03 abril 2009

Poder da Igreja de banir as mulheres (5)

A religião confina a sexualidade à zona do secreto, criando a culpabilidade, a proibição. A essa zona onde a proibição dá ao ato proibido uma claridade opaca, ao mesmo tempo “sinistra e divina”, claridade lúgubre que é as da “obscenidade” e do “crime”, e também a da religião. Por outro lado, a medicina, na época, provava com dados estatísticos e argumentos materialistas que as mulheres foram destinadas pela Natureza ao exercício da função reprodutiva, e acenava para quem seguisse seu destino natural, promovendo a mulher-mãe e o exercício da maternidade a uma função não só natural, mas de ordem moral e política.


Nascida na sociedade judaica patriarcal da Palestina, a Bíblia denota uma sinistra associação das mulheres à tentação do pecado. Servas que tinham como principal função a procriação, elas atuavam um papel social secundário. Representam apenas 10% dos três mil nomes citados no livro sagrado, como apontou a pesquisadora norte-americana Elisabeth Cady Stanton, que em 1892 escreveu A Bíblia da Mulher. “Há cerca de 200 mulheres mencionadas pelo nome, além de outras 100 anônimas”, contabiliza a historiadora e pastora metodista Margarida Ribeiro. Pior: elas são frequentemente associadas a ações ruins, como no caso de Eva, a responsável pelo “pecado original”. Sara, a mulher de Abraão, é estéril e sofre de inveja da escrava Hagar, escolhida para conceber o filho que dará prosseguimento à linhagem.


Por séculos a leitura das escrituras sagradas foi exclusivamente dos líderes cristãos, o que permitiu que a experiência de Jesus Cristo (que quebrou o tratamento discriminatório das mulheres com seu discurso libertador, de amor e de igualdade) na Terra sofresse adaptações nem sempre fiéis à realidade. Nenhuma distorção parece ter influenciado tanto a sexualidade cristã como a da história de Maria Madalena. Personagem feminina mais citada no Novo Testamento (seu nome aparece 12 vezes), ela foi a única pessoa a testemunhar a morte e a ressurreição de Cristo, segundo os quatro evangelhos. Apesar dessa exclusividade, a personagem ficou marcada como se tivesse sido uma prostituta arrependida, possivelmente uma confusão com outras Marias mencionadas. A Bíblia conta que Jesus andava, sem preconceitos, com prostitutas, mendigos e leprosos, e que expurgou do corpo de Madalena c”sete demônios”. Esse mistério pode ter dado origem à interpretação errada. O fato é que, no ano de 591 d.C., o papa Gregório determinou que Madalena e a prostituta era a mesma pessoa. O mito vigorou por 13 séculos até que, em 1969, o papa Paulo VI desfez a confusão.


A grande influência do catolicismo como o conhecemos vem do discurso de São Paulo, um celibatário convicto. Líder de origem judaica ortodoxa que perseguia e torturava cristãos, Saulo de Tarso converteu-se ao cristianismo – e adotou o nome de Paulo – depois de uma visão milagrosa de Jesus. Passou, então, a ser o maior divulgador da doutrina fora de Jerusalém, inclusive em Roma. Depois dele, Santo Agostinho (354-386) associou o ato sexual ao pecado, discurso logo encampado em 392 pelo papa Siríco. Voraz defensor da virgindade, Siríco era o chefe supremo da Igreja quando o Império Romano assumiu o cristianismo como religião oficial, no século 4.


Rechaçado por São Paulo, o casamento dos padres da Igreja Cristã ocidental foi oficialmente proibido no século 16, quase ao mesmo tempo em que o padre alemão Martinho Lutero rompia com os católicos e dava origem ao protestantismo. A vida sexual ativa da comunidade eclesial,. Graças a Lutero, tornou-se um dos grandes diferenciais dos cristãos protestantes. O radicalismo de impor o celibato como obrigação – e não opção – aos padres diocesanos virou um fardo tão pesado para humanos de carne e osso que deu origem aos escândalos de pedofilia e assédio sexual dentro da Igreja Católica.





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A um amigo...*


Depois de uma temporada de calor em nossa cidade, Salvador, hoje pela manhã, bem cedo, choveu e a terra agradeceu para gerar bons frutos. Hoje também é o dia do meu aniversário e recebo esta pérola da bela a talentosa Cathy, uma guerreira que sabe muito bem o que quer. Ela tem foco, criatividade, personalidade (muito raro nos dias atuais). Suas palavras são bálsamos, para ficar à flor da pele, por isso divido com todos.



Quando penso em ti, penso em mim também. Por quê? Porque já faz um tempo que você é boa parte de mim.
Quando sinto você, sinto um menino, pulsando no corpo de um homem que muito já viveu, e que por isso mesmo, quer ser sempre menino para viver ainda mais. Para viver melhor.
Quando amo você, amo feito sorvete refrescante em dias escaldantes de Verão soteropolitano.
Quando olho pra você, vejo alguém que apesar dos medos, escolhe sempre a ousadia de ser feliz.
Quando olho pra você, admiro alguém que prefere a loucura à realidade. Sábia decisão!
Quando olho pra você, meu anjo pornográfico, de sorriso faceiro, de jeito maneiro, de alma infantil, de coração febril, percebo um homem que, apesar das grades, ferros e camisas-de -força diárias, luta incansavelmente pela liberdade.
E não é uma liberdade qualquer: é a liberdade de ser você mesmo! Está aí a razão maior pela qual carrego você em mim por toda parte: desejo você, meu amigo, como quem deseja a liberdade.
Você é essa coisa que chamam de “esperança”. E quantas vezes tenho recorrido a ti para reabastecer meu coração de esperança...
Quando penso em você, penso em alguém que nunca ensinou covardias ao seu próprio coração. Alguém que sangra. Alguém que não se nega. Alguém que renasce sempre dos livros que lê.
Preciso lhe dizer: você é um ariano torto, que parece viver sempre por um segundo. Um ser sem estação definida. Ora outono, ora inverno, quase sempre primavera e verão.
Você é estado líquido. Água forte, que lava, inunda, transborda.
Você é estado líquido sim! Uma mistura de lágrimas, sangue, gozo e saliva.
Você tem coração de rio, mas sua alma é de mar.
Esse mar que tantos já se banharam, e que eu, hoje, feliz, me ponho a banhar... (*Cathy Rodriguez)

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