Para quem gosta de histórias em quadrinhos que aprofundam a nossa brasilidade, vale conferir Os Brasileiros (Editora Conrad), do antropólogo e historiador André Toral. Neste álbum ele reúne histórias que desenhou sobre índios publicadas entre 1991 e 2008 e reapresenta o Brasil. O elemento unificador da obra de Toral é a temática do choque de civilizações, que envolve os povos indígenas brasileiros. Choque retratado em diversas manifestações, distantes umas das outras no tempo e no espaço. As histórias contemplam desde os primeiros anos da “colonização” aos conflitos contemporâneos na Amazônia. "Brasileiros é uma condição plural. Por isso que o título está no plural, ele remete a um problema: o que significa ser brasileiro? Não é uma condição única: varia com o período histórico. Os índios não podem ser retratados como vítimas das circunstâncias, porque sempre foram protagonistas da história. Eles tomam decisões ativas, não apenas reagem aos acontecimentos", diz o quadrinista.
Tanto quanto os brancos, os índios são retratados como homens, com seus próprios valores, costumes e práticas. Toral retrata a relação entre as civilizações em momentos críticos, de conflito bélico - seja em meio a guerras, seja nos fazendo acompanhar bandeirantes traficantes de índios ou nos fazendo testemunhas dos crimes que se perpetram nas selvas amazônicas.
André Toral apresenta sete narrações fictícias interligadas apenas pela relação entre brancos e índios no território brasileiro das descobertas até o passado recente. A maior parte da obra retrata os primeiros séculos depois do início da colonização pelos portugueses, quando grande parte do Brasil ainda não havia sido dominado e esta era uma terra sem lei. Esta condição atraiu para cá, além dos colonos lusitanos, toda espécie de marginais e aventureiros que não eram bem-vindos no Velho Mundo. Os europeus viam os índios como meros animais, apenas semelhantes ao homem, por isso podiam usá-los como mão-de-obra e eliminá-los conforme suas necessidades, sem ter que enfrentar nenhum tipo de lei.
VIOLÊNCIA - As ficções de Toral narram o choque cultural e social destas civilizações, mas sem mostrar os índios como vítimas gentis ou criaturas indefesas diante do homem branco, como foram retratadas em clássicos da historiografia brasileira. Partindo da violência sem limites dos bandeirantes, e passando pela fúria predatória dos fazendeiros inescrupulosos até chegar às armadilhas contemporâneas da ganância e do alcoolismo, surgem relatos impressionantes da luta de povos que resistiram e até hoje marcam presença como representantes das sociedades mais antigas e originais que fazem parte da população e da cultura brasileiras.
O paulistano Toral, professor da Faculdade de Comunicações e Artes Plásticas da Faap mostra uma identidade brasileira sempre em movimento. A começar pela violência do Brasil no século 16 através do canibalismo, praticado entre inimigos rituais (tupinambás e tupiniquins). “Nessa guerra de vingança, a violência sistematizada aparece num conjunto cerimonial. Os índios consideravam que ser comidos pelos vermes era uma morte covardes. A morte gloriosa era ser devorado pelo inimigo, era a melhor morte, era o destino ideal para um guerreiro”.
E as histórias mostram como os europeus utilizaram essa característica para obter escravos e em seu proveito. A partir dessas situações a naturalidade da violência vai se incorporando a naturalidade nacional. Em meio a rituais de devoração do inimigo e conflitos sangrentos que se arrastam da Europa até o Novo Mundo, de 1560 até aos grileiros e madeireiros de 2008, notam o quadrinho nacional em plena maturidade.
Os desenhos mais antigos são feitos em nanquim, outros, a lápis. Enquanto o nanquim é a parte do trabalho mais sério, requer mais cuidado, a parte feita em lápis é menos comprometido, e representa mais a “descontração” do meio. A cada história o leitor vai se envolvendo, mergulhando na história. Toral estreou nas HQs em 1986, com história Pesadelos Paraguaios, na extinta revista Animal. Em 1999 ganhou o troféu HQ Mix de roteirista por Adeus, Chamigo Brasileiro. Ele considera que o quadrinhista é um “diretor de cinema em miniatura”, que vive da obsessão hitchcockiana de “controlar tudo, cada pulga de uma cena”.
Essas e outras obras em quadrinhos podem ser encontradas na Galeria Retrô Quadrinhos Cultura e Arte, rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho, Salvador. Telefone 3347-4929.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um estado d´alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela)
Um comentário:
Ele é um gênio mesmo!
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