As
maneiras que usamos para deliciar nossos sentidos variam de cultura
para cultura. Nossos sentidos transpõem o tempo. Eles nos ligam
intimamente ao passado com mais intensidade do que nossas ideias.
Vivemos atados por nossos sentidos. Ao mesmo tempo em que nos fazem
crescer, eles nos limitam e cerceiam. Temos a necessidade de criar
obras de arte para aprimorar nossos sentidos e aumentar as sensações
do mundo que nos cerca, para que nós possamos deliciar mais com os
espetáculos da vida. Vamos comentar neste segundo artigo de dois
importantes sentidos para nossas vidas: a visão e o olfato. O
primeiro torna-se mais densamente mais rico quando o percebemos com
os olhos, e o poder do olfato sempre foi assunto de povos de todas as
culturas.
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Há
muitas maneiras de ver. O esforço para enxergar projeta uma visão
diferente de tudo e de todos. Às vezes as sombras desenham imagens
que distorcem a verdade das coisas e das pessoas. E também a visão
direta da claridade, sem acostumar os olhos, cegava. Para enxergar
bem, é preciso olhar profundamente e isso faz descobrir novas formas
e significados e até mesmo outras visões. Os olhos que tudo veem,
não vêm a si mesmos, têm que se adaptar ao desejo de quem olha.
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Os
cheiros compõem um alfabeto e linguagem particular que têm o poder
de provocar reações específicas no corpo e na psique. Assim
atingem os mais profundos cantinhos da alma, muitas vezes
desconhecidos. Muitos artistas procuram sensações olfativas para
estimular a criatividade. Segundo Jean Jacques Rousseau o sentido do
olfato é a própria imaginação. O aroma de um pedaço de bolo e
uma xícara de chá inspiraram Marcel Proust a descrever, em uma das
maiores obras primas da literatura, a recordação infantil de comer
bolinhos chamados “madeleines”. O olfato é um sentido muitas
vezes menosprezado pela cultura excessivamente visual da atualidade.
Os cheiros envolvem-nos, giram ao nosso redor, entram em nossos
corpos, emanam de nós. Vivemos em constante banho de odores. O
olfato é o mais direto de nossos sentidos. Cada um de nós possui
suas próprias memórias aromáticas. O olfato foi o primeiro de
nossos sentidos a se desenvolver. Pensamos porque cheiramos.
A
cegueira não é empecilho para que o herói do gibi como Demolidor
faça justiça. Quem é deveras cego? Pergunta José Saramago (Cia
das Letras) no “Ensaio sobre a Cegueira”. Já João Vicente
Ganzarolli de Oliveira (Revan) explicita como o belo é concebido
pelo cego em “Do Essencial Invisível”. Em “O Perfume, História
de um Assassino” (Record), Patrick Suskind busca a fórmula de um
perfume ideal, num mundo descrito por odores, enquanto que o poeta
Chales Baudelaire em vários poemas do “Flores do Mal”, traz a
sinestesia, trabalha muito com o olfato. Isso sem falar na obra maior
de Marcel Proust, “Em Buscas do Tempo Perdido”, no qual o odor de
uma madeleine no chá traz à tona recordações de infância,
inspirou pesquisadores ingleses a investigar a relação
olfato-memória, que foi batizada de “proustian phenomena”. O
terceiro e último desses artigos sobre sentidos vamos conhecer o
tato, o paladar e a audição.
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