18 outubro 2007

Zíper, um acessório fashion, sexy

Há 90 anos perdiam muito tempo para abotoar todas as roupas, botas, bolsas e outros objetos. Pensando em facilitar a vida das pessoas que o americano W. Litcomb Judson decidiu, no final do século 19, se dedicar ao desenvolvimento de algum apetrecho que pudesse solucionar essa questão. Ele patenteou um sistema de fecho que era feito de garranchos e fendas que se agarravam para abrir e fechar. Ainda era um esboço do que conheceríamos mais tarde como zíper. Com a ajuda do engenheiro Gideon Sundback ele produziu um fecho semelhante só que sem os ganchos pontiagudos, usado no lugar dentes de metal. Tal tipo de fecho era usado para bolsinhas que guardavam tabaco e dinheiro.

Além da função de fechar e abrir, o zíper garantiu seu lugar como um dos objetos mais sexy do planeta. No libidinoso ano de 1893, um francês criou o underwear feminino, mas foi o americano W. Litcomb Judson que inventou o zíper para substituir o laço das botas de cano alto.

Em 1917, a marinha americana começou a fabricar jaquetas impermeáveis com fechos. Em 1919, eles já eram usados maciçamente pelas forças armadas, em roupas e equipamentos. Em 1920, o zíper estava realmente na moda e podia ser encontrado em todos os tipos de roupas, sapatos e bolsas. A empresa B. F. Goodrich produziu uma bota de borracha com o novo fecho, o acessório se tornou popular. O nome zíper foi adotado também nessa época por B.G. Worth. O exército americano notou o potencial da peça e, durante a Primeira Guerra Mundial, os zíperes arrematavam as roupas, os sapatos e as mochilas dos soldados.

Muito antes de serem associados, nos anos 50, ao símbolo número 1 de rebeldia no cinema: as jaquetas de couro. Quem não se lembra do modelo eternizado por Marlon Brando no filme O Selvagem? Durante os anos 30, Elsa Schiaparelli foi a primeira estilista a usar fechos aparentes, como um enfeite, em suas criações. Desde então, por várias vezes, o zíper entrou e saiu da moda, tendo sido usado por estilistas e designers. A coleção de Christian Dior, para o verão do ano 2000, teve, como estrela principal, o zíper, usado de todas as formas, na vertical, horizontal, nas barras das calças e até no cabelo.

Depois disso, a história do acessório foi um sucesso só. Prático e estiloso, não há como resistir a suas mil e uma funções. Além da sua praticidade incontestável, o abrir e fechar dos fechos fez com que ele se tornasse um símbolo de sensualidade, muito usado em roupas e acessórios fetichistas.

Nos últimos desfiles da SP Fashion Week, o estilista Alexandre Herchcovitch investiu forte nos zíperes, que aparecem como elemento indispensável para compor o estilo rock de jaquetas e vestidos pretos. No início dos anos 70 foi muito usado nas coleções de Courrèges. O aviamento em versão 96 ganhou uma boa variedade de cores e materiais, como os de acrílico, que não oxidam e nem perdem a forma quando lavados. Hoje em dia, apesar de ter ganhado o posto de acessório fashion, o aviamento também tem a sua função fetichista: “É uma coisa que sobe, escorrega e desce. Uma coisa bem rapidinha, sabe?”, brinca uma conhecida estilista baiana. O zíper também pode ser usado em tops e blusas na medida em que cada pessoa quiser. Isso pode ser muito interessante e sexy.

17 outubro 2007

De Paulo Afonso para o mundo: O Sertão Vermelho de Lampião

A prefeitura de Paulo Afonso está de parabéns. Juntamente com a Secretaria de Educação e Cultura e Secretaria de Serviços Urbanos deram apoio cultural a uma obra que está atravessando fronteiras. Trata-se de Sertão Vermelho 2 (formato 21 x 28 cm, 106 páginas), do roteirista Haroldo Magno e do desenhista Edvan Bezerra. Através da arte seqüencial (histórias em quadrinhos) eles contam a saga de Lampião, o rei do cangaço pelo sertão da Bahia. Nesse trabalho eles contaram com a participação de artistas especialmente convidados como Júlio Shimamoto (Lídia e Zé Baiano: Beleza, traição e tragédia), Eugênio Colonnese (Corisco, o Vingador de Lampião) e Vítor Barreto (O Raso da Catarina). A capa é assinada por Rodolfo Zalla. A diversidade de estilos tornou a obra ainda mais interessante. Além de Lampião e Maria Bonita, aparecem nas histórias o padre Cícero e os cangaceiros Zé Baiano e Corisco, "o Diabo Louro".

Segundo a premissa do primeiro volume de só mostrar os fatos reais, baseando-se nas pesqyuisas dos mais sérios investigadores do tema (Oleone Coelho Fontes, Rodrigues de Carvalho, Ranulfo Prata, entre outros), Sertão Vermelho 2 apresenta a arte de Edvan que resgatou uma técnica há muito abandonada e pouco utilizada pelos quadrinhos brasileiros: a aquarela, produto utilizado nos anos 50. Este segundo volume eles mostram a origem, fator decisivo que levou Lampião a tornar-se cangaceiro, sua nomeação a capitão. Mostra a rixa entre famílias. O momento em que Virgulino Ferreira deixava de ser o sertanejo trabalhador para renascer como cangaceiro. A participação do Padre Cícero é destacada na promoção do posto de capitão; o Raso da Catarina é mostrado em toda a sua exuberância e agressiva beleza; uma cidade ribeirinha do São Francisco conhece o ferrete de Zé Baiano, a morte do bandoleiro do Papeú é recontada sob a ótica da polícia, e a vingança e morte do capitão Corisco, o Diabo Louro.

A linguagem utilizada por Haroldo é a sertaneja. O argumento é criativo e bem desenvolvido. Já o traço de Bezerra é ágil com destaque para o uso de aguados, técnica que lembra a aquarela e que deu um charme todo especial a alguns capítulos da trama. A representação da paisagem nordestina em suas múltiplas formas foi apresentada com uma fidelidade poucas vezes vista.

Os oito capítulos têm bom agenciamento narrativo com belas composições dos planos, fluência do argumento centrado na força do cangaço, e nos tons que dão força a obra. Há seqüências de altas voltagens. A obra pode muito bem ser utilizadas nas escolas municipais para que o professor possa trabalhar conceitos como a mitologia brasileira do cangaço, a origem desse movimento e sua trajetória. Pode também servir para discutir temas como questão de traição, vingança, posse de terra, religião e política, entre outros. Trata-se de uma obra que vai fundo nas nossas origens, nos nossos dilemas. Uma obra que precisa ser mais difundida entre nós. Procure conhecer. E o terceiro volume já está sendo preparado com novas informações que marcaram o fenômeno do cangaço e deixaram profundos sulcos na memória do sertão.

