Numa quarta-feira triste do dia 7 de junho de 2006, silenciava, aos 63 anos, o jornalista e escritor baiano Guido Guerra. Ocupando a quinta cadeira da Academia Baiana de Letras (ABL), durante 40 anos este homem presenteou a Bahia e o Brasil com uma vasta obra literária. Chamado pelo colega Jorge Amado de “Papagaio Devasso”, Guido Guerra escreveu 12 livros, desde a Dura Realidade, até a sua última inspiração A noite dos coronéis.
Dono de um texto ousado e de um olhar irreverente, Guido Guerra foi o criador de mundos e criaturas, aquele que aprendeu através do diálogo bem tecido, da voz do outro, a dar voz a si mesmo. Guerra ficou conhecido como um dos maiores críticos do regime militar. Durante os chamados anos de chumbo, ele respondeu a 17 inquéritos e interpelações da ditadura. Como jornalista, ele atuou nos extintos jornais Diário de Notícias, Jornal da Bahia, Bahia Hoje, semanário Folha da Bahia (fechado no golpe militar de 1964) e no Tribuna da Bahia.
Entre suas principais obras estão romances, contos, ensaios, dos quais podemos destacar As Aparições do Dr. Salu e Outras Histórias; Com o céu entre os dentes; Ela se chama Joana Felicidade; Vicente Celestino - o Hóspede das Tempestades; Quatro Estrelas no Pijama; Lili Passeata; O Último Salão Grená; Vila Nova de Raimunda Doida; Auto Retrato, Percegonho do Céu Azul, entre outros.
MARGINAIS - Guerra dava voz a personagens marginais, cujas peripécias eram relatadas aos leitores em uma linguagem pouco recatada. Considerado acintoso pelos mais pudicos, seus escritos não raro serviam de estopim para denúncias à polícia, o que gerou sucessivas demissões e readmissões nos veículos de comunicação baianos.
O Papagaio Devasso costumava dizer que não era escritor, mas “um jornalista que cresceu com o ofício literário”. Guido, nascido em Santa Clara, alto sertão baiano, era mesmo um homem de Guerra. Fazia parte da geração que, ao mergulhar de cabeça no jornalismo de esquerda, incomodava pela sutileza, irreverência e perspicácia analítica com que narrava fatos e criava crônicas.
Em 2006 amigos, familiares e imortais da Academia de Letras da Bahia se reuniram para prestar uma homenagem ao Língua de Trapo (como ficou conhecido). Segundo o poeta Ruy Espinheira Filho que conheceu Guido nos anos 60, ele foi uma figura singular. Além de escritor e jornalista, define, era uma pessoa com uma capacidade para se relacionar com o ser humano muito grande: “Em pouco tempo que entrou para a Academia, desempenhou um papel de liderança”.
ANJO TORTO - “Ele era temido. Como são temidas as mordidas das cobras, os ventos encarnados, as assombrações e as más-línguas. Era um daqueles a quem um anjo torto disse: 'Vai Guido, ser Guerra na vida'. E ele foi o irreverente guardião dos maus costumes”, lembra o grande amigo Cid Seixas. Mas, Guido também era um sujeito extrovertido e brincalhão, nunca bebia, era capaz de virar a noite em companhia dos amigos sem colocar uma única gota de álcool na boca.
“A entrevista me fascina pela possibilidade de provocar o entrevistado, fazê-lo revelar mazelas que talvez não confesse nem ao espelho. O papel do repórter é este: desnudar suas personagens”, disse Guido Guerra em uma entrevista em 2005. Sua literatura é focada em tipos populares, seres da noite, no universo interior. Um mundo imaginário, com traços de realidade, que encantou leitores e que, por meio do criador, cativou amizades sinceras. É, de fato estamos mais pobres sem nosso Guido Guerra.
Guido Guerra foi um do títulos que inaugurou a coleção Gente da Bahia que a Assembléia Legislativa lançou no dia 28 de janeiro de 2009. A obra, com 198 páginas resgatou a trajetória do escritor e jornalista baiano, e foi escrito por Luíza Torres.
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3 comentários:
Que boa surpresa encontrar aqui esta homenagem ao nosso querido amigo Guido. Sua língua ferina faz falta nos dia de hoje, quando parece haver um concenso sobre tudo.
Cristiano
Neste mundo globlizado as pessoas parecem temer em dar sua opinião, em criticar com embasamento, a discordar ao que está ao seu redor. Todos querem concordar para aparecer bonito na foto. Esta é a realidade dos dias atuais
Nobre Gutemberg, fiquei encantado com vossas palavras dispensadas ao nosso maior expoente literário, contudo tomando o gancho do termo “nosso”, esclareço que faço em que referência à cidade de Santaluz na Bahia local de nascimento de Guido Guerra, mas que foi em vosso brilhante texto substituído por Santa Clara. Gostaria que não se exaltasse com essa observação, se a faço é somente por também ser luzense( adjetivo gentílico dos nascidos em Santaluz) além de também escritor, mas principalmente porque exultei com vossas palavras e quero inclusive recomentar tal leitura.
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