Abstract Expressionist Ultra Super Modernistic Comics é o primeiro trabalho da antologia, de autoria de Robert Crumb publicado na revista Zap Comics n.1 (1967). A leitura dessa antologia vai muito mais do leitor e sua relação entre o símbolo e o significado. Cada um interpreta à sua maneira. Mesmo as formas sendo abstratas, cada leitor encontra na relação sequencial entre elas ideias de mistura, cruzamento, transformação, ainda que todas elas não sejam mais que metáforas para tentar descrever o que se vê, e não descrições objetivas dessas mesmas “ações” representadas. As manchas abstratas de cada quadro lembra bem aquelas nuvens no céu que não tem qualquer intencionalidade de comunicação, mas que cada um que olha vê nela forma similar a qualquer objeto, seja em forma humana, animal ou vegetal.
Cada leitor abstrai individualmente todo espectro de potencialidades não figurativas, representativas, formais. Cada trabalho desencadeia em nossa mente qualquer ideia, abstração. Mas essa interpretabilidade não pode ser compartilhada do modo mais comum. São obras, como disse Umberto Eco, abertas.
Cada artista reunido nesse álbum tem técnicas diferentes, seja a tinta no papel, aquarelas, lápis, lápis de cor, colagens, manipulação digital, desenho minimal, cartoons aliadas às diferentes estratégias e presenças dos elementos das histórias em quadrinhos. Esses artistas desconstroem os quadrinhos tidos como “normais”. Os graus de atenção são diversos e complexos. Podem ver sem ler, mas nunca ler sem ver.
Muitos dos trabalhos apresentados não possuem o dinamismo sequencial dos quadrinhos não abstratos e não se relaciona com a estrutura narrativas ou os princípios sequenciais a que estamos habituados com seus descritores, mas sim a padrões preferenciais de leitura. Esse experimentalismo nos quadrinhos que vem desde a época de Gustave Verbeck em 1903 e seu “Upside Downs” ou mesmo Winsor McCay com seu “Little Nemo in Slumberland” (1905). Foram muitos os artistas gráficos que deram sua contribuição ao quadrinho experimental até chegar ao abstracionismo. Inclusive um desenhista da Marvel, Steve Ditko nos anos 60 trazia exemplo de abstração na historieta do mago Dr. Estranho. E de lá até hoje temos cortes temporais, espaciais, espacio temporais, narrativas que se funde sobre o salto de imagem em imagem, fazendo da elipse a sua marca registrada. O desenhista Barbe, Crepax, Bode e tantos outros desconstruíram os quadrinhos. Essa desconstrução muitas vezes é necessária para o sopro da narrativa quadrinhográfica.
E se antes esse tipo de quadrinhos (abstrato) tinha papel secundário, relegado a experimentações isoladas, hoje existe um movimento que atua nesse processo pelo qual as artes visuais vislumbre. E o papel dessa antologia é inspirar outros criadores a abandonar (mesmo que temporariamente) a figuração. Os quadrinhos autorais e os autobiográficos seguem esse movimento de desconstrução da imagem. É a Fantagraphics é uma editora que mantém viva e atualizada a tradição do underground, do quadrinho pessoal, liberdade total. Nos anos 90 tivemos os ousados jovens como Chester Brown, Adrian Tomine, Peter Bagge, Daniel Clowes, Alan Sieber, Lourenço Mutarelli, etc, cada um com seu estilo, sua visão de mundo. Há neles uma explosão de formas, cores e uma interação estética rica de sequencialidade., cortes, elipse, tudo abstração onde o leitor poderá viajar ou não. Depende da cabeça (conhecimento, cultura) de cada um.
Quem abrir o álbum vai deparar com os espaços brancos de Patrick McDonnell, dos quadros fragmentados de Benoit Joly, das formas florais de Damien Jay, do concretismo ao poema processo de Ib Al Rabin, do colonialismo psicodélico de Andy Bleck, do futurismo de Andrei Molotiu, do transformismo de Anders Pearson, do desestruturismo de Grant Thomas, do instigante Henrik Rehr, do esquadramento de Mark Granyea, ao quadro transfigurado de Drawn e Jason T. Milis, Elijah Brubaker, das manchas de Tim Gaze, dos riscos de Troylloyd. Tudo para ver e rever, e ver de novo, novo, ovo, vo,o....Abstrações.
ARTE ABSTRATA
O surgimento da arte abstrata ou abstracionismo foi no início do século XX, por volta de 1910. As principais características são: O abstracionismo como libertação das formas naturalistas. Não existe relação da imagem do mundo real com os traços, cores e formas que compõem as obras.
Produção totalmente não-representacional e não objetiva. O artista lança mão tão somente da estruturação dos elementos da composição, ou seja, das relações formais entre linha, cor, ritmo e superfície.
Quando a arte abstrata surgiu no começo do século XX, provocou muita polêmica e indignação. A elite europeia ficou chocada com aqueles formatos considerados “estranhos” e de mau gosto. A arte abstrata quebrou com o tradicionalismo, que buscava sempre a representação realista da vida e das coisas, tentando imitar com perfeição a natureza. Na arte abstrata o artista trabalha muito com conceitos, intuições e sentimentos, provocando nas pessoas, que visualizam a obra, uma série de interpretações. Portanto, na arte abstrata, uma mesma obra de arte pode ser vista, sentida e interpretada de várias formas.
Um desenhista, um artista, quando olha para uma forma, seja ela de um ser humano, animal, árvore ou qualquer objeto, ele não vê apenas a forma apresentada no mundo real, ele abstrai essa forma. Este olhar é desenvolvido... Ele passa por este processo de leitura da forma... Ele passa a não ser mais uma forma, mas assume um significado. A criança abstrai com facilidade. Esse tipo de capacidade de abstração da forma, cria também maneiras diferentes de se ver o mundo, a vida, as pessoas e tudo mais. Não precisamos ser pragmáticos em tudo em nossa vida. Podemos aprender a abstrair. A ver além. A partir dessa nova maneira de ver, de ler, de interpretar, de codificar formas através do desenho, da ilustração, das histórias em quadrinhos e de outras maneiras de se expressar, é que a arte passa a ter vida própria. Os reflexos desta nova maneira de ver, é claro, se estende não só pelas artes gráficas, mas também na literatura, no cinema, na música, etc.
Prezado Gutemberg, vc sabe a data e local do falecimento do pintor Raymundo Chaves de Aguiar?
ResponderExcluirAgradeço muitíssimo pela informação.
Grato,
Ubaldo Marques Porto Filho
ubaldo@acirv.org
Meu caro Ubaldo
ResponderExcluirRaymundo Aguiar faleceu no dia 06 de dezembro de 1989, aos 96 anos, deixando cinco filhos, 31 netos e oito bisnetos. A informação está no meu livro O Traço dos Mestres, lançado em 1993
Olá Sr. Gutemberg,
ResponderExcluirMeu nome é Willison Cardoso.
Tenho 2 quadros de parede pintados por esse gênio do desenho, o RAYMUNDO AGUIAR. Datados de 1967 (luz e sombra obras do interior da igreja de São francisco).
Pretendo vende-los... Eu gostaria que informasse o meu e-mail para alguém que esteja interessado nas obras. Eu não desejo anunciar e vende-los para qualquer pessoa e sim para alguém que valorize estas obras.
Grato,
WILLISON CARDOSO
E-MAIL: willison68@hotmail.com