Como todas as lendas que tendem a se tornar maiores que os fatos, Lampião e sua saga pelo nordeste brasileiro têm todos os elementos de aventura, romance, violência, amor e ódio das grandes histórias da humanidade. Jogado na clandestinidade após o assassinato de seu pai, Lampião foi o maior cangaceiro (nome dado aos fora-da-lei que viveram de forma organizada, no final do século passado na região do nordeste brasileiro) de todos os tempos. Ele percorreu sete estados da região nordeste entre as décadas de 20 e 30, levando sangue, morte e medo à população do sertão. Causou grandes transtornos à economia do interior e sua história é um misto de verdades e mentiras.

Grande estrategista militar, Lampião sempre saía vencedor nas lutas com a polícia, pois atacava sempre de surpresa e fugia para esconderijos no meio da caatinga, onde acampavam por vários dias até o próximo ataque. Apesar de perseguido, Lampião e seu bando foram convocados para combater a Coluna Prestes, marcha de militares rebelados. Em 1929 ele conheceu Maria Bonita e foram viver pelo agreste sertão. Lampião é odiado e idolatrado com igual intensidade, estando sua imagem viva no imaginário popular mesmo após 69 anos de sua morte. Sua influência nas artes – música, pintura, literatura, cinema e quadrinhos – é impressionante.

As causas do surgimento do cangaço foram de natureza variada. A pobreza, a falta de esperanças e a revolta não foram as únicas. Isso é mais que certo. Mas foram estas circunstâncias as mais importantes para que começassem a surgir os cangaceiros. Muitos, como dissemos, eram pequenos proprietários, mas mesmo assim tinham que se sujeitar aos coronéis. Do meio do povo sertanejo rude e maltratado surgiram os cangaceiros mais convictos de que lutavam pela sobrevivência. “Se não me dão os meios de conseguir, eu tomo”, pareciam dizer.

Virgolino Ferreira era um trabalhador. Do tratamento duro e injusto que o trabalhador Virgolino Ferreira e sua família receberam surgiu Lampião, o "Rei do Cangaço". Lampião nunca foi um líder de rebeliões ou um ídolo que servisse para a formação de camponeses revoltados. Política nunca foi parte de sua vida. Mas as populações humilhadas e ofendidas viam em Lampião um exemplo, naquele meio termo entre temer o que ele era e querer ser igual a ele, quase a justificar sua existência de bandoleiro errante.

16 outubro 2007

Ironia e genialidade da vanguarda dadaísta (2)

Ao contrário de outros movimentos de vanguarda que surgiram no início do século passado, o dadaísmo assumiu desde o início um caráter de contracultura, desferindo suas principais setas contra o universo cultural da época e contra a linguagem, aos quais atribuía a responsabilidade pela barbárie emergente. “Estávamos em busca de uma arte que pudesse curar o homem da loucura de nossa época”. Esta é a declaração de Hans Arp, um dos dadaístas de maior militância em Zurique, berço do movimento.

O movimento dadaísta se extinguiu em 1921, no ano do famoso processo contra Barres quando o terrorismo das letras chefiado por Breton, perseguiu escritores mais importantes. No mesmo ano se extinguiu também na Alemanha. Breton, Aragon e Soupault foram em direção ao surrealismo, que fundariam em 1924, e Tzara seguiu sozinho sempre coerente com a sua idéia de renovação da poesia. Ainda que se possa notar no movimento dadaísta a falta de transcendência e de dramatismo tal como se deu também com o futurismo, dada teve enorme importância para a literatura do século passado.

Basta ver, por exemplo, o caso do Brasil em que a idéia de nossa Semana de Arte Moderna foi simplesmente copiada da idéia de um Congrés de l´ Espirit Moderne programado um ano antes para março de 1922, por André Breton, e que foi a causa da briga de Breton com Tzara e conseqüente desaparecimento do dadaísmo.

Dada não era somente colocar objetos estranhos no lugar de pinturas e esculturas consagradas. Ser dada era, antes de tudo, um estado de espírito, pagar para ver a reação do público, principalmente das madames que tinham por vezes de entrar em uma exposição pelo banheiro em uma época em que a palavra “toilete” jamais era pronunciada em público, muito menos por mulheres. Era ler poesias na mesma ordem em que foram apanhadas do chão após terem sido jogadas para o alto. Era uma subversão total de valores em todas as áreas.

Desde o seu início, o Dadaísmo assumiu um caráter de contracultura, desferindo suas setas contra a cultura vigente: a linguagem utilizada em todos os setores artísticos. Reunia niilistas, iconoclastas, anarquistas, individualistas. Ridículo e ironia eram utilizados para desmistificar uma arte que não condizia com o momento que se vivia, uma arte fora de contexto, “respeitável” demais enquanto o mundo se digladiava numa guerra terrível.

Hipocrisia. E isso precisava ser mostrado de alguma forma, da forma que melhor aprouvesse a cada um. Faziam a política do deboche. Nas exposições o guia geralmente um artista, poderia parar e destratar o espectador. Conforme escreveu o crítico americano Harold Rosemberg a respeito do movimento Dada: “Foi a creche da geração da Primeira Guerra Mundial”.

Tendo surgido primeiramente na literatura, o dadaismo é conhecido principalmente através das artes plásticas. Mas a verdade é que há de tudo no Dadaísmo. Desde as formas suaves de Hans Arp, até agressivas fotomantagens de John Heartfield, invenções como os raygrammes de Man Ray, aos ready-mades de Marcel Duchamp, objetos coletados sem nenhuma interferência estética, sem serem belos, indiferentes. Há no dadaísmo colunas de detritos de Kurt Schwitters e colagens de Max Ernst.

Em outubro de 1984 a Galeria Canizares de Salvador apresentou 200 reproduções artísticas desse movimento renovador. Tratava-se da mostra promovida pelo Instituto Goethe de Munique. Em maio de 1985 no Teatro Santo Antonio, o movimento foi contado em forma de ópera rock no texto de James Larson sob a direção de Deolindo Checcucci: Dadadadada. O espetáculo foi encenado pelo Grupo Tato que teve no elenco Armindo Bião, Fernando Fulco, Francisca Carelli, Márcia Schmalb entre outros talentos.

15 outubro 2007

Ironia e genialidade da vanguarda dadaísta (1)

Ao contrário de outros movimentos de vanguarda que surgiram no início do século passado, o dadaísmo assumiu desde o início um caráter de contracultura, desferindo suas principais setas contra o universo cultural da época e contra a linguagem, aos quais atribuía a responsabilidade pela barbárie emergente. “Estávamos em busca de uma arte que pudesse curar o homem da loucura de nossa época”. Esta é a declaração de Hans Arp, um dos dadaístas de maior militância em Zurique, berço do movimento.

