22 julho 2009

A vida na cidade grande pela ótica de Eisner

Ele foi um dos primeiros a apostar no formato hoje conhecido como graphic novel: histórias longas, narrativas adultas, abordagens literárias. Poucos artistas, como ele, conseguiram unir traços de clareza quase fotográfica (na reprodução dos cenários urbanos) com um minimalismo objetivo e, ao mesmo tempo, expressionista nas feições de seus personagens. Um arguto observador do cotidiano urbano. A melancolia das histórias de Will Eisner (1917-2005) é atordoante. Quatro de seus trabalhos estão reunidos em Nova York – A Vida na Cidade Grande, um dos títulos que inauguram o selo Quadrinhos na Cia., criado pela Companhia das Letras. Nova York coloca em um volume os livros: Pessoas Invisíveis, Caderno de Tipos Urbanos, O Edifício e Nova York: a Grande Cidade.

“Nova York: a grande cidade é uma série de vinhetas, algumas delas mudas, outras não; algumas são histórias e outras apenas momentos. Enquanto Eisner estava compondo a maior parte das ilustrações deste livro, ele dava aulas na School of Visual Arts de Nova York, e há uma perspectiva de professor na forma com que muitas destas histórias são contadas, especialmente as mais curtas. A maestria de Eisner sobre o relato mudo é evidente. O diálogo, quando ele o emprega, tende a ser desenhado com um pincel grosso, um cartum onde jamais se desperdiça uma palavra, mas seu ouvido para o ritmo e o linguajar dos nova-iorquinos é natural”, informa Neil Gaiman na introdução.

E o próprio Eisner revela: “Vistas de longe, as grandes cidades são um acúmulo de grandes edifícios, grandes populações e grandes áreas. Para mim, isso não é ´real´. O real é a cidade tal como ela é vista por seus habitantes. O verdadeiro retrato está nas frestas do chão e em torno dos menores pedaços da arquitetura, onde se faz a vida do dia-a-dia”.

A leitura de Nova York marca pela tristeza, pela crueza com que narra pequenas histórias incríveis. Em “Santuário”, um dos três episódios de Pessoas Invisíveis, o protagonista é um sujeito gordo e careca chamado Pincus Pleatnik que vê sua rotina desmoronar, graças a um obituário equivocado. Não importa o quanto se esforce para afastar as coisas que mais teme – solidão, morte, doença, desejo, amor... É só uma questão de tempo para que seus maiores medos arrombem a porta da frente e o tomem de assalto. Isso pode não ser uma verdade universal, mas é uma das regras do mundo criado por Will Eisner. O Edifício acompanha as vidas de quatro pessoas relacionadas a um mesmo prédio de uma cidade grande. Os outros dois livros, Nova York: a Grande Cidade e Caderno de Tipos Urbanos são coleções de vinhetas que duram poucas páginas. Na maioria, são narrativas breves e sem palavras.

Na introdução ao Caderno de tipos urbanos o autor diz que “viver numa cidade grande pode ser comparado a existir numa selva. Tornamo-nos criaturas do ambiente. A reação dos ritmos e coreografias é visceral, e em pouco tempo a conduta de um morador fica tão singular quanto a de um habitante da selva. Vemos habilidades ancestrais e sobrevivência e mudanças sutis de personalidade afetarem o comportamento. Aqui temos uma espécie de estudo arqueológico de tipos urbanos”. Nas histórias ele mostra os principais fatores ambientais que caracterizam a cidade: tempo, cheiro, ritmo e espaço.

Assim, o mestre dos quadrinhos traça um panorama original da vida na metrópole. É um registro impressionante, desde as situações mais cotidianas até as reviravoltas mais trágicas da vida que se esconde por trás de toda grande cidade.
Essas e outras obras em quadrinhos podem ser encontradas na Galeria Retrô Quadrinhos Cultura e Arte, rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho, Salvador. Telefone 3347-4929.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um estado d´alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela)

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