17 agosto 2009

Photographie: 170 anos (1)

Costuma-se considerar o dia 19 de agosto de 1839 como o dia de nascimento da fotografia, data em que a invenção do daguerreótipo (aparelho revelador, que usava chapa de cobre sensibilizada com prata e tratada com vapores de iodo) – depois de anunciada pública e oficialmente em Paris pelo astrônomo François Arago, secretário da Academia de Ciências francesa – foi revelada em seus detalhes técnicos, tornado possível a sua realização em qualquer parte do mundo.

Louis Jacques Mande Daguerre, um pintor já célebre e popular, decorador de teatros e inventor do diorama, havia chegado ao daguerreótipo há algum tempo, em 1837, graças às pesquisas iniciadas muito antes por Nicéphore Niépce, com quem Daguerre havia insistido em firmar uma sociedade no ano de 1829. Para Daguerre era bastante conveniente o entusiasmo de François Arago e sua disposição de conseguir que o governo francês adquirisse a patente do daguerreotipo, recompensando adequadamente seus inventores, já que, até esse momento (janeiro de 1839), ele ainda não havia encontrado uma solução satisfatória para a comercialização do novo invento.

Diante da facilidade de obtenção do daguerreótipo, uma vez revelado o seu processo de execução, Daguerre havia descartado a idéia de uma simples patente, não tendo êxito também o projeto de uma ampla subscrição do novo processo. Quando o inglês William Henry Fox Talbot apresentou um de seus photogenic dramings em reunião da Royal Institution, reivindicando para si a invenção de um processo diferente e potencialmente “superior” ao daguerreótipo, François Arogo tratou de empreender todos os seus esforços para apressar o anúncio oficial do processo francês.

FLORENCE

Até 1976, muito pouca gente já tinha ouvido falar no nome de Hercules Florence, um pesquisador francês que viveu entre 1830 e 1879, na Vila de São Carlos, hoje Campinas. Um número ainda menor de pessoas ousaria supor que este homem seria o inventor da fotografia. Antoine Hercules Romuald Florence, utilizando-se de meios precários, realizou pela primeira vez na história – em 1833 – a fixação da imagem em papel sensível.

A intenção de Florence era a de criar uma forma de reprodução gráfica, tendo em vista a inexistência de uma tipografia na região. Só que, pesquisando a sensibilidade dos sais de prata aos raios solares, a potencialidade da amônia como fixador e a câmara obscura, ele chegou, antes dos reconhecidos e consagrados cientistas europeus, à fotografia, cuja denominação, photographie. Em 1976, uma pesquisa de Boris Kossoy tornou público invento e inventor. Depois então Hercules florence passou definitivamente à história.

PESQUISA

Boris Kossoy apresentou e documentou a descoberta de Hercules Florence. A photographie brasileira, sem sotaque, levou Kossoy (autor de uma monografia sobre Florence e o seu invento) a várias universidades norte-americanas, a proferir dezenas de palestras e a solicitar inúmeras entrevistas com historiadores. Esta cruzada pela verdade histórica sobre as origens da fotografia obteve resultado positivo. Como provas irrefutáveis do pioneirismo de Florence, o pesquisador relaciona, por exemplo, a criação do nome photographie, que surgiu em 1832 por sugestão do farmacêutico Correa de Melo, quando se sabe que essa denominação é, historicamente, atribuída ao inglês John Erschell somente em 1839.

Outra prova é o uso do negativo-positivo, enquanto a placa do daguerreótipo permita apenas uma cópia, ao que se acrescenta a constatação de que o negativo-positivo é uma invenção de Fox Talbot, posterior a 1834 e aperfeiçoada somente em 1839. E já em 1833, Florence em sua casa da obscura Vila de São Carlos, afastada dos grandes centros e sem conhecimento de outras experiências européias, revelava e fixava, utilizando a urina como substância fixadora de imagens. A comprovação de seus experimentos está preservada em manuscritos, que foram colocados à disposição de Boris nos quatro anos que se dedicou à pesquisa.

MÉTODOS

Hercules Florence usava dois métodos dephotographie: um com a câmara fotográfica e da qual existem registro de várias experiências, como a imagem da janela de Florence ou da cadeia da Vila, e o outro, bastante semelhante ao da atual copiadeira, devidamente registrado pela fotografia de um diploma da maçonaria e outra sobre os rótulos de farmácia. Escurecendo uma placa de vidro com uma lâmpada de querosene, Florence desenhava-a com uma ponta de metal, transformando a placa numa matriz.

Em seguida, aplicava ao vidro uma moldura e aparador. Na câmara escura, emulsionava-lhe nitrato de prata passando depois à exposição da luz solar. O resultado era uma cópia de contato da placa com aquela que traçara o desenho. Quem folhear extenso manuscrito de Florence – L´Amidees Arts Livre a Lui Même ou Recherches et Decouverts sur Differents Sujets Noveaux – uma compilação de seus inventos e do relato da viagem científica da expedição Langsdorff, na qual atuou como segundo desenhista, encontrará a semente de suas fotografias.

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