25 maio 2016

Para curar os males, rezas e ervas medicinais das rezadeiras baianas



Seus poderes são "meritórios" e a fonte deles se encontra no poder encantatório de suas rezas.
Superando a ordem do universo terreno, as rezadeiras exercem um papel iluminador e protetor como os anjos, anunciando uma boa nova para a alma. Em algumas regiões do Brasil as rezadeiras, como as denominaram na Bahia, são conhecidas também por “benzedeiras”. Chamadas de “curandeiras” entre os séculos XVI e XVIII, eram vistas como uma espécie de "feiticeira", e erroneamente foram perseguidas, oprimidas, punidas e muitas até condenadas ao lançamento ainda vivas, nas “santas” fogueiras pela Inquisição da então Igreja Católica.

Os pais e padrinhos dão a sua benção a seus filhos e afilhados, os católicos se benzem antes de qualquer ação importante ou ao passarem diante de uma capela ou igreja, os espíritas dão “passes” aos que estão com negatividade fluídica, os evangélicos fazem orações e cultos nas horas alegres e tristes de seus irmãos... Tudo é oração e a rezadeira faz a sua “benzeção” em quem vai à sua procura no intuito de curar-se de algum mal. As rezadeiras têm em comum na grande maioria das vezes duas coisas: a pobreza e a fé. Em suas casas é fácil observar quadros de santos nas paredes.

SANTOS - Elas invocam os santos nas horas das dores dos doentes: dor de dente (Santa Apolônia),
olhos (Santa Luzia), endividados (Santa Edvirges), na hora dos partos (Nossa Senhora do Bom Parto), nos engasgos (São Brás), nas picadas de cobras (São Bento), para os animais (São Francisco), para azia (Santa Sofia), e lá se vai. Para quem vai se benzer, vão algumas dicas importantes: nunca cruze os pés ou as mãos quando estiver sendo curado e ao final da cura não pergunte quanto é o preço da reza. Passados os dias visite a rezadeira e deixe um agrado.

A atividade da rezadeira é tradicionalmente feminina. São mulheres do povo que um dia descobrem o dom. Existem centenas de orações, com algumas variações de região para região. Algumas são parteiras e quase todas têm em seus quintais de suas casas as plantas que curam os doentes: mastruz; romã; sabugueiro; capim santo; erva cidreira; erva doce, etc. Em comum, rezadeiras têm alguns modos de orar, benzendo os pacientes com as mãos ou com plantas, em uma linguagem própria, uma espécie de cochicho ininteligível que mantêm com Deus ou com as entidades enviadas por ele.

ORIGEM - Os historiadores não conseguem identificar a origem exata das rezadeiras, nem se sabe ao certo há quantos anos existe essa tradição. Tanto pode ser herança dos curandeiros dos povos indígenas brasileiros quanto ter vindo com as crendices populares dos portugueses que colonizaram o país. Mas, ao contrário do que se pensa, as rezadeiras não são privilégios do Nordeste, estão espalhadas por todo o Brasil. “As pessoas não ficam doentes só do corpo, mas também do espírito, por conta de tristezas e desilusões”, diz o antropólogo José Jorge Carvalho, da Universidade Federal de Brasília (UnB).

Para ele, a fé também pode curar. Apesar do assunto ser polêmico, pesquisas já comprovaram que a  
fé é um componente importante na superação das doenças. No Brasil, a discussão ainda engatinha, já nos Estados Unidos a maioria dos cursos de medicina já disponibiliza disciplinas com temas como fé, cura, espiritualidade e a abordagem desses assuntos entre os doentes. A origem de muitas rezas pode ser puramente religiosa, ou fruto de um hibridismo de religiões, ou mesmo de um misto entre conhecimento popular com práticas religiosas.

RESISTÊNCIA - As rezas resistem ao tempo, mesmo em tempos atuais, com os avanços da tecnologia e com os mais modernos recursos de que dispõe a medicina do século 21, a cultura das rezadeiras ainda resiste. Se em número menor nas grandes cidades brasileiras, no interior do país ainda há pessoas que rezam e acreditam na cura por meio da palavra. Para a psicóloga Thereza Maria Galvão da Silva, as rezadeiras desempenham, no imaginário popular, o papel de milagrosas, principalmente onde a questão religiosa é muito forte. “As pessoas vão até essas mulheres em busca de algo sobrenatural, acima delas, como se elas tivessem o poder mágico de curar”. E daí a cura pela crença, pela fé.

