01 outubro 2008

Licutixo é a cartilha do sambador Bule Bule

No próximo dia 07 de outubro, o cantor, compositor e repentista Bule Bule será um dos homenageados da 14a edição da Ordem do Mérito Cultural no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. O prêmio é o reconhecimento pela sua contribuição à cultura. “Pau puro” é o samba chula que abre o novo CD de Bule-Bule, um recado para os sambadores desafiantes que têm no samba um meio de provocar desarmonias através de versos toscos. “É um alerta aos sambadores em desafio que, se me tratarem bem, tem um amigo. Mas se mudarem o procedimento, a conversa engrossa. Afinal, sambar pra mim é café pequeno”, diz o cantador. Xangai, Raimundo Sodré e o grupo cultural Sambadores de Tocos têm participação especial.

“Licutixo” é o título do novo trabalho do artista, nome de uma modalidade de samba rural, uma espécie de samba para desafio, muito praticado na região de Antonio Cardoso (sua terra natal) e Santo Estevão. O trabalho reúne 13 autênticas obras representantes do gênero nordestino como os sambas de chula, cocos, xote e repentes, sob a direção musical do competente Luciano Bahia. Inédito e autoral (com exceção do samba de domínio público Licutixo de Tocos, gravado ao vivo pelo Grupo Sambadores de Tocos, na comunidade de Antônio Cardoso), o álbum é um cuidadoso instrumento de pesquisa sobre o samba rural, derivado da região sertaneja, mas com ligeira influência da chula do Recôncavo.

No poema “Janela do Passado” ele vai da infância a vida adulta, uma homenagem ao pai e a terra onde nasceu. À figura do pai, o sambador Manoel Muniz (falecido em 1996, aos 81 anos), ele deve os ensinamentos sobre a arte e os traquejos da cultura sertaneja. Na quinta faixa, “Um pedaço de mim morreu no samba”, ele chora a partida da morena. O cantador Xangai participa na faixa “Banho de Manjericão”, a chula que fala de um amor proibido: “Ela está na janela/mas o ex-marido/não sai da cancela/com o rifle enganchado/na capa da sela/no dia que ele vacilar/eu carrego ela”.

Tem o poema matuto “A parteira” e a toada “Biluzinho”. Raimundo Sodré está no samba chula “Que moça bonita é aquela”. O xote “Cancela do sossego” e os sambas licutixo “Seu manso/A viola em caco”, “Nasceu no samba Romeu” e “Licutixo de Tocos” completam o CD.


Antônio Ribeiro da Conceição, nome artístico Bule Bule, nasceu no dia 22 de outubro de 1947 no município de Antonio Cardoso. Músico, escritor, compositor, poeta, cordelista, repentista, ator e cantador, ao longo dos seus 38 anos de carreira gravou seis CDs (Cantadores da Terra do Sol, Série Grandes Repentistas do Nordeste, A Fome e a Vontade de Comer, Só Não Deixei de Sambar, Repente não tem Fronteiras e Licutixo), quatro livros editados (Bule Bule em Quatro Estações, Gotas de Sentimento, Um Punhado de Cultura Popular, Só Não Deixei de Sambar), mais de 80 cordéis escritos, participação em vários seminários como palestrante, várias peças teatrais e publicitárias, agraciado pelo Prêmio Colunista, além de milhares de apresentações durante a sua carreira. Atualmente ele é diretor da Associação Baiana de Sambadores e Sambadeiras do Estado da Bahia e da Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel. Recentemente foi premiado com o Prêmio Hangar de Música no Rio Grande do Norte junto com Margareth Menezes e Ivete Sangalo.

Legítimo defensor de gêneros musicais nordestinos como chulas do sertão, cocos, martelos, agalopados, xote, marche de pé de sina e repentes, Bule Bule é escritor de cordéis, sinônimo de celebração nordestina em alta voltagem, mas desplugado da tomada. Ele cresceu sob a influência do samba rural do sertão e do Recôncavo, além dos repentistas sertanejos. Criado numa região que fica na entrada do sertão e próximo ao Recôncavo, Bule Bule mergulhou no samba rural derivado da região sertaneja, mas com ligeira influência da chula do Recôncavo.

Ele fez sua carreira de cantador e sambador circulando pelo interior da Bahia e diversos estados do Nordeste e do Brasil como artista popular e regional. Mesmo com toda essa globalização e tecnologia a arte dessa gente simples não foi totalmente esquecida. Existe a voz dos cantadores e sambadores da zona rural, esquecidos e pouco valorizados, mas prontos para contar e cantar seus casos e causos. Taí Bule Bule, uma lição de vida, de poesia e melodia. Ele semeia sabedoria, uma voz do povo que continua firme, pau puro numa cartilha de sambador. Quando o CD começa a tocar, ninguém fica parado, Haja rojão Bule Bule!

3 comentários:

  1. Anônimo8:16 AM

    bom dia meu querido!
    estou a procura de um cd ou dvd de samba de roda, será que vc poderia me ajudar? não encontro pra comprar em lugar nenhum.
    uforj@hotmail.com

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  2. Visite a loja Pérola Negra, ao lado da Escola de Teatro da UFBa, próximo a Reitoria. Lá você encontra tudo sobre o assunto. Visite.

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  3. Anônimo7:21 PM

    Olá, sou de São Paulo-SP, participo da ONG Projeto Gerações - PROGER, que desenvolve um projeto chamado Gerações de Zumbi. Por este motivo, estamos em busca da história do samba de roda, informações sobre o museu, fotos de eventos e se possível música. Pode nos ajudar? Favor enviar as informações para o e-mail proger@projetogeracoes.org.br

    Aproveito também para convidá-lo a fazer uma visita em nosso site: www.projetogeracoes.org.br

    Grata,

    Maura Augusta
    Coordenadora Geral

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