Meus inimigos querem me matar/ Se ainda estou vivo devo à Iemanjá/ Eu que sou moleque de morro/ Criado na gafieira/ Sou bamba na capoeira/ Sou valente lá pra cachorro/ Quando há barulho eu não corro/ Sei que o tempo vai fechar/ A minha vontade é de briga/ O barulho pra mim é jogo/ Tenho o corpo fechado/ Porque sou filho de Xangô/ Sou feliz por tudo que fiz/ Sei que Iemanjá me ajudou (Moleque de Morro). Essa música você pode até não ter ouvido, mas, certamente, ao saber o nome do seu mestre e compositor, rapidamente se lembrará de uma figura para lá de ritmada: Jackson do Pandeiro.
O paraibano Jackson do Pandeiro foi o maior ritmista da história da música popular brasileira e, ao lado de Luiz Gonzaga, o responsável pela nacionalização de canções nascidas entre o povo nordestino. Em 54 anos de carreira artística estão registrados sucessos como Meu enxoval, 17 na corrente, Coco do Norte, O velho gagá, Vou ter um troço, Sebastiana, O canto da Ema e Chiclete com Banana. A história da sua carreira artística reforça a herança da influência negra na música nordestina - via cocos originários de Alagoas - que lhe permitiram sempre com o auxílio luxuoso de um pandeiro na mão, se adaptar aos sincopados sambas cariocas e à música de carnaval em geral.
VOZ DE OURO DA PARAÍBA - Dono de um recurso vocal único, ele conseguia dividir seus vocais como nenhum outro cantor na música popular brasileira. Seu maior mérito foi de ter levado toda riqueza dos cantadores de feira livre do Nordeste para o rádio e televisão. Grandes nomes da MPB lhe devotam admiração e já gravaram seus sucessos depois que o Tropicalismo decretou não ser pecado gostar do passado da música brasileira, principalmente a de raiz nordestina.
Nascido em Alagoa Grande, Paraíba, no dia 31 de agosto de 1919, numa família de artistas populares, sua mãe, Flora Mourão, era cantora e folclorista de Pastoril e o batizou como José Gomes Filho, onde depois ganhou o apelidou de Jack devido sua semelhança física com um ator norte-americano de filmes de faroeste Jack Perry. Jackson do Pandeiro, começou na verdade, tocando zabumba, para acompanhar a mãe, mas fazia sucesso na região com o instrumento que marcaria sua trajetória: o pandeiro. Com ele, viajou em busca do sucesso.
SAMBAS & NORDESTINIDADE - Antes mesmo de gravar seu primeiro disco, Jackson conheceu a consagração ao participar de uma revista carnavalesca chamada “A Pisada É Essa”, da Rádio Jornal do Comércio, em fevereiro de 1953, cantando o coco “Sebastiana”, de Rosil Cavalcanti. A música vira uma coqueluche e leva o então representante da Gravadora Copacabana, Genival Macedo, a propor contrato de exclusividade ao dono daquela “esquisita”, mas envolvente voz.
Em novembro de 1953, é lançado para todo o Brasil o primeiro disco de um acervo de 137, envolvendo mais de 400 canções. “Forró em Limoeiro” e a já famosa entre os pernambucanos, “Sebastiana”, são as escolhidas para a estréia discográfica. O sucesso se repete nacionalmente, enquanto o ritmista mantém-se em Recife, com medo de viajar de avião. Por exigência contratual, vê-se obrigado a seguir, de navio, o mesmo caminho trilhado por outros nomes da música nordestina: o Rio de Janeiro. Chega como uma estrela que jamais se apagaria.
A trajetória de Jackson de Pandeiro não registra números de vendagens significativos, nenhuma aventura pelo exterior e muito menos o charme que cerca os ídolos da música popular brasileira. Falecido em 10 de julho de 1982, o Rei do Ritmo ainda tem sua rica e vasta obra restrita às lembranças nostálgicas de quem vivenciou seu período áureo ou esquecida em empoeiradas prateleiras de colecionadores. Conhecer a obra deste artista tão completo e genial, se faz necessário para a sua perpetuação, agregando ainda mais valor à história passada, presente e futura da música brasileira.
PRINCIPAL HOMENAGEADO - Jackson influencia gerações e gerações, seu maior mérito foi de ter levado toda riqueza dos cantadores de feira livre do Nordeste para o rádio e televisão, enfim para a indústria cultural. Grandes nomes da MPB lhe devotam admiração e já gravaram seus sucessos depois que o Tropicalismo decretou não ser pecado gostar do passado da música brasileira, principalmente, a de raiz nordestina. O Prêmio Sharp de Música foi unânime em escolher o artista como o principal homenageado do troféu em 1998.
“Eu diria que Jackson é o grande malandro do nordeste da música popular”, disse Gilberto Gil. “O samba de Jackson já vinha com bebop”, informou João Bosco. “Ele encarnava toda aquela coisa da música nordestina, o ritmo, a energia e o suingue”, comentou Moraes Moreira. “No Nordeste, os três principais alimentos são a farinha, a carne seca e o ritmo, que é um verdadeiro deus e Jackson o nosso sacerdote. Temos hoje essa malandragem rítmica porque ouvimos muito Jackson quando éramos criança”, disse o músico Tom Zé. Nossa homenagem aos 90 anos de nascimento do rei do ritmo. Jackson do Pandeiro foi o maior ritmista da história da MPB
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