O mundo vive um processo expansivo de fragmentação em todos os níveis e em todos os planos, desde o desmoronamento das noções até a proliferação das seitas, desde a revalorização do local à decomposição do social. A fase é de mudança radical. A globalização do mercado é um bom exemplo. Trata-se de um mercado sem fronteiras, transcendendo inclusive a origem das firmas que o exploram. No caso da produção, antes o que importava era produzir o maior volume dos produtos parta distribuí-los em massa. Com isso, os bens de consumo eram padronizados para baixar o custo de sua fabricação.
Hoje o que conta não é só a produção em massa, mas a fabricação de produtos especializados a ser consumidos por mercados exigentes e segmentados. As novas tecnologias foram incorporadas e permitiram a rápida confecção de materiais bem acabados, fator essencial para seu barateamento.
Flexibilidade, criatividade e descentralização serviram de base para a ação empresarial. Para vender mais mercadorias a nova barreira não é mais o volume ou o preço, mas a capacidade de se diagnosticar quais tecnologias se adequam a um mercado particular. Assim, as corporações transnacionais não focalizam mais os produtos enquanto tal. Agora suas estratégias comerciais cada vez mais se voltam para o conhecimento especializado. Conhecimento e informação tornam-se categorias-chaves no contexto das sociedades pós-industriais.
Os produtos são compostos, fabricados em pedaços e em vários lugares. O desenraizamento dos produtos é algo fundamental para o pensamento administrativo. Computadores, remédios, cartões de crédito, boneca Barbie e roupas Benetton são universais, pois correspondem à existência de um mercado mundial.
GLOBALIZAÇÃO
GLOBALIZAÇÃO
A globalização é a única grande utopia possível, a de um só mundo compartilhado. É o pensamento de uns. Para outros a globalização é o mais aterrorizante dos pesadelos, o da substituição dos homens por técnicas e máquinas. Assim as tecnologias da informação e da comunicação estão fazendo com que o mundo tão intercomunicado se torne cada vez mais opaco (onde a única dimensão mundial é o mercado que, mais do que unir, busca unificar). E o que está unificando em nível mundial não é uma vontade de liberdade, mas de domínio, não é o desejo de cooperação, mas o de competitividade.
Para Jesus Martin Barbero, não é possível habitar no mundo sem algum tipo de inserção no local, já que é no lugar, no território, que se desenvolve a corporeidade da vida cotidiana e a temporalidade (a história) da ação coletiva, base da heterogeneidade humana e da reciprocidade, características fundadoras da comunicação humana.
Há uma nova maneira de estar no mundo. Com as profundas mudanças produzidas no mundo da vida (no trabalho, no casal, na roupa, na comida, no lugar), surgem, os novos modos de inserção no (e de percepção de) tempo e espaço, com tudo o que implicam de descentralização concentradora de poder e de um desenraizamento que leva à hibridação das culturas. É o que acontece quando os meios de comunicação e as tecnologias de informação se convertem em produtores de veículos da mundialização (não confundir com padronização) de imaginários ligados à músicas e imagens que representam estilos e valores desterritorializados, aos quais correspondem também novas figuras da memória.
Assim, o processo de globalização é, ao mesmo tempo um movimento de potencialização da diferença e da exposição constante de cada cultura as outras, de minha identidade àquela do outro. Aquilo que acontece em um produz efeitos no outro. No mundo em processo de globalização, o tempo e o espaço encolhem e as fronteiras desaparecem, os males mundiais difundem-se com alcance e velocidade sem procedentes.
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