O mineiro conciliador e conservador Tancredo Neves adoeceu logo depois da vitória no Colégio Eleitoral e morreu. Não governou nem um dia. Toma posse o vice, um representante da retrógrada oligarquia do Maranhão, José Sarney para governar quatro anos (1985-1990). Ele queria cinco, e para isso faz a maior distribuição de concessões de rádios e tevês. Inaugurou e consolidou uma relação com o Congresso que está viva até hoje, o “é dando que se recebe” turbinando o processo de corrupção do Brasil. Sarney estava longe de ser o candidato dos sonhos dos brasileiros e poderia ter passado despercebido ao longo de quatro mandatos, não tivesse Tancredo Neves morrido sem chegar a assumir a Presidência. Formado em direito, Sarney foi o último presidente a não ser eleito pelo voto direto e não influiu na sucessão. Com vários planos econômicos (Cruzado, Bresser, Verão) não conseguiu segurar a epidemia inflacionária. Sarney deixou o descontrole da inflação como a grande herança de seu governo. Isso sem falar no “trem da alegria”.
A primeira eleição da Constituição Cidadã de 1988 elege o desconhecido governador das Alagoas, Fernando Collor de Mello (1990-1992). Ele juntou um discurso oposicionista com a moralidade administrativa e conseguiu mobilizar a multidão. Ao chegar no poder congelou as contas bancárias para conter a inflação. Não adiantou. Com a economia enfraquecida, uma turbulência política começou a inviabilizar o governo: acusações de corrupção ficaram cada vez mais intenso. Em vez de mandar apurar, Collor reagia atacando a oposição, o Congresso e a mídia com diversas manifestações, passeatas e protestos, a OAB e a ABI deram entrada no Congresso a um pedido de impeachment do presidente. Para tentar fugir da perda dos direitos políticos, Collor renuncia à Presidência da República.
Foi o mais negro capítulo da história política do Brasil. Assim, com o apoio das elites, o jovem alagoano vence as eleições e o palácio do governo começava a se tornar o centro de uma vasta rede de corrupção e negociatas, na qual projetos só andam se movidos a propina (e ainda continua hoje). Multidões saem às ruas e o presidente sofre impeachment, mas se livra da prisão. Meses depois ele e a esposa estavam numa ilha do Taiti. Mais tarde o casal se muda para Miami, onde o ex-presidente nega ter a Ferrari de US$120 mil e a casa com torneiras folheadas a ouro que estaria construindo... A suposta quadrilha durante a era Collor em Brasília não seria a única a saquear os cofres da nação.
Assume um obscuro político de Minas Gerais: Itamar Franco (1992-1994). Começava a República do Pão de Queijo e o professor e sociólogo Fernando Henrique Cardoso se destaca ao liderar o Plano Real, uma nova fórmula articulada para não permitir que a inflação contaminasse a nova moeda, o Real, e brecar o círculo vicioso do aumento de preços e salários. O plano demonstrava que conseguia conter a inflação já em 1994, no último ano do governo Itamar. Fernando Henrique capitalizou o sucesso inicial e se lançou candidato à Presidência da República.
O governo Itamar entrou para a história menos por seus feitos políticos e façanhas econômicas do que pelas atitudes polêmicas de seu protagonista. Quando ele decidiu proporcionar a milhões de brasileiros a possibilidade de realizar o sonho de adquirir um carro (a Volkswagem voltou a produzir o velho Fusca) a iniciativa lançou as bases de uma nova geração de carros “populares”. O despenteado Itamar acertou errando – ou deu certo sem saber bem por quê.
E para enfrentar o líder popular Luiz Inácio,o professor da USP, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), líder da esquerda intelectual, avançou para o centro (aliou-se a direita representada pelo PFL, hoje Democratas), e montou no cavalo do Plano Real, que o levou para a Presidência da República. Ao assumir o poder FHC não só já não pertencia ao PMDB como fazia questão de deixar claro que abrira mão de várias de suas antigas convicções (“esqueçam tudo que eu escrevi”). Escândalo público e financeiro comprometeram a transparência de seu governo e, embora não envolveu pessoalmente o presidente, rivalizam, pelo menos nos números com a roubalheira dos anos de lama da era Collor.
O controle da inflação proporcionou uma melhoria no poder de compra da população. Para segurar a inflação, o governo autorizou a importação de alguns produtos, e com mais dinheiro a população entendeu que era o liberou geral. O déficit da balança comercial aumentou, obrigando o governo aumentar os juros para atrair capitais especulativos. O arrojo no crédito provocou quebradeira em muitas empresas e o índice de desemprego foi parar nas alturas. Os tucanos mudaram a Constituição e instituíram a reeleição. FHC é reeleito, mas aí vieram as crises internacionais. O remédio foi aumentar as taxas de juros e veio a consequente diminuição do crescimento e aumento do desemprego. A oposição acusou FHC de entregar o Brasil ao capital estrangeiro e provocar uma desnacionalização das empresas brasileiras. A esquerda acusava os tucanos de neoliberalismo. O capitalismo global passou por crises maiores ou menores que comprometeram a estabilidade do segundo período de FHC, atrofiando o crescimento, insuflando a volta da inflação, o aumento da divida pública e a queda da popularidade do presidente e de seus aliados. O governo iniciou um processo de privatização de e,presas estatais, e pôs à venda as empresas de telefonia e comunicações, eletricidade e promoveu a abertura do capital da Petrobras e da Companhia Vale do Rio Doce. Denuncias de propina, de favorecimento de grupos econômicos não faltaram, e incentivaram o slogan: “Fora, FHC!”.
O metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) foi o primeiro trabalhador a assumir a Presidência da República, depois de três derrotas para seus adversários, Collor e Fernando Henrique Cardoso. Lula chegou ao poder apoiado no Partido dos Trabalhadores, que ajudou a fundar, e na esperança de milhares de pessoas de que iria por em praticas as linhas mestras do partido, ou seja, melhoria das condições de vida dos trabalhadores e miseráveis. E o que foi plantado no governo de FHC brotou e cresceu nos dois mandatos de Lula. De retirante nordestino a maior líder sindical da história do país, graças a sua dedicação e tenacidade, eleito o primeiro operário presidente. Assim a sequencia de presidentes da elite (industrial, fazendeiro ou intelectual) foi interrompido. E mesmo com a arrecadação da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), o imposto sobre o cheque, os recursos eram destinados para fazer o superávit e pagar a dívida interna. A inflação foi contida, caindo nos anos seguintes. As commodities como soja, carne, minério de ferro, celulose e outras subiram de preço e puxaram o crescimento do PIB, ainda de que de maneira humilde: 1% em 2003; 3,7% em 2006 e 5,3% em 2007.
Para ler:
O Livro dos Políticos, de Heródoto Barbeiro e Bruna Cantele. Ediouro. 2008
História do Brasil – Os 500 anos do país. Folha de S.Paulo. 1997
Viagem pela História do Brasil, de Jorge Caldeira e outros. Cia das Letras. 1997
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Para ler:
O Livro dos Políticos, de Heródoto Barbeiro e Bruna Cantele. Ediouro. 2008
História do Brasil – Os 500 anos do país. Folha de S.Paulo. 1997
Viagem pela História do Brasil, de Jorge Caldeira e outros. Cia das Letras. 1997
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