“Os feitos de Maria Felipa de Oliveira – continua Eny Kleyde – contidos nos diálogos com os itaparicanos, Cartas de Cessão, com firma reconhecida e autores renomados como Ubaldo Osório, Xavier Marques e João Ubaldo Ribeiro, expressam emoções que permitem um retorno simbólico à ancestralidade – o continente africano enquanto lugar da família de origem”.
A doutora em história social pela Universidade de São Paulo (USP) e diretora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Lina Aras ao falar do papel que coube às mulheres na guerra da independência da Bahia informa: “Elas estavam basicamente na retaguarda. Na própria conquista da América já encontramos uma mulher cuidando dos feridos, das enfermarias, da alimentação dos soldados, costurando os uniformes. Não temos que valorizar apenas quem pegou nas armas, mas quem esteve participando para que essa força armada fosse vitoriosa. Essas mulheres também merecem vir à tona. Para isso é necessário pesquisa. Elas estão aí nos documentos, resta que pesquisemos”.
E diz mais: “Elas romperam com o padrão estabelecido naquela época, saindo do lugar onde eram colocadas como subalternas para terem um lugar à frente da história. Assumiram a dianteira. A Maria Felipa tem uma característica interessante porque ela faz parte de uma memória que hoje é muito valorizada. A documentação sobre ela é bastante escassa, mas isso não quer dizer que não tenha tanta importância quanto as outras, inclusive Maria Felipa lutou sem precisar de nenhum outro recurso que não fosse ela própria e o sentimento de defesa do grupo da Ilha de Itaparica”.
NOTORIEDADE - Um momento histórico importante em que mulheres ganharam notoriedade na Bahia foi durante as lutas pela Independência do Brasil. Personagens como Joana Angélica, Maria Quitéria e Maria Felipa – esta ainda pouco conhecida – se destacaram nesta época. Maria Felipa de Oliveira participou das lutas pela independência, na Ilha de Itaparica. Negra, alta, corpulenta, ela liderou a resistência popular à invasão da ilha, durante a guerra pela independência do Brasil. Sua bravura foi narrada no romance “Sargento Pedro”, do escritor baiano, Xavier Marques, também nascido em Itaparica. Durante muito tempo seu nome foi ocultado da história. Somente depois de mais de 180 anos da conquista da independência sua atuação foi relembrada. A lenda sobre Maria Felipa dá conta de que ela liderou a queima de 42 embarcações da frota portuguesa na Praia do Convento.
Atualmente, Maria Filipa é considerada matriarca da Independência de Itaparica, devido a seu ato de bravura contra os portugueses nas praias da Ilha. Seus feitos heróicos foram mencionados, inicialmente, nos estudos do historiador Ubaldo Osório Pimentel. Em 2007, a heroína entrou no circuito oficial das comemorações do 2 de Julho, como uma das grandes homenageadas pela Independência baiana.
RESGATE - Segundo pesquisa de Eny Farias, Ubaldo Osório relata que em janeiro de 1905 o Conselho Municipal da Ilha de Itaparica recebe um abaixo assinado, solicitando que determinada rua passe a ter o nome de Maria Felipa. Uma das ruas de Itaparica tem o nome de Maria Felipa, porém isto só ocorreu em 2007, ou seja, em mais de um século. O silêncio que faz calar o nome de Maria Felipa faz lembrar a autora Neusa Souza, que escreveu a obra “Tornar-se Negro”, na qual afirma que “saber-se negra é viver a experiência de ter sido massacrada em sua identidade, confundida em suas perspectivas, submetida a exigências, compelida a expectativas alienadas”. Os diálogos na Ilha apontam o fato de Maria Felipa ter sido negra como motivo para seu esquecimento nos livros didáticos e nas comemorações. Contudo, lembramos mais uma vez Neusa Souza quando comenta que a experiência de ser negra é de igual modo “comprometer-se a resgatar sua história e recriar-se em suas potencialidades”.
“A heroína excluída das festividades no dia em que se comemora a independência da Bahia é historiada por Ubaldo Osório, que, inclusive, presta homenagem a Maria Felipa ao colocar o seu nome na primeira filha. Outro autor que comenta sobre ela é Xavier Marques em seu livro Sargento Pedro, premiado pela Academia Brasileira de Letras em 1920. Jurandir Pires Pereira cita seu nome, considerando-a como heroína, e, em 1985, João Ubaldo Ribeiro trata de Maria Felipa como Maria da Fé, atribuindo-lhe diversas atitudes políticas no seu famoso livro Viva o Povo Brasileiro” E conclui: “As Faculdades Integradas Olga Mettig se orgulham em ter retomado as pesquisas sobre a heroína e de ter somado novas revelações com a Irmandade do Rosário do Pelourinho, na criação da Casa Maria Felipa, quando coordenou o Curuzu: Corredor Cultural da Liberdade, quando divulgou em jornais de Salvador os feitos desta mulher negra e apresentou trabalhos em dois eventos: I Congresso de Pesquisadores Negros da Bahia e no Seminário A Abolição Inacabada”. É preciso divulgar mais os valores da nossa terra.
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SOPRO DE JANIO LOPO
Foi como um sopro
que conheci Janio Lopo.
Um sopro de esperança e fé,
sopro de quem sabe quem é.
Tem consciência e sabe o que quer.
No jornalismo baiano não pulsa um texto qualquer,
seu trabalho ético é rico em argumento,
denso, mas com palavras livres e isento
de manipulação e sofrimento.
Ficará marcado não só na pele,
mas no coração de toda essa gente.
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