Foram as preferências sexuais das mulheres que conduziram as principais evoluções do órgão sexual masculino, selecionando para a cópula os machos que tinhas as informações genéticas que as agradavam. A opinião é do psicólogo americano Geoffrey Miller, especializado em evolução humana e autor do livro A Mente Seletiva. “E a ereção humana representou um papel importante nessa escolha, já que ela é uma forma de o macho demonstrar que é saudável e forte e que, além disso, está disposto para a cópula”, diz Miller. Para ele, o prazer também foi determinante para chegar ao formato final do pênis, o que aconteceu há cerca de 60 mil anos.
O homem é falocêntrico, põe toda sua erotização no pênis, enquanto a mulher a distribui pelo corpo. “O pênis reúne os conceitos de procriação, prazer, virilidade e paternidade. Na mulher, eles estão separados entre o clitóris (prazer), útero (procriação), vagina (gênero), seios (maternidade)”, informa a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do programa de sexualidade do Hospital das Clínicas da USP. Isso justificaria a angústia dos homens em relação à sua virilidade. O símbolo de sua força e poder está fora de seu controle.
Foi Sigmund Freud que primeiro se preocupou com a alma do pênis. O fundador da psicanálise dedicou parte de sua vida e de sua obra para explicar o papel dele na formação do indivíduo e da sociedade. Para ele, o pênis era o órgão fundamental na formação do caráter de todas as pessoas. As mulheres se caracterizariam pela ausência e a inveja do falo, os homens pelo medo da castração e pelo complexo de Édipo. Freud acreditava que todo o comportamento dos indivíduos podia ser explicado pela relação dele (ou dela) com o pênis.
INVEJA
Com os conceitos fundamentais de inveja do pênis e ansiedade da castração, a sua descrição do inconsciente como um domínio tornado caótico pela luxuriado pênis, e a sua afirmação de que toda libido, tanto feminina quanto masculina, é fálica, Sigmund Freud no início do século XIX pôs o pênis na boca e mente de quase toda pessoa instruída no mundo ocidental. As idéias e atitudes que Freud presidiu tiraram as folhas de parreira deixadas por 1.50 anos de civilização cristã. Para alguns, foi um ato de coragem monumental. Para outros, um ato de barbarismo.
Que o pênis é um marcado, uma parte do corpo com significados conscientes e inconscientes de conseqüências sérias e duradouras, é um insight que também foi exposto a Freud quanto criado por ele. Tornando-se homem na Europa no fim do século XIX, Freud sabia que a sua condição de judeu definia-o como doente aos olhos de seus vizinhos cristãos. Também sabia que esses olhos concentravam-se na sua parte que “causavam” a sua doença. Essa parte do corpo tornava-o, e a todos os judeus, uma perigosa fonte de contágio par os não-judeus. O órgão que fazia isso era o pênis judeu. Medo e aversão por esse órgão permearam a cultura européia por dois mil anos.
O judeu era definido por seu pênis, e esse pênis era definido pela circuncisão. O ritual provava a perversidade do judeu – remoendo o prepúcio e, desse modo, numa menção indireta à castração, expondo a glade, exatamente como o pênis quanto ereto. Por causa desses sinais mistos, a idéia cristã do judeu era sexualmente confusa, mas uniformemente negativa.
GUERRA
A partir da década de 60 o pênis se tornou mote da guerra dos sexos, virou emblema político e foi um dos alvos prediletos dos discursos feministas. E o falo chegou a ser ameaçado por sua versão plastificada, o vibrador, cujo uso era encorajado pelas feministas. O resultado dessa batalha foi a chamada democratização do falo. Homens e mulheres dividiram o poder na esfera social.
A historia do pênis e a história de sua evolução como idéia. Ao longo do tempo, o pênis foi divinizado, demonizado, secularizado, racializado, psicanalisado, politizado e, finalmente, medicalizado pela moderna indústria da ereção. Cada uma dessas lentes foi uma tentativa de dar sentido intelectual e emocional à relação do homem com o seu órgão definidor.
Atualmente, a população ocidental jura sobre a Bíblia, mas antes de haver as Bíblias, os homens costumavam jurar por seus pênis, ou pelos pênis dos homens para quem faziam o juramento. A palavra “testemunho” vem do latim testemonium, derivado de testi, principalmente no plural testes: jurar sobre os testículos. Muita sculturas antigas levavam em alta conta o juramento dado empenhando-se a própria virilidade.
Leitura recomendada:
Uma Mente Própria: A história cultural do pênis, de David M. Friedman. Rio de Janeiro. Objetiva, 2002
O Livro do Pênis, de Maggie Paley. São Paulo. Conrad Editora do Brasil, 2001
O Livro do Pênis, de Joseph Cohen. Colônia, Konemann Verlagsgesellschaft, 2001
A Mente Seletiva, de Geoffrey F. Miller, São Paulo, Campus, 2000
Uma Mente Própria: A história cultural do pênis, de David M. Friedman. Rio de Janeiro. Objetiva, 2002
O Livro do Pênis, de Maggie Paley. São Paulo. Conrad Editora do Brasil, 2001
O Livro do Pênis, de Joseph Cohen. Colônia, Konemann Verlagsgesellschaft, 2001
A Mente Seletiva, de Geoffrey F. Miller, São Paulo, Campus, 2000
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