Thereza acrescenta, “as pessoas transferem para a rezadeira a fé que elas têm, reconhecendo que ele tem uma força maior, mágica. No interior, onde o acesso a cuidados médicos costuma ser precário, a rezadeira é aquela que socorre, aquela que acolhe”. Um interessante registro dessa manifestação sociocultural é o realizado pelo Censo Cultural da Bahia, por meio da Secretaria de Cultura e Turismo. O levantamento, feito no período de 2002 a 2006 nos 417 municípios existentes no Estado, registrou cerca de 700 rezadeiras. O curioso é que, desse total, apenas cinco rezadeiras eram de Salvador - o que evidencia que essa cultura é mais difundida no interior.

24 maio 2016

Cidade Motor discute mobilidade em um futuro nem-tão-distante




O trânsito de Salvador é o 7º mais congestionado do mundo e o 2º mais congestionado do Brasil, segundo dados divulgados em março deste ano por um instituto especializado. As informações são referentes às condições de trânsito observadas em 2015 na capital baiana, que mostram que 43% do tempo de deslocamento na cidade são gastos em congestionamentos. Na pesquisa das capitais brasileiras mais congestionadas, Salvador aparece à frente de Recife, Fortaleza e São Paulo. Apenas o trânsito do Rio de Janeiro foi considerado pior que o da capital baiana. Ainda conforme o estudo, o motorista gasta 42 minutos por dia em congestionamentos em Salvador. Por ano, esse gasto é de 160 horas, ou seja, a cada 12 meses, o motorista perde quase uma semana dentro do carro, no trânsito da capital baiana.

Buracos, engarrafamento, falta de fiscalização e estresse. São alguns dos problemas da cidade. Os congestionamentos na cidade são cada vez mais longos. O aumento do número de automóveis não foi seguido por melhorias nas redes viárias e, tampouco, no incentivo a um transporte publico de melhor qualidade.

Diante desse quadro no presente, os autores Camilo Fróes, Moreno Pacheco e Bruno Marcello mostram Salvador do futuro. Em Cidade-Motor, a primeira incursão dos autores pelo mundo dos quadrinhos, uma Salvador distópica se torna pano de fundo para uma narrativa policial onde os carros viraram casa, o trânsito virou a vida, e a cidade se transformou em via para automóveis. Nesse ambiente, o destino do policial Celso se cruza com o de Moema, jovem da classe média empobrecida. Moema é uma jovem motogirl que se vê emaranhada em um perigoso jogo de interesses depois de sofrer um acidente de trânsito envolvendo dois policiais: um corrupto, do controle de trânsito, e outro, civil e honesto, chamado Celso. E o desfecho desse encontro passará pelas mãos de um grupo radical clandestino que busca medir forças com o poder público de um futuro nem-tão-distante.

Há cinco anos Camilo assumiu a bicicleta como principal meio de transporte e viu na ideia de
escrever quadrinhos uma forma de também discutir trânsito e a cidade, colocando em primeiro plano a disputa de espaço e de poder que vê cotidianamente nas vias públicas.

Já Moreno, historiador, sempre acreditou que a definição de onde podemos ir e de como faremos para chegar lá, tudo é reflexo de segregações de outro tipo. Um irreconhecível aglomerado de passarelas, centros comerciais, viadutos, túneis e zonas de circulação, onde veículos são ponto de partida e destino dos trajetos.

Graficamente Cidade-Motor apresenta o traço ágil de Bruno Marcello. Cenários baseados em paisagens e marcos arquitetônicos da cidade, conferem realismo a narrativa, e os figurinos e adereços de cada personagem ajudam a entender como é a vida quando se tem de viver em constante movimento, mesmo que dentro de um carro. O leitor ainda poderá ver nesta
HQ as ilustrações impactantes de Tulio Carapiá, artista convidado, dando pistas potentes sobre como será o desenrolar de cada capítulo da novela gráfica.