O movimento dada (ou dadaísmo) foi histórico e literalmente uma reunião de pelo menos três dos principais movimentos de vanguarda na Europa conturbada pela Primeira Guerra Mundial. Tanto no futurismo, como o expressionismo e o cubismo (apesar de esta palavra designar principalmente os pintores franceses) já se haviam definido como revolucionários por volta de 1914, de modo que a guerra serviu para confirmar a maior parte de seus objetivos acentuando, sobretudo, a tendência desagregadora da literatura e das artes na segunda década do século.

Há quem dia que o dadaísmo foi um movimento internacional, pois surgiu mais ou menos ao mesmo tempo em grandes cidades como Zurique, Berlim, Colônia, Mônaco, Viena, Nova Iorque, Paris, Barcelona e Moscou. Mas o epicentro desse terremoto cultural foi sem dúvida Zurique, a única cidade européia onde se podia viver tranqüilo em 1916, tanto que aí, nessa mesma época, James Joyce escrevia o seu Ulisses. Foi em Zurique que surgiu um grupo de cinco refugiados, amantes da paz, mas revoltados contra a sociedade. Era constituído por dois alemães (Hugo Ball e o poeta Richard Huelsembeck), um alsaciano (Hans Arp que fazia colagens e quadros) e dois romenos ( o pintor e arquiteto Marcel Janco e o poeta e escritor Tristan Tzara), a que se juntaram o francês Francis Picabia e o chileno Vicente Huidobro. Reuniam-se no Cabaret Voltaire, pequeno teatro de variedades fundado por Hugo Ball em 1916, nas vésperas da famosa e prolongada batalha de Verdun.

A incerteza quanto à vitória de início favorável aos alemães, foi o motivo principal e ideológico do movimento Dada. A certeza de que a Alemanha ganharia a guerra passou a atormentar esses intelectuais (dois deles desertores do serviço militar alemão). Daí como forma de terrorismo cultural, lançando-se contra todos os valores culturais, pois tudo agora lhes parecia destituído de qualquer sentido lógico, tal como no mundo mágico da criança.

No Cabaret Voltaire em Zurique pontificava Tristan Tzara, boêmio, trilingue e de cultura francesa liam-se poemas de Apolinaire, Max Jacob, Salmon e Jarry; Huelsembeck recitava os expressionistas alemães; e todos eles discutiam as idéias futuristas de Marinetti e se declaravam discípulos de Rimbaud.

Combinavam assim o pessimismo irônico de Voltaire com a ingenuidade infantil de Rimbaud, cuja obra representava o modelo de ruptura mais radical na história da poesia. Vem daí a definição de Hugo Ball num verbete proposto a um dicionário alemão: “Dadaísta – Homem infantil, quixotesco, ocupado com os jogos de palavras e com as figuras gramaticais”.

11 outubro 2007

Mar: o começo e o fim de todas as coisas vivas (2)

Os mares e oceanos foram utilizados pelo homem desde o início da nossa civilização: primeiro como fonte de alimentos pela pesca artesanal ou coleta de moluscos e algas. Posteriormente, como fonte de matérias-primas como sal, bromo, magnésio, calcário e, principalmente, como meio de transporte. Hoje, o oceano é uma grande fonte de matérias para a indústria de alimentos e farmacêutico. No Brasil, por exemplo, especialmente na região da plataforma continental, os hidrocarbonetos de petróleo e os calcáreos são extraídos em larga escala industrial.

O homem sempre alterou o seu meio ambiente, mas a extensão dessas alterações somente passou a ser significativa após a Revolução Industrial do século 18. A partir dessa época, o homem passou a mobilizar quantidades crescentes de matérias-primas e energia e a transportar por via marítima grande quantidades de produtos industrializados. O despejo de esgoto sem tratamento nos mares do mundo polui as águas, o litoral e põe em risco a saúde e o bem-estar dos povos e dos animais que habitam essas árias, de acordo com um relatório elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU) sob a questão. Além dos esgotos, os oceanos sofrem com o despejo cada vez maior de nutrientes, como os que escorrem a partir de terras cultivadas. Esses nutrientes estimulam o desenvolvimento de algas tóxicas, que acabam com o oxigênio das águas, promovendo a destruição de ecossistemas, com os manguezais.

Os grandes pólos de concentração humana e industrial se estabeleceram próximos ou na zona costeira ou estuarina levando ao uso indiscriminado dos oceanos como repositório final. Hoje, quase metade da população mundial vive nas cidades costeiras ou em regiões bem próximas a elas. E o esgoto doméstico continua a ser um dos maiores problemas a nível global. A exploração de recursos é outro desafio. Os recursos pesqueiros estão sendo explorados excessivamente, sem controle e isso é ruim, pois não há renovação do estoque. Sem limitação na capacidade de renovação do estoque, haverá colapso e não poderá mais recuperar aquela parte perdida.

Diante de tantas denúncias contra a poluição no mar, o cinema, a música, a literatura e os quadrinhos também incorporam na luta. No final da década de 80, os franceses Thierry Cailletau e Olivier Vatini lançaram "Aquablue" (1988), uma saga em quadrinhos que aborda a vida de um planeta aquático onde os habitantes vivem exclusivamente dos recursos que a natureza oferece. Com roteiro de Michael Turner e Bill O´Neil e desenhos de Turner foi publicada em 2003 "Fathom" (Água Pesada), a saga de uma garota, Aspen, treinada para desempenhar importante papel que pode determinar futuro de dois mundos - a raça subaquática e a terrestre. Em 2007 a Panini publicou a história no Brasil. Àgua pesada é a principal substância utilizada em um tipo de reator nuclear onde o plutônio é desenvolvido a partir do urânio. Ela existe naturalmente na água, mas apenas em quantidades mínimas. A água pesada é um dos principais moderadores que permitem o funcionamento de um reator nuclear que utiliza urânio como combustível.

Em 1995 Kevin Costner realiza seu "Waterworld". Uma ligação ancestral dos seres humanos com mágicos habitantes das águas é a trama de "A Dama na Àgua", filme do cineasta M. Night Shyamalan. No Brasil em 2003 Flavia Moraes estréia no longa "Acquária": em mil anos, a Terra secou, e os poucos humanos que sobraram vivem em escassez de líquido. O acidente ecológico serviu também para o surgimento de alguns seres mutantes. Um casal de cientistas está perto de conceber uma máquina que cria água. São atacados, mortos, um de seus filhos é raptado e outra criança consegue se esconder. Anos depois, eles se reencontrarão já adultos. Essa é a história.

