Iguais e diferentes
alguns fazem poesia, outros lamentos
e muitos poucos fazem coisas surpreendentes.
Diferimos uns dos outros pela estatura,
pela pele clara, morena ou mesmo escura
e até mesmo pela magreza ou por muita gordura.
E o sentimento de amor chega para todos
uns bem mais, outros muito pouco
mas quando chega deixa qualquer um torto.
Mas quando se ama faz qualquer loucura
uns para o bem, outros pela tessitura
é a imperfeição do amor mesmo com candura.
Decifro
em um silencio de fevereiro
os dedos aflitos de minha saudade
sobre o peito que se completa de pelos.
Decifro o seu olhar
em uma volta que o relógio dar
não ousar escolher o esquecimento
esqueço de mim seu olhar atento.
Decifrei o seu toque
nos dedos ocultos de meu bosque
e na paisagem imprópria e indecente
acorda as estrelas afastadas, indiferente.
Decifrei o seu paladar
degustando minha saliva de amar
abrindo todas as comportas fechadas
de meus poros, deixando-me acreditar.
Decifrei a sua audição
nos compassos de seu corpo, no seu coração
no som de seu molejo, no trajeto de seu ensejo
no primeiro olhar, primeiro beijo, primeiro toque, traição.
Sol na pele
e o vento no corpo inteiro.
Ela trazia o calor do sol na pele
e o gosto de sal exalando célere.
Ela trazia o brilho da luz no olhar,
manhãs iluminadas num simples piscar.
Ela trazia o cheiro perfumado no beijar
e o gosto doce e molhado de amar.
Seu sussurro na noite não chega a som,
mas, toca na minha pele uma brisa vã.
Há uma atmosfera no ar que me acalma,
e onde nossos corpos se agasalha.
E a noite vai passando docemente
nos lençóis da nossa cama lentamente.
E tudo dela fala: o cheiro, a cor, a brasa,
corpos saciados e só a boca se cala.
Ela sorri e faz gesto largo,
o quarto brilha e reluz, somos luz.
Agora está em mim e não se perde,
confidência suave e me aquece.
Parece um sonho sereno e disperso,
se for é sereno e não desperto.
Tatuagem
Quero tatuar na minha pele
todas as formas de seu corpo
que minha visão excita
meu paladar agita
meu tato transmita
minha audição incita
e meu cheiro infiltra.
Tudo isso circulando em corpo
como energia nos limites entre a cabeça e os pés
maremotos, incêndios, tempestade
quero estar agora no por do sol de fim de tarde.
De um céu transmutado de vermelho em abismo alaranjado
inflamado no caráter dionisíaco de sua nudez
e a minha flacidez se infla, se retesa em flecha
entre as formas arredondadas de seu corpo febril
e rios de energia escorrem entre montes-seios
até o vale-púbis sobre o branco colchão
e os corpos fundidos em corrosões
ondas de energias fagulham filosofia
é a vida, é a vida, é a vida
num êxtase de sensação desmedida.
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