27 novembro 2008

A fama eterna de Andy Warhol (2)

Personagem obrigatório nos acontecimentos sociais de Nova York, ele usava seus cabelos, tintos, platinados e quando rarearam foram substituídos por perucas no mesmo tom e corte. Óculos de aros coloridos ele já usava na década de 50. Na moda, lançou o clássico e trivial look despojado: calça jeans, tênis e paletó escuro. No universo povoado por pessoas e situações do então “submundo das artes”, Warhol foi o responsável pelo lançamento do grupo Velvelt Underground na cena pop novaiorquina dos anos 60. O grupo não só apresentou Lou Reed ao mundo como mostrou aos hippies que havia muito mais sujeira embaixo do tapete do que o movimento flower power imaginava. Além de Lou Reed e John Cale, cabeças do Velvet, no Greenwich Village, Wahol introduziu a cantora alemã Nico ao grupo e passou a incluí-la na maioria de suas performances, projetos multimídia e filmes.

Em 1969, Warhol fundou a revista Interview, uma espécie de órgão oficial do grupo eclético que ele frequentava: artistas, modelos, fotógrafos, roqueiros, estilistas de moda, atores e gente famosa simplesmente por ser famosa. Ele editou livros, produziu filmes e apresentações no estúdio que mantinha em Manhattan, chamado Factory (Fábrica) e viveu cercado por uma fauna de gente pouco convencional. Depois era visto com frequência na discoteca Studio 54.
SURPRESA
Warhol foi um dos fundadores da pop art nos Estados Unidos. A pop art nasceu na Inglaterra, mas iria se desenvolver plenamente nos EUA, onde, em pouco tempo, tornou-se o primeiro movimento realmente norte-americano em arte, o que foi confirmado em 1964, quando Robert Rauschemberg tirou o grande prêmio da Bienal de Veneza, para surpresa dos europeus, que se consideravam os donos da arte mundial e inventores de todos os movimentos de arte do século XX. A pop floresceu nos EUA porque é essencialmente uma expressão estética da sociedade de consumo e da cultura de massa.
Responsável pela frase de que todo mundo, no futuro, seria famoso por 15 minutos, Warhol foi um marco na arte norte americana. Retratou personalidades e produtos com a frieza de uma máquina tendo conquistado fama e prestígio só comparáveis aos grandes artistas do século. Na época, o diretor do Museu de Arte Moderna de Nova York, Richard Oldenburg resumiu o perfil do artista que ajudou a criar as bases da pop art: “Warhol fez seu estilo de vida uma obra de arte... Foi uma das primeiras pessoas a se transformar, por ser artista plástico, em estrela”.
AMIZADE
Em 1982 aproxima-se da tv a cabo e cria Andy Warhol's TV e Andy Warhol's Fifteen Minutes para MTV, em 1986. Data dessa época a sua intensa colaboração e amizade com Jean-Michel Basquiat, jovem e promissor artista que ele promoveu e ajudou a se firmar no universo das artes plásticas novaiorquinas, tanto quanto outros, como Francesco Clemente e Keith Haring. Seus últimos trabalhos datam de 1986 com a série de pinturas intitulada The Last Supper, baseados em Da Vinci e um revival do grande tema da pop art intitulado Ads que remetem aos trabalhos iniciais baseados nos apelos da publicidade e do consumo e nos objetos do cotidiano.
Warhol morreu no dia 22 de fevereiro de 1987, aos 58 anos, de complicações cardiovasculares, depois de uma operação da vesícula. A tempo de ver quase concretizada uma de suas profecias: “no futuro, todo mundo será mundialmente famoso por 15 minutos”. Ele ganhou a eternidade. Em 1994 foi inaugurado o The Andy Warhol Museum em Pittsburgh, Pensilvânia. Quando morreu ficou-se sabendo que esse homossexual assumido e torturado, que não consumava suas paixões (a primeira delas foi Truman Capote), era um católico ortodoxo, que mantinha em seu quarto uma imagem do Sagrado Coração. Era este talvez o lado mais fascinante da personalidade de Warhol: sua capacidade de surpreender-se, e de surpreender.

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