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O francês Lewis Trondheim passeia por inúmeros gêneros e estilos. De simples HQ sem palavras sobre a vida de uma mosca até uma análise das teorias de criação, evolução e fim de mundo. Mais do que uma banda desenhada em registro mudo, trata-se de uma obra que sugere ao leitor novas percepções visuais através dos olhos de uma mosca. Trondheim afirma-se aqui como contador de sequências, acrescentando-lhes o delírio, montando dispositivos próximos do absurdo. Como se o menos fosse mais. E bastasse. Lewis Trondheim nasceu em França, em 1964. Dedicou-se desde cedo à HQ como amador e em 1990 participa na fundação de L’Association. Nesse mesmo ano, Psychanalyse, o seu primeiro álbum, é publicado.
Mais tarde, colabora com importantes editoras, nomeadamente a prestigiada Dargaud. Depois de uma entrada modesta no mundo da história em quadrinhos, Trondheim aperfeiçoa o grafismo e revela-se narrador exímio de um universo muito próprio onde mistura o cinismo e a sátira, sendo já considerado um dos ícones da HQ de autor do nosso século. O que mais caracteriza Trondheim é o seu estilo gráfico: evoluindo ao longo dos álbuns, os seus desenhos, que podem parecer rudimentares ou mesmo desajeitados à primeira vista, são duma espontaneidade e vivacidade raras. Quanto aos cenários de Trondheim, a ironia e a ligeira absurdidade que os contamina não fazem mais que chamar a atenção para os nossos defeitos que fazem de nós seres tão humanos.
O álbum Célébritiz traz a história de um sujeito comum que compra em um brechó um casaco de segunda mão que tem escondida no bolso, uma caixa de pastilhas. Quando o cara experimenta as pastilhas, faz uma descoberta sensacional: Essas pastilhas permitem a uma pessoa se tornar uma celebridade instantânea por um curto período de tempo, retornando, após o final do efeito, a um anonimato tão completo quanto repentino. Mas de onde surgiram essas pastilhas? E, mais importante, como usá-las para poder sair de sua vidinha mediocre? Segue-se a demolição do culto às celebridades. Trondheim faz uma incisiva crítica à maneira como a fama eleva a gênios qualquer figura medíocre e, basicamente, a permite operar fora da regras normais da sociedade. Mas além de uma crítica é também uma história dividida em pequenos "episódios" de umas poucas páginas (foi serializada em algum lugar antes da publicação em álbum), mas com uma trama bem amarrada e recheada de personagens interessantes (destaque para Yuri, o violento, marombado e acéfalo astro russo de filmes de ação). Tudo isso, claro, com o humor desopilante que fez a fama de Trondheim.
A mistura das culturas ocidental e oriental marca a obra do premiado francês Frédéric Boilet. Cansado da velha fórmula de HQ européia, em cores, 46 páginas de formato grande, o autor adotou o modelo dos orientais que, desde os anos 40 fazem mangás de uma forma mais livre, priorizando a história, a narrativa do dia a dia, podendo ultrapassar as 46 páginas limites. Boilet é dono de um traço refinado, longe de estereótipos dos quadrinhos japoneses, e cria suas histórias a partir de uma fusão entre o lápis, o nanquim e a fotografia. “O olhar flui melhor de um quadro ao outro, o que dá um aspecto cinematográfico à obra”, explicou Boilet que cria suas HQ a partir de filmagens. Enquanto o cinema faz desenhos conhecidos storyboards para depois gerar imagens em movimento, Boilet faz justamente o contrário: constrói seus esboços a partir de uma câmara filmadora para então criar suas tirinhas.
Contando histórias cotidianas, o mangá se aproxima do cinema francês dos anos 60. Essa semelhança
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Boilet queria escrever sobre um francês que vai pela primeira vez ao Japão sem falar japonês. Ele passou seis semanas em solo nipônico e contou o que viveu em Love Hotel (1993). Algum tempo depois, fez outra “viagem antropológica! E passou um ano e meio em Tóquio e outros seis meses em Quioto. Dessa vez, Boilet escreveu sobre um francês que estava se adaptando à cultura oriental. Essa é a trama de Tóquio é meu Jardim (1999) e acabou se casando com a musa inspiradora dessa HQ. Os
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Em entrevista Boilet afirmou que estava com vontade de sair pelo mundo fazendo quadrinhos-reportagem. “O Japão era o lugar certo para começar. Pela dificuldade de acesso, por não falar a língua e não conhecer praticamente nada do país, me coloquei o desafio: se conseguir fazer quadrinhos lá vou conseguir fazer em qualquer lugar do mundo!” Sobre sua obra, o autor diz que “Meu interesse sempre foi falar do cotidiano, de todos os elementos de uma relação entre um homem e uma mulher. Sedução, primeiro encontro, separação. Não há sentido em contar uma história de amor que termina quando a luz do quarto é apagada.” E mais, sobre a cultura japonesa relata que “por não viverem numa sociedade judaica nem cristã, os japoneses não ensinam suas crianças para que se sintam culpadas com relação ao desejo sexual. O sexo é considerado um jogo. No lugar da culpa, o que eles têm é uma noção de vergonha. Se alguém te olha com olhar desaprovador, aí você sabe que aquilo é ruim. Mas, no quarto, quando os dois estão com as portas fechadas, não existe essa pressão.”
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