A paisagem que a tv me cala todos os dias, colando a noite
Uma menina esquálida sem rosto sem telefone
Ou nome que dê alegria a que a viu mas não entende quase nada
Uma janela na cabeça tela plana inteira
O preto e o branco em guerra nas cores de bombas na escuridão
Princípios do fim, na onda da televisão
Eu não entendo mais
Sua palavra é o verbo forte da minha alegria, a paz na vida
Mas o índio nu de cara pálida azul de fome
Nos conduz a um mar de becos sem saída num caminho que não continua
A imagem vesga da tristeza a morte derradeira
O não e o sim no olho na cara na boca no coração
O meio do fim, na mira da televisão
Viva vai a vida captando a vida
Via satélite para todo mundo ver
Num quarto escuro
A cama e a tv não param de dizer que tudo rola
Mesmo que as pedras nunca rolem por você
Eu não entendo mais
A solidão no quadro a quadro da melancolia, num breve slow motion
Os meus amigos voam e eu não posso mais ficar aqui a esperar
Sentado à beira do caminho
Só quero um pouco de carinho e tudo mais que vale a pena
Meu cinema, a sombra da noite e o sol partindo a manhã
Brilhando na minha cama
Tudo que mora em mim (Climério Ferreira)
Muito de mim foi ficando
Nos sonhos de cada idade
Fui outro tanto deixando
Pelas ruas da cidade
Muito morri por amor
Até sofri de verdade
E o que de mim foi sobrando
Dei de gastar em saudade
Tudo que em mim habita
Fui transformando em poesia
Uma pessoa bonita
A eternidade de um dia
Ou uma cidade antiga
Uma roça se chovia
Às vezes palavra amiga
Ou um gesto de alegria
De uma manhã de agonia
Ou então da tarde calma
Ou de uma noite vadia
Fui construindo minh’alma
Do que me sobrou da vida
Eu fui compondo a canção
Que simples e comovida
Embala meu coração
Sendo assim sou e serei
O que de mim sobrou
Não sou capacho nem rei
Nem palhaço sonhador
Sou o que a vida oferece
E o que invento e componho
O meu destino tece
Na tessitura de um sonho
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