as conseqüências da globalização em três aspectos: a desintegração das identidades nacionais como resultado do crescimento da homegeneização cultural e do pós-modernismo global; o reforço das identidades culturais pela resistência à globalização das identidades nacionais e locais e o declínio das identidades nacionais com a consolidação das identidades híbrida. E essas identidades oscilam entre a tradição e a tradução, pois “em toda parte, estão emergindo identidades culturais que não são fixas, mas que estão suspensas, em transição, entre diferentes posições; que retiram seus recursos, ao mesmo tempo, de diferentes tradições culturais; e que são produtos desses complicados cruzamentos e misturas culturais que são cada vez mais comuns num mundo globalizado”.

O mercado define o quê produzir, como produzir e para quem produzir. Ele se compõe de produtores x consumidores, articulados via competição por maior produtividade (produtores) e menores preços (consumidores). Através deste sistema de articulação econômica, produtores e consumidores serão, ao mesmo tempo, beneficiados, e o bem-estar social e a felicidade humana serão conquistados. Este esquema simplificado, utilitarista e racional, também pode ser aplicado ao mercado político, em que o dilema reside nos interesses individuais, mas agregados, frequentemente, em nível local, regional ou nacional, por laços de solidariedade (seja ele profissional, cultural, social ou de valor).

MUDANÇA

A passagem do fordismo para o capitalismo flexível determina assim uma mudança do consumo e da administração em escala mundial. A tecnologia surge como elemento vital na passagem de uma era mecânica para outra elétrica/eletrônica.

Alvin Tofler, “Na Segunda Onda”, disse que a imagem produzida com centralismo, e injetada na mente pelos meios de massa, ajudou a produzir a padronização do comportamento, ajustado ao sistema industrial de produção. Hoje, a Terceira Onda altera tudo isso. Os meios de massa, longe de expandir sua influência, subitamente se vêem forçados a dividi-lo. Se no tempo do fordismo, teríamos uma cultura “padronizada”, “homogênea”, com o advento das sociedades tecnificadas, a diferença se impõe na segmentação do mercado. Há uma proliferação das TV a cabo, particularização das revistas (masculinas, femininas, gays, infantis), emergenciais das rádios FM, etc. Se na era moderna ou se usava um Ford ou um Cherry, preto ou branco. Hoje você pode escolher entre 750 modelos de carros e caminhões, e um sem número de cores, que mudam anualmente. Se o modernismo era monocromático, o pós-modernismo seria plural, um caleidoscópio de gêneros estéticos. A possibilidade de escolha no seio de uma sociedade de abundância seria multiplicado ao infinito.

O francês Pierre Bordieu acredita que os indivíduos se distinguem socialmente através de seu capital cultural. De acordo com ele, o que determina se um individuo será capaz de ter subsídios para debates sobre determinada obra, será o seu poder aquisitivo e sua bagagem cultural. O sujeito pós-moderno é descentrado e fragmentado, necessitando diferenciar-se, escolhendo seu estilo e adequando suas escolhas, buscando promover assim sua esperada autonomia. Com a especialização e particularização de produtos, os empresários buscam incutir nos consumidores esta sensação de individualidade.

Mas o pensador Pierre Bourdieu ao estudar a produção da ideologia das classes dominantes na França observa que ela, em muito, deve sua coerência e poder de convencimento à existência de um pequeno número de “esquemas geradores” do discurso. Grupos diferenciados, às vezes em conflito, podem “dizer a mesma coisa”, independentemente do conteúdo que está sendo exposto. Porque as categorias de classificação do pensamento são idênticas. Ou seja, se a ideologia do pós-industrialismo aponta para a autonomia local, para a individualidade do consumidor, a dinâmica econômica revela outros aspectos. Nos conglomerados transnacionais em lugar da fragmentação, observa-se na crescente concentração das firmas. Por exemplo, no setor de produção têxtil, Burlington Industries, West Point, J.P. Stevens (EUA), Coats Viyella Courtaulds (Grã-Bretanha), Kanebo, Toyobo, Nisshin (Japão), Prouvost, DMC (França) constituem os grandes oligopólios mundiais.

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