10 outubro 2007

Mar: o começo e o fim de todas as coisas vivas (1)

Em quase todas as línguas européias, a palavra mar tem a mesma raiz. E o mesmo significado: morrer. Em latim, maré; em irlandês, muir, genitivo, mara; em cimério, môr, myr; em gótico, marei; em armoricano, môr; em anglo-saxão, mere; em alemão antigo, mari, meri; em francês, mer; em escandinavo, mar; em eslavo antigo e em russo, moru; em polonês, morze; em sânscrito, mira. Um dos nomes sânscritos do oceano (martyo-dbhava) significa a origem ou a fonte da morte, assim como maru corresponde a deserto.

Fonte de vida, dos medos e da inspiração poética, o mar fecunda a história desde os mais recriados tempos. “Tudo saiu da água e tudo se resolve em água”, escreveu Thales há 27 séculos, o que inclui a vida e também a morte, o começo e o fim de todas as coisas vivas. Cenário da história, o mar sempre foi objeto de guerras e disputas. Portugueses e espanhóis estenderam a ligação entre o Atlântico e o Mediterrâneo. E, mesmo que genéricos e escandinavos já tivessem enfrentado o Atlântico, coube a Camões imortalizar os feitos singulares dos lusíadas. Sangue no mar de Camões, sal de lágrimas no mar de Fernando Pessoa. O mar uniu, ao invés de separar, “viu a terra inteira, de repente, surgiu, redonda, do azul profundo” (Mensagem). Redonda para o poeta, como se mostrou azul para o astronauta, refletindo em seu espelho de água o céu dos viajantes.

Os desbravadores do passado buscavam na existência de água a raiz de fixação de suas bases e de onde surgiam os primeiros povoados. Os atuais desbravadores dos novos mundos buscam a presença da água nos diversos planetas como sendo um possível sinal de vida e esperança única de sua habitação para a sobrevivência futura de nossa espécie.

Como o Ouro Negro (petróleo) foi o principal motivo das disputas políticas econômicas e das guerras do século 20, o Ouro Branco (água) será a principal fonte de disputa no século 21. Fonte de vida e morte. Ameaça vem do oceano. O aquecimento global pode provocar um aumento do nível do mar mais rápido que o previsto para este século. O aumento das temperaturas pode fazer o nível do mar subir, aumentando o risco de inundações em áreas baixas e tempestades. Os mares desempenham um papel vital na formação e na regulação do clima. O aquecimento dos oceanos tem consequências para a segurança da humanidade, com a elevação da força dos ventos e da altura das ondas. A produtividade marinha também vem sendo prejudicada.

Os oceanos cobrem aproximadamente 70% da superfície do nosso planeta e tiveram papel importante na história da Terra. Foi dentro dele que a vida começou. Os oceanos também serviram de principal via para expansão dos horizontes da humanidade, quando na virada dos séculos 15 e 16, com o advento das grandes navegações, novas terras foram descobertas e foi, finalmente, comprovado que a Terra era redonda.

A água do mar é composta basicamente por hidrogênio, oxigênio, cloro, sódio, carbono e nitrogênio. Pesquisas mostram que os elementos químicos da água do mar se precipitam ao fundo como sedimentos na mesma taxa que são fornecidos aos oceanos pelos rios do mundo. Assim, o oceano é visto como resultado de um processo estável e contínuo.

Há um ciclo de vida do oceano. O primeiro estágio, o nascimento, é representado no leste africano, onde estão localizados os grandes lagos como o Vitoria e o Tanganike. O segundo estágio, jovem, é representado pelo Mar Vermelho. O Oceano Atlântico representa o estágio maduro de um oceano. O Oceano Pacífico representaria o estado de declínio de vida de um oceano e finalmente, o Mar Mediterrâneo corresponderia ao estado final, terminal de um oceano.

09 outubro 2007

Amor, o sentimento que influencia a humanidade (2)

O grande poeta Guilherme XI, duque da Aquitânia, era conhecido como o mestre infalível das conquistas femininas, um verdadeiro don-juan que se vangloriava de cada uma de suas conquistas. “Chamam-se ´mestre sem defeito´:/toda mulher com quem me deito/quer amanhã rever meu leito; neste mister sou tão perfeito,/tenho tal arte,/que tenho pão e pouso feito/por toda a parte”. Ele reunia o dado profano e o sagrado com as conotações que eles possuíam antes da culpa judaico-cristã. A partir de Guilherme IX, o porta-voz do sentimento de todos os homens, todos os outros poetas, têm um único desejo: serem correspondidos pela dama e, com ela, poderem gozar dos prazeres do amor, nos jardins ou sob as cortinas.

Entre 1150 e 1180 o amor transformou-se em princípio e fim de todas as virtudes, clímax do aperfeiçoamento moral. Amar passou a ser virtude. A grande descoberta foi jogar fora o véu da hipocrisia, que exigia da mulher comportamentos que eram contrários à natureza, sem se deixar obcecar pela sexualidade desenfreada. O amor cortês foi o amor que embora não se limitasse única e exclusivamente à satisfação sexual não a dispensava. O amor cortês foi a denúncia dos trovadores ao casamento imposto à mulher por interesses políticos e econômicos, em que o amor não tinha lugar e a mulher passava a ser objeto de compra e venda.

Este novo modo de amor floresceu no sul da França e foi levada ao norte, possivelmente por Eleonor de Aquitânia, neta de Guilherme IX e conhecedora dos inúmeros trovadores que freqüentavam os castelos de Poitiers. Maria de Champagne e Aéles de Blois, filhas de Eleonor, herdaram da mãe o gosto pelas letras e transformaram a corte num centro literário importante. Sõ elas as responsáveis pelo desenvolvimento da cortesia no norte do país. O amor cortês apareceu como uma arte, um embelezamento do desejo erótico. Mais tarde a produção literária foi condenada pela Igreja.

O amor varia de acordo com a cultura e os gostos de cada época, mas a essência dessa emoção é imutável. Nos séculos 15 e 16, a religiosidade dá espaço à razão, à ciência e á lógica. No Renascimento houve a revalorização dos desejos individuais. O século 18 é o da racionalidade – o amor ganha códigos de ética e até de etiquetas. Don Juan é a figura literária que representa o amor do século 18. O amor, durante muitos anos, muitas vezes era associado ao sofrimento e à morte. Na revolução industrial o que era nobre, digno de qualquer sacrifício era o amor. E quanto mais sacrifício, melhor. O amor romântico é uma figura arrebatadora que arrasta a todos. Assim, a cada década, o amor continua e continuará vivo alimentando-se de sua capacidade de mudar-se e se adaptar.