“Cruel”, música de Sérgio Sampaio dá início a trama. Música e HQ tem tudo a ver. Ritmo, sintonia, harmonia. O traço colado com a narrativa que flui nesse conglomerado de quadros sequenciados que dá o tom da obra. A diagramação e os balões de Tulio Carapiá são dinâmicos, interconectados, integrados. Tudo se cruza e se contrai. Tudo no caos urbano.

A publicação consegue trazer através de uma ficção ácida e impactante, uma reflexão sobre a esquizofrênica relação de Salvador com o seu sistema de transportes e a própria ideia de movimento. Salvador sempre viveu, desde seus primórdios, reformas e lapidação para alcançar a tal modernidade. Tudo uma questão política, de interesses escusos para beneficiar os empresários e torturar o povo que tem que circular em um  emaranhado de avenidas e trajetos que nos distanciam cada vez mais do nosso destino final. O poeta Gregório de Mattos já cantava, há séculos...”Triste Bahia Triste Bahia! /Ó quão dessemelhante/Estás e estou do nosso antigo estado!/Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,/Rica te vi eu já, tu a mi abundante.//A ti trocou-te a máquina mercante,/Que em tua larga barra tem entrado,/A mim foi-me trocando, e tem trocado,/Tanto negócio e tanto negociante...”.
 
A obra é primorosa por apresentar diálogos de forma dinâmica,  atrelado a uma narrativa visual veloz e bem-conceituada. A linguagem do baiano é muito bem realizada assim como as gírias simples e certeiras em suas construções. Os personagens são bem construídos assim como os cenários. A obra questiona a nossa realidade e maneira de viver, e o final traz uma reflexão que deixa o leitor surpreso.

O carro individual é um “cancro” que corrói as grandes cidades, e nas mais pobres, é algo perverso. Só a classe média alienada ainda pensa que, com seu automóvel irá a qualquer canto e a qualquer hora. Toda essa realidade é maquiada pelo discurso demagógico do marketing urbano. Cidade Motor é uma obra edificante!. Parabéns a equipe e a produção da RV Cultura e Arte.

Cidade-Motor

Camilo Fróes, Moreno Pacheco, Bruno Marcello / RV Cultura e Arte / 128 páginas em P&B; formato 17x25cm, com capa em supremo 250g, laminado fosco e miolo em papel couché 115g; acabamento em brochura; e tiragem total de 1000 exemplares. ISBN: 978-85-64589-02-5

Preço de capa: R$ 19,90

23 maio 2016

Diversas personalidades religiosas dão nome aos municípios baianos


Poucos estados no Brasil têm tantos santuários e igrejas que se tornaram símbolo dos respectivosmunicípios como na Bahia. Poucos têm uma tradição religiosa tão profunda e que deixou marcas tão significativas. Dos 417 municípios baianos, 58 foram batizados com nomes de personalidades religiosas ou santos, ou seja, 14%. De Angical a Senhor do Bonfim a Bahia homenageia seus santos. O município de Angical, no extremo oeste baiano surgiu com a construção da primeira igreja em 1810 e em 1821 a freguesia era denominada SantAna do Sacramento do Angical, pertencente ao Bispado de Pernambuco até 1828 e que se elevou à categoria de vila em 1891, depois emancipou-se.

Um dos maiores exemplos de cristã no Brasil está em Bom Jesus da Lapa. O município abriga o Santuário de Bom Jesus da Lapa, lugar de romaria quase trezentos anosa segunda maior do país. O período de maior movimentação ocorre de julho a setembro, quando mais de um milhão de pessoas visitam a cidade. A novena começa no dia 28 e tem seu ponto alto no dia 06 de agosto, que é consagrado ao santo padroeiro do município.

A origem da cidade de Candeias remonta a meados doséculo XVI. Nas terras do Coronel Jerônimo Queiroz floresceu o lugarejo próximo ao Rio São Paulo que passou a chamar-se Nossa Senhora das Candeias, nome da padroeira da pequena capela existente no local. Com a vitalidade da lavoura açucareira, aumentava o número de engenhos e de lugarejos próximo aos mesmos. O arraial passou a ser visitado por romeiros de todo o recôncavo. Esse ritual se repetia ano a´pós ano, e a vila modificando-se totalmente sob a influência dos fervorosos visitantes. O comércio então floresceu. Com a descoberta de petróleo, o arraial foi modificado completamente e em 1958 é criado o município.


