Em um filme de aventura intitulado “O Vôo da Fênix” um grupo de pessoas está perdida no deserto. Em um momento de alta tensão um deles pergunta a um outro se ele é religioso. A resposta: “A espiritualidade não é religião. A religião divide as pessoas. A crença em alguma coisa une”. A religião em geral busca dirigir-se a todos os homens sem distinção, para lhes oferecer os “meios de salvação”, e não explicações (metafísicas) sobre a verdade pura e a natureza profunda das coisas – apesar de essas explicações serem oferecidas indiretamente e simbolicamente.
O filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844/1900) em sua obra “Humano, demasiado humano” afirma que os sacerdotes até hoje vivem da anestesia dos males humanos. E na vantagem de ter religião ele escreveu: “Existem pessoas sóbrias e eficientes, às quais a religião está pregada como uma orla da humanidade superior: estas fazem muito bem em permanecer religiosas, pois isso os embeleza – Todos os homens que não entendem de um ofício qualquer das armas - a boca e a pena contam como armas – se tornam servis: para eles a religião cristã é útil, pois nela o servilismo toma o aspecto de uma virtude cristã e fica espantosa – é muito vazia e monótona se tornam facilmente religiosas: isto é compreensível e perdoável, mas elas não têm o direito de exigir religiosidade daqueles para quem a vida não transcorre cotidianamente vazia e monótona”.
“Podemos continuar a consumir nossas comodidades, a minimizar perigos, a ignorar o misterioso e o desconhecido, e a desencorajar a criatividade, até o mundo ficar tão seguro para nós que nos tornaríamos ´inextirpáveis, como a pulga´. Ou podemos nos empenhar por nos tornarmos algo mais que ´humanos, demasiadamente humanos´, e aspirar ao Ubermensch (super-homem). O último homem é o burguês consumado, o utilitário satisfeito, o pamonha absoluto”.
“A igreja se mete nessa história porque tem seus próprios interesses. Os funcionários de todas as religiões vivem da figura de Deus. Essas pessoas quer acreditam nisso, têm que continuar acreditando, porque é Deus que dá a comida, a roupa, o prestígio e o poder para eles, no sentido exato da palavra. Quanto mais pobre e sem cultura, mais a pessoa é dependente da religião” (Elsimar Coutinho, médico, em entrevista a revista Ana Magazine nº01, 2006).
A história da humanidade tem sido a história de personagens masculinos, sejam eles guerreiros, sacerdotes, heróis ou artistas. A influência da tradição sempre foi reforçada e, em certa medida, continua sendo até hoje pela religião, instituição de marcado caráter conservador. Com o passar do tempo a mulher transformou-se, ela mesma, num agente de reprodução do sistema, cooptada pela ideologia paternalista, que tem como premissa a legitimidade da autoridade masculina sobre o conjunto da sociedade. De todos os milhares de mitos da criação imaginados por povos de todos os lugares, as histórias da criação e de Adão e Eva, que abrem o Gênese, dupla narrativa produzida há muito tempo por obscuros semitas foi a que triunfou nas três principais religiões monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo.
Em seu livro sobre “A Assustadora História da Maldade”, Oliver Thomson traz uma profunda compreensão das complexas relações entre as crenças de uma sociedade e seu comportamento. A idéia dominante e provocativa do autor é que a moralidade está sujeita aos costumes e aos caprichos dos ricos e poderosos, como em qualquer outro aspecto da vida humana. Para a maioria de nós, todo código ético propõe a virtude e condena o mal. Entretanto, muitos crimes foram e são cometidos em nome do que se supõe ser a virtude, caminho para o poder ou o prestígio, em todos os períodos históricos. O genocídio fez parte da ética fascista, o infanticídio, de espartana. Os jesuítas praticavam a tortura, os puritanos queimavam as bruxas, os membros do IRA e do ETA crêem na validade do assassinato. O que faz com que o conceito do bem (e, portanto, o do mal) mude conforme a época, o povo e o contexto sócio econômico?
Todos os períodos da História abrigaram seus próprios dissidentes. Sociedade alguma jamais foi inteiramente normalizada, mesmo tendo cada uma estabelecido suas normas. Houve agnósticos em plena Idade Média cristã, libertinos no século 19, pornocratas na Inglaterra calvinista, despreocupados pacifistas às vésperas da Grande Guerra, puritanos declarados em maio de 68, etc. As grandes evoluções da moral sexual nunca envolveram a coletividade como um todo. Elas tiveram apenas uma significação majoritária, global, antropológica. Ficar de acordo com os valores dominantes em seu tempo ou se confrontar com eles, aceitar o peso do holismo ou oferecer-lhe resistência, esta margem permanece sempre em aberto. E remete cada homem a sua irredutível liberdade. A pressão coletiva é sempre poderosa, mas nunca o é de forma absoluta. Nos artigos a seguir vamos conhecer o poder da Igreja em esconder certas “verdades” em benefício próprio. E o povo que vai pastar. É a sua mensagem.
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