“Os Sofrimentos do Jovem Werther”, romance de Goethe, que conta a história de um fracasso amoroso, reflexo do desencanto que marcava o final do século 18 se tornou best-seller na Europa e os ávidos leitores se identificaram com o aflito personagem. Mas quem não se lembra dos famosos pares Abelardo e Heloisa, Tristão e Isolda, Romeu e Julieta, entre outros que povoam o imaginário ocidental. Cada uma dessas representações literárias de amor se espalharam em muitas outras artes. E não faltou Sansão e Dalila, Perro e Colombina, Joãozinho e Maria, Bonnie e Clyde, Donald e Margarida, Super Homem e Lois Lane, Homem Aranha e Mary Jane. A idéia de amor ocupou o centro ideológico da sociedade e da cultura que a geraram, revelando seu modo de vida.

O amor é uma necessidade. O segredo do amor é como um presente, um dom e que ele pode crescer apenas aumentando a vontade em doar... O amor tem seu próprio tempo, sua própria estação. Como escreveu Guimarães Rosa, “amar é sede depois de se ter bem bebido”. No seu novo CD, “Invisível DJ”, o grupo Ira! traz uma letra de Edgard Scandura e Taciana Barros, “Culto de Amor”: “Procuro me desarmar/ando em busca de paz/respondo à vontade do céu/sentimentos, não preciso de provas/união, para você o sim/não fale nada/a verdade vem no seu beijo/você nas minhas mãos/eu juro que não tenho medo...”.

08 outubro 2007

Amor, o sentimento que influencia a humanidade (1)

Diante da constatação do mundo de hoje, impessoal, rápido, urgente sem espaço para uma série de visões românticas do passado, a banda pernambucana Os Astronautas decretou no seu terceiro CD: “O amor acabou!”. Para o cantor, compositor, arranjador, multi-instrumentista e produtor André Frank, o disco serve como “um desabafo urgente, um alerta, mas sobretudo é uma análise fria desse mundo” (...) “Quero que as pessoas parem, nem que seja por um minuto, e façam uma reflexão do momento pelo qual estamos passando, vivendo – com mazelas por todos os lugares e tantas distorções de caráter, crises de ética, de respeito – e que façam sua própria análise de comportamento em meio a tudo isso. Temos que mudar. E que seja sempre para melhor”.

Gênero criado no século 12 para dar conta das paixões até então ignoradas pela cultura medieval, a literatura cortês teve uma função bem mais complexa do que simplesmente distinguir o permitido do proibido em matéria de amor e sexo. Até o século 12, época triunfal da escolástica, as paixões, reprovadas pela tradição eclesiástica, não encontrariam espaço na moral matrimonial. Seu lugar era fora da cultura.

A linguagem romântica será instaurada pela cortesia. O movimento foi criado por algumas linhagens nobres, especialmente no oeste e noroeste da França, não tardou a se difundir por todo o Ocidente cristão. A palavra “cortês”, historicamente, qualifica um conjunto de costumes adotados pelas cortes feudais mais suntuosas. Na prática, por um conjunto de normas éticas e estéticas que governavam a relação entre os sexos. Os poetas limusinos (os primeiros trovadores) deram-lhe voz.

O amor cortês, convenção medieval que se manifestou com maestria nas cantigas de amor provençais, situava a mulher como um objeto venerável e sempre inatingível. O homem, na posição do vassalo, deveria exaltá-la, cantando o seu amor, mas nunca tocá-la, ou mesmo desejá-la para além dos limites da mesura, pois a dama era o seu señor. É no contexto da cantiga medieval que se dá, no Ocidente, o nascimento da poesia. Assim, no contexto do amor cortês que essa poesia tem origem.

O amor cortês desenvolveu-se no sul da França, em fins do século XI e início do XII. A canção épica, a canção gesta, criação do feudalismo francês e normando, promovia o herói e sua bravura sem par. Nos primeiros séculos da Idade Média, o amor era predominantemente machista. A mulher amava o cavaleiro, o valoroso, vivia do reflexo de sua glória, e seu único desejo era de se dar a ele e segui-lo. Até o século XI, foi sempre a voz feminina que explorou o amor. Um belo dia tudo muda. Cabe agora ao homem amor e suplicar, empalidecer e desfalecer. A mulher e o amor, que ela desperta, transformaram-se em poesia e deram inicio ao lirismo medieval trovadoresco, que acabou se tornando uma verdadeira religião em torno da mulher e do amor.

O amor cortês foi um amor humano, que embora enobrecido de forma a se tornar um culto, não se preocupou em exaltar a castidade das damas, ao contrário, o que se esfatizava era o desejo físico do cavaleiro e o dom corporal da mulher, que passou a representar o bem e o belo. Esta explosão de sensualidade era nitidamente contrárias às regras vigentes num século e num país profundamente cristianizados. A Igreja que anteriormente se preocupava em manter o poder nas mãos masculinas, se viu obrigada a afrouxar a repressão que proibia qualquer manifestação em louvor à virgem e permitir que o culto a Maria fosse aceito no magistério católico. Daí em diante, Maria, a mãe de Deus, será louvada em posa e verso.

05 outubro 2007

Música & Poesia

Pequeno Dicionário do Amor (Brega'n'bass do Amor) letra de Marcos André

O amor flagela,

o amor migalha,

o amor congela,

o amor navalha.

O amor desarma,

o amor guerreia,

o amor corre nas veias,

o amor joga na vala.

O amor semeia,

o amor desmata,

o amor permeia,

o amor te mata.

O amor é sacrilégio,

o amor não tem colégio,

o amor te sacaneia,

o amor te desampara.

O amor, de amor austero,

amor de amor perfeitinho,

é amor de amor sem destino,

é amor de amor sem elo.

O amor, de amor imperfeito,

amor de amor paralelo,

é amor de amor no peito,

amor de muito carinho.

O amor supera o sonho,

o amor, sonhando, embarca,

o amor chuta a canela,

o amor dá de trivela,

o amor é farofeiro,

o amor é magnata.

O amor come poeira,

o amor rompe o silêncio,

o amor é conseqüência,

o amor é contra-senso.

O amor é indefeso,

o amor sucumbe ileso,

o amor começa e pára,

o amor sobe à cabeça,

o amor desce a porrada.

O amor, de amor austero,

amor de amor perfeitinho,

é amor de amor sem destino,

é amor de amor sem elo.

O amor, de amor imperfeito,

amor de amor paralelo,

é amor de amor no peito,

amor de muito carinho.

O amor é lindo,

o amor é love,

o amor é índio,

o amor é rock.

O amor é black,

o amor é blue,

o amor é vinho,

o amor é cool.

O amor é leve

o amor é trash,

o amor é sério,

o amor é riso.

O amor é paraíso,

o amor é infernal,

o amor é impreciso,

o amor é pontual.

