14 agosto 2009

Michael Jackson (1958-2009): morre o rei do pop, nasce o mito (5)

HOMENAGENS
O mundo da música de luto prestou homenagens a Michael Jackson. Seus fãs continuam a ouvir suas músicas. Vários artistas falaram sobre a perda do ícone pop.
Caetano Veloso: “A notícia da morte de Michael Jackson foi um grande abalo. Cheguei ao Teatro do Sesi de Porto Alegre e, ao ser informado, pensei imediatamente em meus filhos Zeca e Tom. Logo Daniel Jobim me veio à mente. Ele é conhecedor e devoto de Michael desde a infância. Moreno, meu filho mais velho, também dedicou afeto intenso à figura desse gênio do nosso tempo. Mas são meus filhos menores que hoje se sentem mais atraídos por seu estilo. Como todo mundo, acompanhei Michael desde que ele era pequeno. Como todo mundo, fiquei siderado pelo cantor e dançarino de Off the Wall e Thriller. Como todo mundo, fiquei entre fascinado, enojado e apreensivo diante das transformações físicas por que ele passou. O que quer que tenha havido entre ele e aqueles meninos cujos pais o processaram, acho-o moralmente superior a esses pais. Michael é o anjo e o demônio da indústria cultural. A serpente do seu paraíso e seu mártir purificador. Os talentos artísticos extraordinários frequentemente coincidem com vidas torturadas e enigmáticas. Michael era um desses talentos imensos. Dançando Billie Jean na festa da Motown ele foi sim tão grande quanto Fred Astaire: comentava o Travolta de Saturday Night Fever e o Bob Fosse do Pequeno príncipe (este, uma influência fortíssima e evidente, que nunca vi mencionada). Vou entrar agora no palco pensando em Tom, Zeca, Moreno e Daniel - e, com um nó na garganta, no sentido da nossa atividade. Ele a representava em sua totalidade, fulgurantemente, tragicamente, divinamente”.
Gilberto Gil: "Lamento que um talento tão grande, tão incrível vá embora tão cedo. Um talento que proporcionou grandes momentos. Vou sentir saudade do rei do pop".
Ivo Meirelles: "Alguém precisa reinventar a música moderna. Com Michael Jackson morre o verdadeiro jeito pop de seduzir o mundo."
Deborah Colker (bailarina e coreógrafa): “O jeito de ele dançar era hip hop, era funk, era breakdance – mas não resultava em nada disso, porque era reivenção”
Latino: "Estou chorando como o mundo inteiro deve estar. É a perda de uma geração inteira. Para mim é um choque. Sempre abri os meus shows com músicas dele. Sempre me inspirei no "showman" que ele foi".
Eduardo Lages, maestro do Roberto Carlos: "Eu e o Roberto Carlos assistimos ao show do Michael Jackson há 20 anos e depois fomos ao camarim dar um abraço nele. Para mim o Michael Jackson era o último grande ídolo pop mundial que surgiu. Era um show de talento. O Roberto Carlos sempre foi muito fã do Michael Jackson".
Gabriel O Pensador: "O Michael Jackson deixou muita música boa. Foi um pioneiro nos videos clipes. Desde criança ele já era um talento. Todas as polêmicas ficam em segundo plano neste momento"
Sidney Magal: "Eu assisti ao show que ele fez no Brasil em 1993 porque fazia questão de assistir aquele que considerava o maior ídolo de todos os tempos. Eu admirava esse artista único, que era maior do que a própria arte. Ele era um monstro com quem a gente só tinha a aprender. Tenho quase todos os DVDs e CDs dele, meus filhos cresceram ouvindo e dançando Michael Jackson. Com sua dança, ele criava coisas fascinantes com o corpo. Foi um artista inato, que desde pequeno se destacou. Tudo o que fazia era de tanto bom gosto, tão bonito, que não tinha como não aplaudir."
O escritor e jornalista Maurício Valladares considera a História da música como "uma página virada" com a morte de Michael Jackson. “O que a música será a partir de agora, com todo esse processo? Parece até que ele não quis voltar para o mundo da música, estava tudo pronto. É o artista que mais chegou às pessoas, com muita qualidade, por muito tempo. Ele era uma fábrica, uma usina de hist muito pontuais. Em qualquer época, em qualquer lugar no mundo se uma festa estiver devagar, você faz uma seleção de sequencia de Michael Jackson e pronto, vai pegar fogo - disse Valladares, apostando que o disco mais vendido do astro, Thriller, vai vender ainda mais - Ele é um deus em todos os sentidos. Ele vai ser mais do que nunca uma referência de como as coisas funcionavam ao sair de cena”.
Ed Motta: “Até hoje quando se fala em música popular, ele é a pessoa número 1 do mundo”.
A vida e a morte
é uma dança
na dinâmica do mundo pop
Jackson expulsou o sonho de si
expôs ao voyeurismo desejante de milhões
e tornou-se o efeito especial em zilhões.
Perpetuou jovem, imune ao tempo
alimentando a indústria do entretenimento.
E na história da assimulação negra ao mercado
ele foi fetiche industrial americano que se tornou libertário
foi um cidadão do momento avançado do capitalismo turbinado.
“Quando Bob Dylan se tornou cristão/Fez um disco de reggae por compensação/Abandonava o povo de Israel/E a ele retornava pela contramão//Quando os povos d'África chegaram aqui/Não tinham liberdade de religião/Adotaram Senhor do Bonfim:/Tanto resistência, quanto rendição//Quando, hoje, alguns preferem condenar/O sincretismo e a miscigenação/Parece que o fazem por ignorar/Os modos caprichosos da paixão//Paixão, que habita o coração da natureza-mãe//E que desloca a história em suas mutações/Que explica o fato da Branca de Neve amar/Não a um, mas a todos os sete anões//Eu cá me ponho a meditar//Pela mania da compreensão//Ainda hoje andei tentando decifrar/Algo que li que estava escrito numa pichação/Que agora eu resolvi cantar/Neste samba em forma de refrão://"Bob Marley morreu/Porque além de negro era judeu//Michael Jackson ainda resiste/Porque além de branco ficou triste" (De Bob Dylan a Bob Marley - um samba-provocação de Gilberto Gil)
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