18 maio 2009

Leve, ágil, cortante e irreverente traço de Lage (6)


No livro Feras do Humor Baiano o jornalista e pesquisador Gonçalo Júnior dá seu depoimento sobre Lage. Eis um trecho: “Excessivamente calado, Lage só abria o bico na edição do dia seguinte, com seu traço majestoso e a marca da simplicidade dos grandes artistas. Estaria a obviedade de Lage atrelada ao que lhe cabe como artista? Basta contextualizá-lo na Bahia dos últimos 30 anos para observar com alegria que Lage submerge como um falcão, a voar bem lá no alto sobre o marasmo e a mediocridade que sempre marcaram o humor na Bahia – exceções, claro, para Nildão, Valtério e o mineiro-baiano Cauh. Seu humor é engajado, militante sem ser partidário, contestador, enfim. Portanto, mais que óbvio, é essencial, puro, em estado bruto. Exatamente como deve ser. Quando faz charges para terceiros, Lage o faz por convicção, por simpatia política, como nos saudosos anos 70”.

“Lamentavelmente, ao contrário da maioria dos artistas do reino encantado do axé – principalmente na música -, para quem política e arte têm uma combinação burra, estúpida e subserviente. De uma outra forma meio puta – de prostituta mesmo. É a ´política´ da bajulação dos governantes. Da eterna reverência ao rei gordo e temido, feita de cima dos trios. Ou o engajamento pelos cachês estatais pagos através da Bahiatursa para animar as inaugurações e comerciais de teve. Ou desembolsados por candidatos não muito comprometidos com os problemas sociais para subirem em seus palanques de campanha. Como é confortante fisgar Lage desse festivo universo”.

“Três décadas depois de sua estréia, após três presidentes militares, uma ditadura, um regime (comunista), Lage parece ter conseguido a façanha de entrar na toca e sair com a mesma essência. O que eleva seu humor óbvio a um valor estratosférico. Para ele, deve ter sido fácil não aderir aos modismos do humor neoliberal –digamos assim – de hoje, quando os cartunistas baianos tentam apenas ilustrar editoriais e fazer rir com chavões bobos. E por que não deve ter sido difícil para Lage?. Creio que pelo seu jeito calado. Quem sabe essa característica pessoal de não abrir espaço para comentário pessoais tenha sido útil?. Nesse contexto, impressiona-me como Lage se engrandece”.
O jornalista, poeta, escritor de ficção, ensaísta e professor do Instituto de Letras da UFBA, Ruy Espinheira Filho comentou: “Conheço Lage desde 1969. Fizemos parte da equipe que, naquele ano, capitaneada por Quintino de Carvalho, lançou a Tribuna da Bahia. Lage, cartunista; eu, cronista do cotidiano. A arte de Lage nasceu madura. Desde o princípio ele se igualou aos melhores do país: traço leve, ágil, carregado de expressividade. Humor finíssimo e capaz de falar plenamente tanto ao público comum quanto ao mais exigente. Inúmeras vezes vi pessoas simples rindo dos seus cartuns e testemunhei elogios a eles dirigidos por cartunistas famosos, como, por exemplo, Jaguar. Castigat ridendo mores, como escreveu um poeta antigo. E é o que Hélio Roberto Lage faz: rindo castiga os costumes. E com isto nos diverte – e mais: nos vinga. Com grande arte”.

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