O amor é night,

o amor é dia,

o amor noite,

o amor é fria.

O amor é loucura,

o amor é tesão,

o amor é fissura,

o amor é solidão.

O amor é luta livre,

o amor é ioga,

o amor tem sinusite,

o amor advoga.

O amor é bicha,

o amor é machista,

o amor é futurista,

o amor não marca hora.

O amor, de amor austero,

amor de amor perfeitinho,

é amor de amor sem destino,

é amor de amor sem elo.

O amor, de amor imperfeito,

amor de amor paralelo,

é amor de amor no peito,

amor de muito carinho.


Reflexões (Clarice Lispector)

Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém…

que o que mais queremos é tirar esta pessoa de nossos sonhos e abraça-la…

Sonhe com aquilo que você quiser…

Seja o que você quer ser…

Porque você possui apenas uma vida

E nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos.

Tenha felicidade bastante para faze-la doce,

dificuldades para faze-la forte,

tristeza para faze-la humana.

E esperança suficiente para faze-la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas,

elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram…

Para aqueles que buscam e tentam sempre…

E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.

O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido.

Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado.

A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar…

…duram uma eternidade…

04 outubro 2007

Um silêncio que grita: Bergman

Os filmes de Ingmar Bergman são embebidos em imagens poderosas, violentas, de homens e mulheres lutando para encontrar um sentido em um mundo de confusão e anarquia. Infância, amor e morte sempre foram questões tratadas em sua obra, ora metafísicas ora existenciais. Ao longo dos 60 filmes que realizou, entre produções para cinema e TV (sem falar do teatro), Bergman produziu filmes que vão desde a juventude (Monika e o Desejo, 1952), a morte (O Sétimo Selo, 1957) ou mesmo a política (O Ovo da Serpente, 1979).

Seus enquadramentos trabalhados, os ângulos insólitos, as tomadas de nuvens, lagos e bosques não são jogos gratuitos da câmera. Ele integra à psicologia de seus personagens no instante preciso em que quer exprimir um sentimento preciso. Cineasta do instante, da solidão, das tensões amorosas e da incomunicabilidade, seus filmes são intimistas, profundos e autorais.

Os vigorosos filmes do cineasta sueco das décadas de 50 e 60, incluindo “O Sétimo Selo”, “Persona” e “Vergonha” eram envolvidos em temas teológicos, na luta de seres humanos em chegar a um acordo com a morte em um mundo atormentado em que a religião parecia alternadamente remota, poderosa e instável.

“Gritos e Sussurros” pareceu marcar uma passagem para Bergman, uma transição dolorosa e difícil para uma aceitação de que Deus desaparecera. “Cenas de um Casamento” marcou uma vívida mudança em sua mente, a alma humana. “Fanny e Alexandre” faz um acerto de contas com a Suécia e a tumultuada infância do diretor, criado segundo as rígidas regras de seu pai, um pastor protestante.

O que Bergman, apaixonado pelo teatro, fez foi traduzir em imagens suas inquietações acerca da vida e da morte, de Deus, do tempo e do desejo, da solidão, dos traumas de infância e da inconstância do amor materno. No dia 30 de julho de 2007 o escritor, dramaturgo e produtor sueco Ingmar Bergman morreu calma e docemente, aos 89 anos. O travelling recua ao nascer do sol, a cidade desperta. A câmera busca um rosto em close, e vai silenciosamente se aproximando para os olhos tomados de angústia. E um grito de silêncio se espalha no ar.

03 outubro 2007

Lichtenstein e sua arte massificada

Há 10 anos, no dia 29 de setembro de 1997, morria o pintor americano Roy Lichtenstein. Ele seguiu a herança duchampiana e instalou curto-circuito na pintura virtuosística. E soube ironizar a alta cultura. Embaralhando as pinturas entre alta e baixa cultura, ele fez uma série de telas que traduz mestres modernos como Cézanne, Matisse, Léger e Van Gogh. Tudo por meio da linguagem das histórias em quadrinhos. Um dos pioneiros da art pop, Lichtenstein ajudou a manter o pop vivo através de uma série de experiências e atitudes filosoficamente subversivas na arte moderna e na vida. Foi muito criticado, mas décadas depois elogiado e reconhecido.

A Pop art norte americana bebeu em fontes dadaístas.Ficou tão famosa que ofuscou a origem britânica do movimento. O termo pop se referia à expressão “popular culture”, reunindo as linguagens das mídias, da TV, da publicidade, do cinema e das histórias em quadrinhos. Essa cultura de massa foi inicialmente execrada pelos teóricos da comunicação. A Pop veio fazer o contrário. Lichtenstein se fez notar pela utilização das histórias em quadrinhos e dos clichês que, pinçados da arte comercial, se transformam em objetos de arte: socos, tiros, lágrimas pelo amor perdido, com frases e textos de apoio. Com certa ironia deu a esta fase o nome de "Grande Pintura".

Uma das melhores definições do movimento veio do próprio Roy: "O que marca o pop é - antes de mais nada - o uso que é dado ao que é desprezado".

A pop art é considerada, na cultura ocidental, o marco de passagem do modernismo para o pós-moderno. Como nos anos 60 já usava o tema da ironia, que marcou os 90, Roy é considerado pioneiro, mestre e uma figura proeminente da arte americana. Entre 1957 e 1960, oscilou entre o impressionismo abstrato e as histórias em quadrinhos e cartuns até que se decidiu pelo uso dos elementos típicos da propaganda em seus desenhos e pinturas. A primeira exposição em Nova York (1962) o torna pioneiro da pop art com o emprego de tudo que era usado como material publicitário. Mickey, o Coelho Pernalonga e Pato Donald se transformam em inspiração constante, em telas gigantes.

Brinca com os efeitos da trama ótica e com a composição convencional. Com James Rosenquist e Andy Warhol, transforma-se num crítico feroz da sociedade norte americana, tomada pelo consumismo institucionalizado pela publicidade. Um vento de revolta contra o expressionismo abstrato, que vinha se tornando acadêmico, soprava em Nova York neste momento.

Em 1963 a arte comercial era odiada e Lichtenstein trouxe essa arte – a única forma de arte que ninguém considerava realmente arte – para o foco de atenção e a transformou no único objeto de seu trabalho. Ao mesmo tempo, Andy Warhol e James Rosenquist, sem sequer se conhecerem, estavam fazendo a mesma coisa. Aquilo estava cheirando a uma revolução. Todos os quadros de sua primeira individual de pintura pop, em 1962, foram vendidas antes da inauguração.

