O Marquês de Sade foi um prolífico escritor que, tendo passado 27 de seus 74 anos de vida em prisões e sanatórios criou uma violenta literatura em que prazer e dor, crime e satisfação pessoal, misturam-se nas obsessivas orgias e flagelações de seus personagens. Depois que Guillaume Apollinaire, Georges Bataille, Camus, Simone de Beauvoir, Michel Foucault, Lester G. Crocker, Barthes, Pasolini, Yukio Mishima, Ingmar Bergman e Camille Paglia terem aberto ainda mais as portas, louvar o universo depravado de Sade, tornou-se quase um lugar-comum. A reabilitação de Sade constitui a consagração final. Afirma-se agora que ele foi o mais liberto de todos os revolucionários, um grande moralista da transgressão e um poeta da palavra sem dimensão moral.
A pornografia francesa do século 18 não tem limites, porém não faz da crueldade seu impulso principal. O marquês de Sade difere dos outros precisamente quanto ao sentido da palavra derivada de seu nome. Trata-se do único sádico. Essa associação sistemática da gratificação sexual com a perversidade, a dor, a tortura e o assassinato é uma novidade na história social. No ensaio sobre Sade, o filósofo Roger Shattuck escreveu: “O divino marquês representa um conhecimento proibido que não podemos proibir. Consequentemente, devemos rotular suas obras cuidadosamente: veneno potencial, poluidor de nosso ambiente moral e intelectual.
Mais de dois séculos depois de questionar duramente os valores de sua época, ao preço de anos de prisão em diferentes estabelecimentos penais, sob três diferentes regimes políticos, Donatien-Alphonse-François (1740/1814), o marquês de Sade acabou verbete de dicionário para designar perversidades inomináveis. Consumida, o mais das vezes, como esquiza pornografia, a “filosofia” bélica e insultuosa de Sade, pretendendo ampliar os recém-conquistados valores da Revolução Francesa, virou de ponta-cabeça a moral judaico-cristão em qualquer lugar em que se imponha ou seja professada, será objeto, no mínimo, de perseguição policial. Não há lugar no mundo que abrigue as radicalidades deste marquês de mais de 200 anos. Vamos conhecer um pouco mais desse autor que revirou a moral de sua época e saber que o que ele fez foi mostrar o reflexo da sociedade que vivia. Fique atento!
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VENENOS DA ALMA
Os livros do Marquês de Sade foram escritos no século dezoito. Por causa deles foi preso e chamado de monstro. Sade só foi acolhido no jardim das belas letras depois que o poeta Guilhaume Apollinaire, em 1909, escreveu um alentado ensaio sobre sua vida e obra. Em 1836 o poeta Émile Chevé escreveu umas linhas delicadas sobre o marquês, em que dizia que, após ele, ninguém, jamais, poderia reunir “em semelhante buquê todos os venenos da alma”. Em 1865 o psiquiatra Krafft Ebing, na obra “Psychopathia Secualis” escreveu a respeito de “sadismo”... “para designar uma categoria de perverso que procura o prazer na dor infligida”. Quem também se interessou pelo marques foi o filósofo Swimburne. Mas no século XX, depois do famoso Apollinaire, o marquês via ressuscitar. E são particularmente notáveis as leituras que dele fazem Georges Bataille e Pierre Klossowski. Em seguida, Simone de Beauvoir, Pierre Sollers, Alain Robbe-Grillet, Jean Pierre Faye, Roland Barthes e tantos outros nomes mais pensam Sade. E pensar Sade é caminhar em cima de linhas que marginam com o abismo. Abismo da consciência, do coração, do sexo e das relações entre os homens.
