28 dezembro 2009

Dona Canô: lição de calma e sabedoria que vem do recôncavo baiano

Dona Canô chamou, eu vou/ Dona Canô chamou, eu já me vou Dona Canô/ Antes que o rio esteja cheio/ Tenho que atravessar/ O chamado de Dona Canô/ Eu não posso negar/ Antigüidade é posto, temos que respeitar/ Dona Canô é Canô/ Dona Canô é de lá (Dona Canô - Caetano Veloso). Certamente, você não deve saber quem é Claudionor Viana Telles Velloso, mas, sem dúvida alguma, conhece ou já ouviu falar em Dona Canô, como é popularmente conhecida há 102 anos. Mais do que simplesmente a mãe dos cantores Caetano Veloso e Maria Bethânia, Dona Canô é um grande exemplo de tranquilidade e sabedoria, uma verdadeira celebração à vida.
Santamarenses em peso veem Dona Canô como a embaixatriz do município de Santo Amaro. Nascida em 16 de setembro de 1907, com um nome extenso e complicado para muitos, viu, ainda criança, se tornar Canô. Apelido inventado por um menino que não conseguia pronunciar seu nome de batismo corretamente. E foi assim que Claudionor virou Canô. E hoje, ao que parece, seu apelido soa mais familiar e carinhoso que o seu nome próprio.
Desde pequena fez parte de bailes pastoris e reisados que aconteciam nas usinas da cidade do recôncavo baiano. Apurou a voz gostosa nas Capelas de Capanema e Passagem. No Colégio das Irmãs Sacramentinas, aprendeu a costurar, a tocar piano e a falar francês. Namoradeira ela afirma que foi, mas, um belo dia apaixonou-se por José Telles Velloso (Zeca). Em um ano e meio estavam de casamento marcado, e com o seu grande amor viveu 53 anos, até a sua morte.
FORÇA - Certo dia, Dona Canô achou um trevo de quatro folhas e seu Zeca ganhou na Loteria Federal. Foi então que puderam ampliar o sobrado branco de janelas azuis, o qual ela vive até hoje, há 60 anos, e onde criou seus oito filhos com fortes laços de amizade e respeito. O lar da matriarca dos Velloso possui as mesmas nuances, e é muito fácil chegar à sua casa. Basta perguntar a qualquer um dos 80 mil habitantes, onde fica a casa de Dona Canô. A resposta será sempre: “Fica ali, pertinho da igreja do Amparo!”.
A casa de Dona Canô guarda muitas lembranças. Fotos emolduradas, gravuras e telas contam a história de uma vida bem vivida em mais de um centenário de existência. Dona Canô é dona de um sorriso bondoso, de um olhar ao mesmo tempo forte e carinhoso e de uma boa conversa. Com tais atributos, não é difícil de entender as razões pelas quais fizeram a Bahia e o Brasil amar esta baiana, que esconde por trás de um corpo frágil, uma força tamanha, que conforme ela, vem de sua fé.
Quando uma amiga ou vizinha entra na casa, coisa que acontece o tempo todo, Dona Canô imediatamente engrena uma conversa. Comenta sobre a festa que teve no fim de semana, sobre a inauguração para a qual foi convidada, sobre a homenagem que recebeu... Tudo é motivo para uma boa prosa. Mesmo os turistas, e não são poucos os que vão à avenida Ferreira Bandeira, número 179 para conhecê-la, encontram as portas sempre abertas. Não importa quem seja, todos são bem-recebidos por ela.
HÁBITOS - Dona Canô acorda cedo, por volta das 6 horas da manhã. Segundo ela, come de tudo, mas “bem pouquinho”. No cardápio, sempre recheado de frutos do mar e moquecas, não faltam azeite de dendê, leite de coco e o que mais fizer parte do tempero. Moqueca de arraia com pirão de leite é um de seus pratos prediletos. Costuma dormir depois das 20 horas. Sobre sua cama sempre tem algo pra ler, o tipo de leitura não importa, ela lê jornal, revista, livro, história, poesia, sendo esta última a sua preferida. Massagem e fisioterapia fazem parte da sua rotina. “Os filhos acham que devo fazer e eu faço”, diz ela, obediente e resignada.
Se perguntada sobre sua fama, Dona Canô garante que não entende: “Apenas fiquei conhecida por causa de meus dois filhos (Caetano Veloso e Maria Bethânia) que nunca se esqueceram de onde vieram nem da mãe que têm”. Seu nome batiza um centro oftalmológico para pobres, um teatro e uma biblioteca na cidade. Em seus aniversários nunca quer presentes, só comida ou material de higiene que recolhe para doação. Quando ela passa nas ruas, todo mundo já sabe: Dona Canô está indo fazer o bem. Segundo ela, está aí a razão de sua longevidade: “Recebo e dou muito amor, tenho prazer de viver e paciência, sei que tudo tem seu tempo”.

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