Com o sucesso, em 1964, Roy Richtenstein passou a se dedicar exclusivamente à arte. Seus primeiros trabalhos pop, que davam impressão de serem cópias inexpressivas de Mickey Mouse, Donald e de desenhos grosseiros de beldades de maiô com suas bolas de praia, pareciam frios, provocantes e impessoais. Na verdade, suas pinturas sempre foram discretamente marcadas por observações afiadas com humor e inteligência. Suas imagens, provindo originalmente da reprodução em massa, retornam a ela com a maior facilidade, preenchendo a memória com pequenos clones Lichtenstein.

Em 1965 ele parou de usar quadrinhos. Parodiou tudo, da art déco ao cubismo sintético, e até parodiou paródias. Apropriando-se do processo de impressão e reprodução, Roy foi um técnico em psicologia de massas. Conhecia o poder da produção como objeto do desejo. Ele reciclou o lixo cultural elevando-se ao status de arte. O seu papel foi o de reagir contra a supremacia do expressionismo abstrato que dominou a América nos anos 50. E serviu para derrubar o mito do artista, simulacro de criador que desceu ao planeta para ser glorificado pelos mortais. Ele criou um mundo de imagens essenciais, eliminando tudo que julgasse supérfluo. Mas a pop art estava muito ligado a valores do mundo materialista e hedonista. Passou.

02 outubro 2007

Realidade virtual: a passagem para o futuro (2)

Realidade Virtual é o uso do computador e de interfaces humano-computador para criar o efeito de mundos tridimensionais com objetos interativos, apoiada em três fundamentos: interação, imersão e navegação. É necessário um forte senso de presença neste espaço tridimensional (imersão), permitindo experimentar (navegação) e interagir (interação) de forma a propiciar sensações de prazer e de conhecimento. (Esta reportagem foi publicada em novembro de 1992).

A realidade virtual (RV) tem sido celebrada como a mais avançada fronteira da relação entre humanos e computadores. Esta é uma revolução que deverá atingir os mais diferentes campos da ciência e do entretenimento, com aplicações no espaço, na medicina, na mídia e na educação, dentre outros campos. Médicos, por exemplo, deverão fazer viagens dentro do corpo e operar órgãos virtuais antes de tentarem uma operação real. E arquitetos andarão com seus clientes por edifícios concluídos virtualmente, antes de a construção real começar. Na educação, sobretudo, a tecnologia deverá revolucionar o ensino, criando mundos que devem ser manipulados e não apenas contemplados. A RV possibilita ao seu usuário usufruir de um mundo criado por computadores em que não existem barreiras de tempo ou espaço. “Aprendendo a criar e a viver em ambientes eletrônicos, as barreiras de geografia, nacionalidade, raça e classe cairão como o Muro de Berlim”, exemplifica o filósofo norte americano Timothy Leary, um dos divulgadores da realidade virtual.

Numa entrevista à Ana Maria Bahiana, Leary afirmou: “Estou desenvolvendo um software que permite ao usuário operar sua própria mente. Pôr seus pensamentos na tela, organizá-los e mostrar a outros o que está pensando. Técnicas para pilotar o cérebro. Com realidade virtual e os novos software de multimídia você pode abarrotar seu cérebro com imagens. Você fica como que submerso, nadando em imagens. Isso, num certo sentido, é como criar alucinações. Mas a coisa boa com estas alucinações é que você é quem as cria e você pode compartilha-las com outras pessoas. Você pode realmente programar sua mente e abrir novos arquivos e escaninhos usando o computador”.

“No final desta década, a realidade virtual será um lugar-comum. As pessoas se sentarão em frente ao seu terminal, colocando seus óculos tridimensionais, luvas e poderão passear junto com um elétron ou dirigir uma nave espacial”, diz o designer de computador C. Gordon Bell . A chave para se entrar no universo da fantasia digital são os equipamentos que conectam o ser humano à máquina. Os óculos são o equipamento básico. Dotados de uma pequena tela de cristal líquido – reproduzem a imagem criada pelo computador -, transformam o mundo imaginário numa imagem em tamanho natural. Os óculos ao comandados por uma luva de lycra, dotada de sensores. A luva é que dá a sensação de controle e de toque na imagem que os óculos projetam. O papel da luva é transmitir aos computadores os movimentos da mão da pessoa. Esses movimentos são transformados em informação digital e registrados no computador gráfico – que modifica a imagem como se ela tivesse sido manipulada de verdade.

PESQUISA – Atualmente, existem 20 empresas pesquisando as técnicas de realidade virtual espalhadas pelo mundo inteiro. A VPL Research, INC. – sediada no Vale do Silício, na Califórnia – e o Massachussets Institute of Technology (MIT), em Boston, são os dois principais centros de pesquisas da área de realidade virtual dentro do setor privado norte-americano. Cada uma vem estabelecendo novas possibilidades para o rápido uso comercial de seus aparelhos criadores de universos artificiais. A VPL se concentra nos EyePhones (óculos vedados, com uma tela de vídeo de alta definição em seu interior) e DataGlover (luva ligada aos óculos para que o usuário interfira na realidade artificial). Tem, ainda, Data Suit (macacão completo para que o corpo todo interfira na realidade artificial dos monitores) e o colete DataVest.

O criador do termo “virtual reality” é Jaron Lanier, presidente da VPL Research, a firma que ele fundou para desenvolver sistemas de realidade virtual. Lanier diz que, por meio do uso da realidade virtual, o público passa a ter liberdade absoluta num mundo eu ele estará criando a todo momento. E o que a indústria de entretenimento estaria oferecendo atualmente seria diversão com princípio, meio e fim. Lanier prevê o momento em que a diversão terá, sim, um princípio. O fim será determinado por cada pessoa, individualmente. Um bom exemplo: numa cena de “Batman, o retorno”, em que o herói pode ter o auxílio do espectador a qualquer momento. A pessoa pode ficar sentada apenas assistindo. Mas, se quiser, pode sir distribuindo socos nos bandidos, moldando o roteiro a seu bel-prazer.

UMA NOVA DROGA?

Os cientistas têm estudado os efeitos sociais e psicológicos sobre as pessoas que experimentam mundos virtuais. Há quem possa chamar a realidade virtual de uma nova droga. A idéia pode realmente parecer uma alucinação: ultrapassar a tela do monitor. Do outro lado, você vai viver experiências possíveis ou não no mundo real, assumindo o papel de qualquer pessoa ou de qualquer objeto. Para conseguir isso, o usuário vai colocar alguns acessórios. Você assume “olhos” cibernéticos através de uma máscara com dois pequenos monitores colocados em frente aos olhos verdadeiros. Depois, é só calçar luvar com filmes ópticos que farão com que os movimentos da sua mão se repitam na “mão virtual” (aquela que está na tela). Usando uma roupa toda feita de fibra óptica, você entra de corpo inteiro no espaço cibernético. Diferentemente de uma viagem provocada por uma droga, aqui todo efeito é antecipado – você só vai para os lugares que quiser.