“Sade é valorizado como um sexólogo. Seu objetivo não era excitar o leitor mas, como toda literatura erótica de seu tempo, filosofar através do erotismo”, escreveu Eliane Robert Morais no seu ensaio Sade-A Felicidade Libertina. O que em geral se esquece é que Sade viveu sua atribulada vida em plena efervescência do movimento iluminista e enciclopedista, ou seja, no momento em que o conhecimento passa a ser um valor de emancipação do homem, que superaria as trevas do não-conhecido. O projeto de Sade não é coletivo mas se pauta pelo mesmo princípio: superar dogmas e preconceitos para conhecer melhor, só que revelando partes pouco desejáveis do indivíduo e da sociedade.
A pornografia francesa do século 18 não tem limites, porém não faz da crueldade seu impulso principal. O marquês de Sade difere dos outros precisamente quanto ao sentido da palavra derivada de seu nome. Trata-se do único sádico. Essa associação sistemática da gratificação sexual com a perversidade, a dor, a tortura e o assassinato é uma novidade na história social. No ensaio sobre Sade, o filósofo Roger Shattuck escreveu: “O divino marquês representa um conhecimento proibido que não podemos proibir. Consequentemente, devemos rotular suas obras cuidadosamente: veneno potencial, poluidor de nosso ambiente moral e intelectual.
Mais de dois séculos depois de questionar duramente os valores de sua época, ao preço de anos de prisão em diferentes estabelecimentos penais, sob três diferentes regimes políticos, Donatien-Alphonse-François (1740/1814), o marquês de Sade acabou verbete de dicionário para designar perversidades inomináveis. Consumida, o mais das vezes, como esquiza pornografia, a “filosofia” bélica e insultuosa de Sade, pretendendo ampliar os recém-conquistados valores da Revolução Francesa, virou de ponta-cabeça a moral judaico-cristão em qualquer lugar em que se imponha ou seja professada, será objeto, no mínimo, de perseguição policial. Não há lugar no mundo que abrigue as radicalidades deste marquês de mais de 200 anos. Vamos conhecer um pouco mais desse autor que revirou a moral de sua época e saber que o que ele fez foi mostrar o reflexo da sociedade que vivia. Fique atento!
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VENENOS DA ALMA
Os livros do Marquês de Sade foram escritos no século dezoito. Por causa deles foi preso e chamado de monstro. Sade só foi acolhido no jardim das belas letras depois que o poeta Guilhaume Apollinaire, em 1909, escreveu um alentado ensaio sobre sua vida e obra. Em 1836 o poeta Émile Chevé escreveu umas linhas delicadas sobre o marquês, em que dizia que, após ele, ninguém, jamais, poderia reunir “em semelhante buquê todos os venenos da alma”. Em 1865 o psiquiatra Krafft Ebing, na obra “Psychopathia Secualis” escreveu a respeito de “sadismo”... “para designar uma categoria de perverso que procura o prazer na dor infligida”. Quem também se interessou pelo marques foi o filósofo Swimburne. Mas no século XX, depois do famoso Apollinaire, o marquês via ressuscitar. E são particularmente notáveis as leituras que dele fazem Georges Bataille e Pierre Klossowski. Em seguida, Simone de Beauvoir, Pierre Sollers, Alain Robbe-Grillet, Jean Pierre Faye, Roland Barthes e tantos outros nomes mais pensam Sade. E pensar Sade é caminhar em cima de linhas que marginam com o abismo. Abismo da consciência, do coração, do sexo e das relações entre os homens.
“Sade é valorizado como um sexólogo. Seu objetivo não era excitar o leitor mas, como toda literatura erótica de seu tempo, filosofar através do erotismo”, escreveu Eliane Robert Morais no seu ensaio Sade-A Felicidade Libertina. O que em geral se esquece é que Sade viveu sua atribulada vida em plena efervescência do movimento iluminista e enciclopedista, ou seja, no momento em que o conhecimento passa a ser um valor de emancipação do homem, que superaria as trevas do não-conhecido. O projeto de Sade não é coletivo mas se pauta pelo mesmo princípio: superar dogmas e preconceitos para conhecer melhor, só que revelando partes pouco desejáveis do indivíduo e da sociedade.
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