no centro norte baiano, nos meados de 1848 um missionário jesuíta iniciou a construção de uma igreja matriz com o fim de substituir a capela existente, com o nome de Santíssimo Coração de Maria. Em 1891 o arraial sede desta freguesia foi elevada à vila, e o município também criado com o nome de Coração de Maria. Numa região distante do sertão baiano assolado pela seca constante havia a Fazenda Boa Vista onde a população foi se aglomerando. Em 1938 ergueram a capela no Monte Alverne, em homenagem a São Francisco de Assis, padroeiro da localidade. Mais tarde o local se tornou Vila de Fátima pelos devotos de Nossa Senhorade Fátima, e em 1985 foi reconhecida oficialmente com mais novo município baiano.


À margem  do Rio Jaguaripe, situado sobre uma colina de onde se avista grande parte do centro da cidade de Nazaré, está erguido a capela de Nossa Senhora da Conceição. O monumento religioso é de 1742. A cidade possui muitos monumentos religiosos e um dos mais atrativos pontos turísticos é o monumento Jesus de Nazaré, erguido no Morro da Fazenda Mercantil, conhecido como Alto da Torre, localidade que se tornou aprazível recanto da cidade.

O berço do samba, Santo Amaro da Purificação foi um dos primeiros marcos da colonização portuguesa. No coração do Recôncavo e cercada por um mar de morros, anação da canaabriga, em harmonia, as belezas naturais de suas praias e manguezais, aliadas à história de seus sobrados e igrejas. As festas religiosas são marcantes. Outro município que ainda hoje guarda seus antigos casarões coloniais um pouco de sua história é São Félix, também no Recôncavo. Os portugueses se estabeleceram nas margens do Rio Paraguaçu. Os jesuítas também marcaram presença no processo de colonização do núcleo habitacional. Graças à expansão da cultura fumageira, a cidade tornou-se importante centro de exportação de fumo, atraindo muitos investidores estrangeiros.


São Francisco do Conde,a porta do recôncavo baiano, é um dos mais prósperos municípios da Bahia. O lugar detém rico patrimônio histórico e cultural, herança de um passado de lutas. Com suas ladeiras e o casario histórico que contrastam com a orla marítima, é o lugar ideal para quem procura sossego e meditação.  Região famosa pela passagem de Lampião, Santa Brígida era apenas um pequeno povoado do município de Jeremoabo até a chegada do beato Pedro Batista e suas romarias. O povoado é elevado a sede de distrito até a emancipação política da localidade. Hoje as manifestações culturais e as danças de cunho religiosos iniciadas e cultuadas pelo beato Pedro Batista conseguiram colocar a chama da em todos que o cercava.

No oeste da Bahia tem o município de São Desidério. Seus primórdios estão datados da segundametade do século XIX. Segundo a história da região, nessa localidade se reunia milhares de pessoas em festas religiosas para realizarem casamentos e batizados. E foi assim que as primeiras casas, igrejas, pontos comerciais começaram a surgir. E na região nordeste do Estado está a bela e hospitaleira cidade de Senhor do Bonfim que possui um dos maiores destaques do São João, fazendo jus ao título da capital baiana do forró. as tradições folclóricas e culturais são atrações para os turistas, além das festas  religiosas.


Além dessas cidades não podemos esquecer Bom Jesus da Serra, Campo Alegre de Lourdes, Capela do Alto Alegre, Cardeal da Silva, Cristópolis, Cruz das Almas, Dom Basílo, Dom Macedo Costa, Glória, Livramento de Nossa Senhora, Madre de Deus, Mata de São João, Milagres, Monte Santo, Muquém de São Francisco, Nova Fátima, Riacho de Santana, Salvador, Santa Bárbara, Santa Cruz Cabrália, Santa Cruz da Vitória, Santa Inês, Santa Luzia, Santa Rita de Cássia, Santa Teresinha, Santaluz, Santana, Santanópolis, Santo Estevão, São Domingos, São Felipe, São Gabriel, São Gonçalo dos Campos, São José da Vitória, São José do Jacuípe, São Miguel das Matas, São Sebastião do Passé, entre outros. Todas tem uma história a contar de seu surgimento e sua importância na Bahia.