Numa época em que existia alta e baixa cultura, o preconceito contra a cultura popular, incluindo aí as histórias em quadrinhos, Paraíso não esqueceu de seus sonhos de infância. Foi nele beber na fonte a inspiração para produzir quadros baseados em personagens dos velhos gibis da infância. Em outros países os quadrinhos entraram na moda através do movimento artístico pop art. A Pop Arte anunciou o fim dos limites entre “alta” cultura e cultura popular. A linguagem da cultura urbana, presente nas estéticas dos quadrinhos, dos anúncios de propagandas, do design de produtos e da fotografia, passou a ser celebrada pelas artes plásticas num movimento que irrompeu no final dos anos 1950 quase que simultaneamente na Inglaterra e nos Estados Unidos. Com uma visão irônica e crítica, mas muitas vezes positiva, em relação à cultura, ao consumo e aos meios de comunicação de massa, os artistas da Pop Arte faziam obras atrevidas e revigorantes, que sintonizavam com um mundo que emergia transformado após a Segunda Guerra Mundial.
Ao retratar objetos comuns, como latas de sopa, embalagens de sabão em pó, fotografias de artistas, e às vezes até mesmo ao incorporá-los às obras, a Pop Arte se opôs, para muitos, ao Expressionismo Abstrato, representante da “alta” cultura e que dominava o cenário das artes plásticas, e também às pretensões da avant-garde contemporânea. Historiadores afirmam que os artistas da Pop Arte se propuseram a fazer uma arte mais objetiva e universalmente aceita, democrática, que fosse acessível tanto aos conhecedores como a pessoas que não estivessem familiarizadas com o universo das artes plásticas.
Mas nem todos a viam assim. Muitos críticos a acusavam de conformista, burguesa, arte da publicidade que procura nos inserir num mundo consumista, banal e vulgar. A Pop Arte surgiu num momento em que outros fenômenos culturais de massa ganhavam terreno, como a televisão, o cinema holywoodiano, o rock e a música jovem, as histórias em quadrinhos e as ilustradas e coloridas revistas populares. No campo econômico e comportamental instalava-se uma atitude consumista, impulsionada pela impressionante prosperidade econômica dos Estados Unidos no período.
É discutível qual foi a mais extraordinária inovação da arte do século XX, se o cubismo ou a pop art. Ambos surgiram de uma rebelião contra algum estilo já convencional: os cubistas achavam que os pós-impressionistas eram comportados e limitados demais, e os adeptos da pop art, que os expressionistas abstratos eram pretensiosos e veementes demais. A pop art trouxe de volta às realidades materiais do dia-a-dia, à cultura popular, na qual as pessoas comuns extraíam da TV, das revistas ou das histórias em quadrinhos a maior parte de sua satisfação visual.
A pop art surgiu na Inglaterra de meados dos anos 50, mas realizou todo o seu potencial na Nova York dos anos 60, quando dividiu com o minimalismo as atenções do mundo artístico. Nela, o épico foi substituído pelo cotidiano, e o que se produzia em massa recebeu a mesma importância do que era único e irreproduzível; a distinção entre “arte elevada” e “arte vulgar” foi assim desaparecendo. A mídia e a publicidade eram os temas favoritos da pop art, que muitas vezes celebrava espirituosamente a sociedade de consumo. Talvez o maior nome dessa estética tenha sido o americano Andy Warhol, cujas inovações exerceram influência sobre a arte posterior. E o nosso Juarez estava antenado a tudo isso. “Na trajetória de Juarez Paraíso nada foi impossível fazer. Dominou o fazer artístico com a combinação mais perfeita de talento, direção política, habilidade artesanal e obstinação”, escreveu Calasans Neto.
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