01 fevereiro 2010

Devagar se vai ao longe (01)

Hoje, estamos todos mergulhados no culto da velocidade. O mundo inteiro está com a doença do tempo. Nesses primeiros anos do século XXI, todo mundo está sempre sob pressão para ir mais depressa. Sabemos que a velocidade contribuiu para modificar nosso mundo. Mas essa obsessão em estar fazendo cada vez mais em tempo cada vez menor foi longe demais, transformou-se em vício. Seja o link mais rápido na Internet, a leitura dinâmica, a hipoaspiração se a dieta não funcionar, microondas para quem não tem tempo para cozinhar, etc. Mas certas coisas não podem nem devem ser apressadas. Elas levam tempo. É bom não esquecer como é possível moderar o ritmo, porque sempre pagamos um preço. A velocidade nem sempre é a melhor política. A evolução se escora no princípio da sobrevivência do mais apto, e não do mais rápido. Lembre-se da corrida entre a tartaruga e a lebre.

O jornalista canadense Carl Honoré em seu livro Devagar (Record, 352 páginas) diz que o “slow movement” não é panfletário. Pelo contrário, é algo que acontece aos poucos, de forma discreta. De minuto em minuto, as pessoas vão questionar o porquê de fazer tudo rápido. Rapidez sempre quer dizer eficiência? Produtividade? Quantidade é igual a qualidade e relevância? Honoré mostra que, ao contrário, o fascínio pela velocidade existe em razão de motivos bem mais complexos. Vem da própria maneira como pensamos sobre o tempo. Nas tradições filosóficas chinesas, por exemplo, o tempo é visto de forma cíclica. Na tradição ocidental, ao contrário, o tempo é visto de forma linear, como algo que vai de A a B. É finito. Casado com isso vem a própria necessidade do homem de medir e fracionar com precisão a passagem do tempo – minutos, segundos e milisegundos.

Desde a invenção do quadrante solar egípcio de 1.500 a.C. até a invenção do relógio mecânico no século XVIII, a própria sobrevivência humana era um dos principais estímulos para medir o tempo. O tempo era utilizado para saber quando plantar e colher. E com quanto mais precisão o homem medisse o tempo, melhor. A busca pela precisão na medição do tempo virou questão de Estado. Meio contraditório, mas quanto mais o homem tenta controlar e entender o tempo, mais ele fica refém. Neste sentido, o relógio é a tecnologia que melhor simboliza essa tentativa do homem de entender e medir o tempo. E o fascínio pela velocidade é mais um daqueles efeitos a longo prazo proporcionados por uma tecnologia, mas que foi subestimado em sua devida época por especialistas

Cada coisa tem seu tempo. Algumas devem ser rápidas. Outras mais lentas. O problema é que, na maioria das vezes, estamos fazendo tudo rápido. É interessante notar que, depois da medicina, a área de jornalismo talvez seja a que mais vive em conflito com o tempo. Na medicina, velocidade é crucial. Um paciente ferido a bala, por exemplo, precisa ser tratado o mais rápido possível. Segundos se tornam muito importantes. Mas, ao mesmo tempo, mais rápido nem sempre quer dizer melhor, principalmente em tratamentos. Não é à toa que a medicina alternativa ganha espaço.

No jornalismo, velocidade também é primordial. Não é sem motivos que os produtos do jornalismo têm nomes ligados à questão do tempo. Jornal Hoje, Jornal Zero Hora, 60 minutes. Ter prazos é bom. Faz o trabalho ficar mais focado. Em seu último livro, Vida de Escritor, o jornalista Gay Talesse mostra que a falta de prazo faz você perder o foco. Mas, por outro lado, a velocidade faz cair a qualidade principalmente em relação à checagem de informações.

“Hoje em dia, existimos para servir à economia, e não o contrário. O excesso de horas no trabalho acaba nos tornando improdutivos, sujeitos a erros, infelizes e doentes. Os consultórios médicos estão cheios de pessoas acometidas de problemas causados pelo estresse: insônia, enxaqueca, hipertensão arterial, asma e distúrbios gastrointestinais, para citar apenas alguns exemplos (...) Existem ainda outras maneiras pelas quais o excesso de trabalho também constitui um risco de saúde. Ele deixa menos tempo e menos energia para os exercícios, tornando-nos mais possíveis de beber álcool demais ou recorrer a alimentos pouco saudáveis. Não é mera coincidência que os países mais rápidos também sejam os mais gordos. Cerca de um terço dos americanos e um quinto dos britânicos são hoje considerados obesos do ponto de vista clínico. Até mesmo o Japão está acumulando quilos”.


E o que acontece hoje em dia é que muita gente já não considera o café suficiente para se manter no ritmo do mundo moderno, e começa a buscar estimulantes mais potentes. A cocaína continua sendo a carga de reforço favorita, mas as anfitaminas (speed) estão chegando perto. A utilização dessa droga nos locais de trabalho nos EUA aumentou em 70% desde 1998.


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