07 abril 2009

Desenhos violentamente carnais

Há 80 anos, no dia 26 de dezembro de 1929, o desenhista, ilustrador e escultor brasileiro, Roberto Rodrigues foi assassinado pela jornalista Sylvia Serafim Tibau. A motivação do crime foi uma reportagem publicada no mesmo dia no jornal carioca Crítica que insinuava que a jornalista traíra seu marido, ilustrada por um desenho de Roberto que a mostrava tendo as pernas acariciadas por um homem.

Filho querido de Mário Rodrigues, Roberto era tido como uma das grandes revelações artísticas da época, apesar de seu traço mórbido e angustiante. Trabalhava no jornal do pai como ilustrador das principais reportagens. Era de sua autoria o desenho publicado na primeira página de Crítica que ilustrava a reportagem sobre o desquite de Sylvia Serafim Tibau. Quando foi assassinado por Sylvia, tinha apenas 23 anos. Foi assassinado por engano em lugar do pai. O irmão Nelson Rodrigues tinha 17 anos na época. Na peça “Vestido de Noiva”, Nelson teria recriado o velório do irmão. E Nelson viria repetindo que seu teatro nascera da vida e obra do irmão seis anos mais velho.

O tempo passou e Roberto foi esquecido. Nos anos 80, a atriz e pesquisadora Neyla Tavares, grande fã de Nelson, se empenhou de traze-lo de volta à tona com uma publicação “Desenhos de Roberto Rodrigues”.

“Roberto começou a desenhar com cinco anos de idade. Na infância profunda. O desenho era o seu grande deslumbramento. Com 13 anos mandou desenhos que foram publicados na Revista Infantil, revista de historietas que hoje chamam de historias em quadrinhos. Era negócio de bangüe-bangue. Estava desembestado. Fazia desenho, pintura, escultura.... O homem não parava. De maravilhoso instinto. Marcado pelo sexo, todos os seus baixos relevos eram violentamente carnais”, escreveu Nelson Rodrigues (23/04/1973) no depoimento para a publicação.

“Homem bonito. O homem mais bonito que eu já vi na minha vida. Inspirava as chamadas paixões fulminantes. Foi profundamente amado. Ele tinha a chamada morbidez, coisa que os pintores de seu tempo não tinham, o que dava a seus trabalhos uma densidade, uma atmosfera que também ninguém tinha. Amigo de Portinari e Santa Rosa, seus admiradores. Não recebeu a influência européia, era maravilhosamente só em suas pesquisas. Quando absorvia um influência era para transformá-la”, escreveu Nelson.

O jornal, influente politicamente, acusava Sylvia Tibau, uma bela jornalista e literata de 27 anos, de haver traído o marido, o médico João Tibau Jr, com quem tinha dois filhos pequenos, com o também médico Manuel de Abreu, que se notabilizaria depois como o inventor da abreugrafia, sistema de miniaturização de chagas de raios X que teve largo emprego no Brasil.

No mesmo dia em que saiu a reportagem, Sylvia dirigiu-se, muito bem vestida, à redação da Crítica, no centro dório. Queria falar com Mário Rodrigues. Como ele não estava, pediu uma conversa reservada com Roberto. Sacou de repente um revólver da bolsa e deu-lhe um tiro à queima-roupa. Profundamente abalado, Mário morreria 77 dias depois do filho, em conseqüência de uma trombose cerebral.

Depois de furiosa campanha pela condenação de Sylvia, a Crítica, que defendia a candidatura de Julio Prestes à Presidência, foi empastelada por simpatizantes de Getúlio Vargas, em 1930, e acabou. Sylvia também teve um fim trágico. Envolvida num processo de falsificação de documentos e abandonada por um tenente-aviador por quem se apaixonara, suicidou-se, ao lado do filho que tivera com ele, numa cama da enfermaria da Casa de Detenção de Niterói, em 1936.

Roberto era um modernista – suas capas de revistas provam isso – e ele tinha um universo temático próprio, que refletia uma alma infernalmente atormentada. Seu trabalho estava mais perto do rococó art nouveau do inglês Aubrey Beardsley. “Seus desenhos criam uma atmosfera de sensualidade e pesadelo. O artista pertence à família de intérpretes da alma. Produziu desenhos a bico depena, pinturas à óleo e baixos-relevos em barro e gesso. Criações nas quais amores obscuros, dores ásperas e infernos interiores ganham corpo, movimento e expressão. Formas enérgicas, trágicas, maduras. Não há lugar para ingenuidade em sua obra.

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6 comentários:

  1. Sylvia11:19 PM

    Mereceu morrer!!!

    Machista e caluniador.

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  2. bah....Sylvia era uma biscate ...sua própria vida após o crime pode mostrar isso.

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  3. Anônimo1:19 AM

    Biscate ? Queeisso companheiro? De qual planeta vc vem?
    Os caras ,só porque tinham Jornal, achavam que podiam tudo, podiam acabar com a vida dela e da familia dela. Realmente acabaram . Mas foram juntos...
    E tudo teria sido diferente se nao tivessem usado o
    Jornal para destruir reputações, destruir vidas.

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  4. "Mereceu morrer!!! Machista e caluniador." disse a Sylvia. Fico me perguntando: Haveria algum homem não machista em 1929? Haveria homens feministas hoje? Neste raciocínio radical e revolucionário, a "pena de morte" pelo crime de machismo e calúnia,resultaria no aniquilamento da metade da humanidade.

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  5. Sempre procuro o nome da Sylvia e encontro um blog.
    O cara era excelente artista?. Porque se preocupar se a mulher tava traindo?. Porque gastar páginas do jornal com caso particular.
    Com tantos canalhas hoje na grande imprensa ......

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  6. Anônimo7:23 PM

    Só uma feminista imbecil, ignorante e pestilente pode comentar as obscenidades que vomitou "Sylvia" pelos dedos. Roberto nada teve a ver no assunto, foi um redator que desobedeceu Mario Rodrigues pai, quem deu a ordem de preservar a mulher.

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