Para Décio Pignatari, televisão é olho contra olho, olhar contra olhar, dose diária de um “midiacamento” insuportável e insubstituível, mistura de elixir e droga, que provoca reações variadas no paciente, da náusea ao vício e à paixão. Sendo vício, viciado e vicioso, o olhar da televisão é sectário. Quem não assiste televisão não pertence à seita dos “haxixins”, é perigoso como qualquer não-sectário. O olho crocodílico da televisão cola e bricola. Tudo consome, tendo em vista o consumo.
“A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo ser acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar,esquece a amplidão”. Esse é um trecho do livro da escritora Marina Colasanti, “Eu sei, mas não devia”.
"A vista é o que nos faz adquirir mais conhecimentos, nos faz descobrir mais diferenças”. O texto é de Aristóteles na abertura da Metafísica. O olhar deseja sempre mais do que o que lhe é dado ver. Todos os filósofos falaram sobre o olhar. “A vista – escreveu Giordano Bruno – é o mais espiritual de todos os sentidos”. O olhar antigo captou o movimento sob as aparências da matéria corpuscular. O olhar científico procura descrever a energia. No olhar da Renascença, o olho do pintor convive harmoniosamente com o olho do sábio. Leonardo da Vinci, pintor-cientista, dá ao olho o poder de captar a “prima verità” de todas as coisas. “O olho, janela da alma, é o principal órgão pela qual o entendimento pode obter a mais completa e magnífica visão dos trabalhos infinitos da natureza”.
Para Hegel os olhos não são espelhos do mundo e janela da alma, como escreveram Leonardo da Vinci e muitos renascentistas (ou mesmo o olho do corpo é fonte de pecado, como disse Padre Antônio Vieira) e sim o olhar que se impressiona com os acontecimentos políticos da época, pensar o mundo interior à consciência do mundo e definir o movimento de constituição da História. O homem sem consciência de si, para si, é um ser silencioso e vazio. Ele substitui a cegueira da imaginação pelo pensamento der ver: a consciência e a coisa, o sujeito e o objeto – divisões brutais que determinam com rigor as esferas do sensível e do pensado, do que vê e do que é visto.
Para que não compareceu ao lançamento do meu quinto livro "Bahia, um estado d´alma", encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 e Espaço Cultural Cinema Glauber Rocha (Praça Castro Alves) e Pérola Negra (Canela).
Nenhum comentário:
Postar um comentário