O Battletech Center, o centro de diversão de Chicago, Illinois, foi o primeiro a usar a tecnologia da realidade virtual. Inaugurada em julho de 1990, é lá onde se desenrolam batalhas simuladas dentro de cabines hermeticamente fechadas. O segredo de seu sucesso é que os jogos nunca se repetem uma vez que a seqüência da ação não depende do que está no computador e sim da interação entre os jogadores. Ainda na fase dos simuladores de realidade virtual, o Battletech não utiliza os periféricos que dão a sensação de se estar entrando no computador, como acontece com o Virtuality – que pode ser experimentado em parques de diversões e shopping dos EUA, Europa e Japão -, um “arcade” que utiliza máscaras com telas de cristal líquido e sensores que reproduzem cada movimento do jogador na tela. Assim, o que se vê é o que está dentro da máscara, por isso há mais realismo. Virtuality é uma contração das palavras “virtual” e “reality”. Essa máquina que está divertindo os turistas americanos e estrangeiros torna a viagem muito mis emocionante. Entrar em outro mundo já não é mais privilégio dos filmes de ficção. No Brasil, ainda vai demorar um pouco para esse equipamento chegar.

01 outubro 2007

Realidade virtual: a passagem para o futuro (1)

Um mundo criado por computadores no qual não existem barreiras de tempo ou espaço. Trata-se da realidade virtual, celebrada como a mais avançada fronteira da relação entre humanos e computadores. Para ingressar neste mundo artificial, o “viajante virtual”, como um astronauta, deve usar equipamento especial, começando com um capacete e uma luva conectados a um computador. É só pressionar a tecla para que o viajante desligue de um plano para outro, com uma ilusão muito mais profunda de envolvimento do que efeito especial do cinema. Enquanto esses equipamentos não chegam ao Brasil, vale conferir a realidade virtual através do filme “O Passageiro do Futuro”, que já passou em nossos cinemas e está disponível em DVD. (Esta reportagem foi publicada em novembro de 1992).


O roteiro foi baseado num conto de Stephen King – nome que sempre causa boa impressão quando encabeça os créditos de filmes de terror e suspense – e um ótimo trabalho de computação gráfica, a New Line conseguiu fazer com que um filme de baixo orçamento (em torno de US$ 10 milhões) rendesse, em duas semanas, mais de US$ 17 milhões nos Estados Unidos. O diretor Brett Leonard acrescentou o mundo virtual à trama e, assim, imprimiu força e ritmo a uma boa edição das cenas filmadas e seqüências feitas em computação gráfica, que retratam a realidade virtual (RV). Na RV, é possível entrar em mundo gerado pelo computador, com a real sensação de que se está vivendo dentro desse mundo.

“O Passageiro do Futuro” (The Lawnmower Man) é uma mistura da história de Frankenstein com “Scanners – Sua Mente pode Destruir”. O monstro em questão é Jobe Smith (na pele do ator Jeff Fahey), jardineiro, um debilóide com idade mental de criança que, um dia, recebe do Dr. Lawrence Ângelo (Pierce Brosnan) uma proposta para aumentar a inteligência através da realidade virtual. Ângelo é um pesquisador que resolveu dar um tempo nas experiências que faz para a Virtual Space Industries, um complexo que deseja tornar suas cobaias mais agressivas, de modo a suportarem situações de guerra insuportáveis para humanos. Por discordar dos princípios da VSI, Ângelo decide testar seu aparelho no jardineiro. Logo, o cientista percebe que abordo do aparelho virtual, Jobe aprende latim, fica inteligente e até sensível, despertado os desejos de uma fogosa vizinha.

Como as possibilidades de continuar a experiência se esgotam no laboratório caseiro, Ângelo propõe à VSI lançar o experimento, só que sem as drogas neurais que fariam de Jobe um ser agressivo. Um assistente troca as vitaminas estimulantes e os software de Jobe. A partir daí, ele se descobre com poderes telepáticos e telecinéticos (mover objetos com a força do pensamento) e de destruir seus inimigos. Anglo perde o controle. Jobe se transporta literalmente para o “mainframe” (principal processador) do computador. De onde poderá sair para a segunda parte do filme. (que realmente foi exibido anos depois).

NOVAS DIMENSÕES - Um dos pontos altos do filme é a cena de amor entre Jobe e a vizinha. Da abertura de arrancar o fôlego até o clímax, as imagens, geradas pelo grupo de estúdios de processamento digital contratados deixam contagiar pelo espetáculo visual dessa nova dimensão de tempo e espaço. Para o diretor Brett Leonard, essa atração pela realidade virtual tem explicação: “O que mostramos no filme está de cinco a 10 anos na frente, em relação ao que existe agora. Eu acredito que o próprio fascínio exercido pela imagem cinematográfica muda radicalmente com a Realidade Virtual, porque ela oferece ao espectador a possibilidade de interagir com o que se vê na tela. O que dará dimensões completamente novas à indústria do entretenimento”.

A revolução técnica dos efeitos digitais chegou ao cinema em 1977, no filme “Guerra nas Estrelas”. Em 1982, surgem novas seqüências de computação gráfica em “Jornada nas Estrelas 2” e “Tron” em 84, mais eficiência nos efeitos em “O Último Guerreiro das Estrelas”. Em 87, foi a vez de “William”; em 84, “O Segredo do Abismo” e em 1990, Schwarzenegger fez uma viagem artificial em “O Vingador do Futuro” até chegar nos efeitos digitais de “O Exterminador do Futuro 2”.

A realidade virtual foi criada dentro dos laboratórios da NASA como forma de permitir a montagem de uma estação espacial com robôs comandados por controle remoto. A simulação em projetos militares tem sido bastante beneficiada pelo ciberspace. Além da NASA, a Universidade de Carolina do Norte também tem desenvolvido trabalhos na visualização de espaços para a arquitetura. Mas é no lazer que a realidade virtual vai ter sua aplicação mais popular e, com certeza, divertida, principalmente com o desenvolvimento do hardware, no que diz respeito à velocidade de processamento.

Os computadores mais velozes ainda não conseguem trabalhar em tempo real com uma alta resolução gráfica. Mas tudo é apenas uma questão de tempo. Assim que os fabricantes produzirem um hardware superveloz, a criação dos cenários ficará limitada apenas pela imaginação do homem. O espaço virtual também é chamado de cyberspace. O termo surgiu pela primeira vez no livro de ficção científica “Neuromancer”, de William, Gibson – não por acaso, ele teve a idéia do livro quando viu garotos jogando videogame em fliperamas.