24 novembro 2009

Quem disse que gosto não se discute? (2)

Assim o autor (Pierre Bourdieu) se dedicou a relacionar os gostos de cada classe com seu capital escolar (determinado pelos diplomas) e com sua origem. Para ele, quanto mais anos de estudo, mais uma pessoa se distancia do gosto popular, para adquirir um gosto legítimo em relação à música. Não só ela passa a apreciar mais compositores menos populares como também o conhecimento do nome de compositores aumenta substancialmente. O gosto musical, ainda mais que outros, sofre uma variação a depender da diferença de anos de estudo, visto que este é um dos campos do conhecimento considerado mais legítimo. As áreas também são hierarquizadas. Por exemplo, o conhecimento de música clássica e de pintura é um conhecimento legítimo, o conhecimento sobre jazz e histórias em quadrinhos, em vias de legitimação.

Diplomas escolares asseguram a nobreza cultural, valorizando o capital cultural de uma classe mais alta e estigmatizando aquele de uma classe mais baixa. Assim, a escola influencia não só nos gostos ligados ao mundo escolar, mas em toda a vida cultural de uma pessoa. E não só influencia como também garante competências culturais muito maiores do que as ensinadas na escola.

Há alguns postos – segundo Bourdieu – ligados à origem social do que ao capital escolar, como no caso de mobília e vestuário, muito mais relacionados a percepções vindas desde a infância do que a aprendizagem nos livros escolares. A escola tende a referendar o capital herdado pela classe alta. Portanto, parte do capital de pessoas da classe média ou de frações mais baixas da classe alta nunca vem a ser aprovado pela cultura legítima. Nesse contexto, muitos buscam domínios diferentes de investimento cultural, domínios menos legítimos, como o jazz.

POSIÇÕES

As disputas por posições hierarquizam, igualmente, as oportunidades estatutárias das classes em matéria de valores e concepções políticas. Isso leva a crer que mesmo a fração da classe popular com maior capital cultural está submissa às normas e valores dominantes. Os agentes menos competentes (pela perspectiva da cultura legítima) estão à mercê dos efeitos da imposição do campo de produção ideológico influente, acarretando tomadas de posições ligadas às representações “legítimas” do mundo social. Falta-lhes capital escolar, diria Bourdieu, mas que é compensado no blefe inconsciente de uma linguagem que disfarça, sobretudo, posições políticas “desencontradas”, “ingênuas” ou “ignorantes”.

Ao diploma escolar é reservado um elevado poder simbólico transformando a escola em uma das instâncias sina qua non da manutenção da ordem social. A obtenção do diploma fixa as disposições dominantes. Desapossa e separa os menos competentes em favor dos mais competentes; os menos instruídos em favor dos mais instruídos.

A Distinção foi o livro que mais irritou alguns dos intelectuais porque se pensava que, indiretamente, este livro destruiria a aura (para falar como Walter Benjamin) da criação intelectual, da produção estética, remetendo-a a prática de consumo que se vinculavam as condições econômicas, posições sociais, vontade, distinção etc.

O consumo cultural e o deleite estético são acionados como forma de distinção, ou seja, a familiaridade com bens simbólicos traz, consigo, associações como “competência”, “educação”, “nobreza de espírito” e “desinteresse material”. Essa divisão da sociedade entre “bárbaros” e “civilizados” acaba tendo consequências políticas: justifica o monopólio dos instrumentos der apropriação dos bens culturais por parte desses últimos.

A estrutura social é vista como m sistema hierarquizado de poder e privilégio, determinado tanto pelas relações materiais e/u econômicos (salário, renda) como pelas relações simbólicas (status) e/ou culturais (escolarização) entre os indivíduos.

As instituições familiar e escolar seriam as responsáveis pelas novas competências culturais ou gostos culturais. Assim, a distinção entre esses dois tipos de aprendizado, o familiar e o escolar, refere-se a duas maneiras de adquirir bens da cultura e com eles se habituar. Essas duas formas de aprendizado seria uma dimensão do habitus de cada um.

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