É sempre bom lembrar que as práticas eróticas foram lidas segundo as classificações das “perversões sexuais” elaboradas pelo médico vienense Richard von Krafft-Ebing, em meados do século XIX, onde a busca do prazer sexual foi fortemente condenado. Desde Foucault que este discurso, instituídos das referências modernas sobre a sexualidade, é severo, moralista e sexista. Para os médicos do século passado, o desejo sexual era visto como força ameaçadora, vulcânica, destrutiva que deveria ser combatida e bem administrada pelo intelecto. A relação sexual deveria ser reprimida para que se evitasse a perda desnecessária do sêmen masculino. Obcecados com a sexualidade, voyeuristas disfarçados, os homens da ciência falaram ininterruptamente da sexualidade desde o século XIX, principalmente para normatizá-la. Dissecaram o corpo da meretriz, do cafetão, do homossexual, “perverteram o sexo”. Todas as práticas sexuais foram postas sob o signo do discurso científico, analisadas, classificadas, contidas e condenadas. Mas todas ganharam ampla visibilidade. A ciência domou o sexo, com medo de ser dominado.
Um dos maiores países mestiços do mundo, o Brasil foi gerado em ventre escravo. Raras foram as sociedades coloniais nas quais terá havido tamanho intercurso sexual entre senhores e escravas como o que aconteceu na lascívia dos trópicos brasileiros. A partir do instante em que o número de “fêmeas” vindas da África aumentou, e o trabalho forçado adquiriu feições também domésticas, muitas escravas foram transferidas da senzala para o seio da casa-grande. Eram amas-de-leite e mucamas.
Além disso, o desejo, consciente ou não, de fazer a escrava reproduzir um n ovo servo empurrava muitos senhores ao relacionamento com as mulheres da senzala. A perversão pura e simples foi outro componente constante nessa relação. Resultado: o panorama de desregramento sexual no Brasil-colônia estava no auge. Era o pecado em clímax no sul do Equador.
O aparecimento de “Casa Grande e Senzala”, de Gilberto Freire, em 1933, fornece um repensamento fundamental do problema da miscigenação que tanto incomodou a elite, enfatizando mais positivamente a mistura de culturas e a criação de uma nova civilização nos trópicos, como resultado dessa mistura. O caráter sexual da vida brasileira estava ligado ao contexto social que a produziu. A noção de escravidão foi empregada metaforicamente na descrição das relações de poder, de dominação e opressão que marcaram todo o processo de conquista e colonização. O regime de escravidão foi claramente ligado a uma ética sexual particular dominada por diferenças de poder, por sadismo e masoquismo, por atividade e passividade. Foi na instituição da própria escravidão que a depravação sexual da vida brasileira tomou forma, manifestada mais claramente, como Freyre enfatiza, nos prazeres perversos dos filhos de fazendeiros.
O legado do passado patriarcal tornou-se essencial ao movimento de auto-interpretação na sociedade brasileira. A autoridade do patriarca repousava em grande parte na distância social que este potencial para a violência estabeleceu entre ele e seus continuadores – entre o senhor e seus escravos, o pai e seus filhos, o macho e suas fêmeas. Com o poder investido inteiramente em suas mãos, o homem era caracterizado em termos de superioridade, força, virilidade, atividade, potencial para a violência e o legítimo uso da força. A mulher, em contraste, em termos de sua evidente inferioridade, como sendo em todos os sentidos o mais fraco dos dois sexos – bela e desejável, mas de qualquer modo sujeita à absoluta dominação do patriarca.
O homem jogava de uma liberdade sexual quase absoluta. O patriarca mantinha relações sexuais não apenas com a sua mulher, mas também com muitas amantes e concubinas. As atividades sexuais de suas mulheres, por outro lado, eram rigidamente reguladas e controladas pelo próprio patriarca. Essa moralidade sexual dualística permeava e efetivamente dividia todos os aspectos da vida cotidiana.
Mas é nas expressões, termos e metáforas utilizados para falar do corpo e suas práticas, que as relações da criança com a realidade começam a tomar forma e que os sentidos associados ao gênero na vida brasileira são mais poderosamente expressos. E é na existência de duas estruturas anatômicas opostas - o pênis e a vagina – que a distinção entre macho e fêmea é literalmente incorporada e tomam significados não como marcadores da ordem natural, mas como representações de um conjunto particular de valores culturais.
Um dos maiores países mestiços do mundo, o Brasil foi gerado em ventre escravo. Raras foram as sociedades coloniais nas quais terá havido tamanho intercurso sexual entre senhores e escravas como o que aconteceu na lascívia dos trópicos brasileiros. A partir do instante em que o número de “fêmeas” vindas da África aumentou, e o trabalho forçado adquiriu feições também domésticas, muitas escravas foram transferidas da senzala para o seio da casa-grande. Eram amas-de-leite e mucamas.
Além disso, o desejo, consciente ou não, de fazer a escrava reproduzir um n ovo servo empurrava muitos senhores ao relacionamento com as mulheres da senzala. A perversão pura e simples foi outro componente constante nessa relação. Resultado: o panorama de desregramento sexual no Brasil-colônia estava no auge. Era o pecado em clímax no sul do Equador.
O aparecimento de “Casa Grande e Senzala”, de Gilberto Freire, em 1933, fornece um repensamento fundamental do problema da miscigenação que tanto incomodou a elite, enfatizando mais positivamente a mistura de culturas e a criação de uma nova civilização nos trópicos, como resultado dessa mistura. O caráter sexual da vida brasileira estava ligado ao contexto social que a produziu. A noção de escravidão foi empregada metaforicamente na descrição das relações de poder, de dominação e opressão que marcaram todo o processo de conquista e colonização. O regime de escravidão foi claramente ligado a uma ética sexual particular dominada por diferenças de poder, por sadismo e masoquismo, por atividade e passividade. Foi na instituição da própria escravidão que a depravação sexual da vida brasileira tomou forma, manifestada mais claramente, como Freyre enfatiza, nos prazeres perversos dos filhos de fazendeiros.
O legado do passado patriarcal tornou-se essencial ao movimento de auto-interpretação na sociedade brasileira. A autoridade do patriarca repousava em grande parte na distância social que este potencial para a violência estabeleceu entre ele e seus continuadores – entre o senhor e seus escravos, o pai e seus filhos, o macho e suas fêmeas. Com o poder investido inteiramente em suas mãos, o homem era caracterizado em termos de superioridade, força, virilidade, atividade, potencial para a violência e o legítimo uso da força. A mulher, em contraste, em termos de sua evidente inferioridade, como sendo em todos os sentidos o mais fraco dos dois sexos – bela e desejável, mas de qualquer modo sujeita à absoluta dominação do patriarca.
O homem jogava de uma liberdade sexual quase absoluta. O patriarca mantinha relações sexuais não apenas com a sua mulher, mas também com muitas amantes e concubinas. As atividades sexuais de suas mulheres, por outro lado, eram rigidamente reguladas e controladas pelo próprio patriarca. Essa moralidade sexual dualística permeava e efetivamente dividia todos os aspectos da vida cotidiana.
Mas é nas expressões, termos e metáforas utilizados para falar do corpo e suas práticas, que as relações da criança com a realidade começam a tomar forma e que os sentidos associados ao gênero na vida brasileira são mais poderosamente expressos. E é na existência de duas estruturas anatômicas opostas - o pênis e a vagina – que a distinção entre macho e fêmea é literalmente incorporada e tomam significados não como marcadores da ordem natural, mas como representações de um conjunto particular de valores culturais.
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