A tecnologia transformou o mundo das artes. Primeiro aconteceu uma acentuada mudança geográfica para longe dos centros tradicionais (européias) de cultura de elite. A partir do final dos anos 40 New York substituiu Paris como o centro das artes visuais. O modernismo supunha que a arte era progressista e, portanto, o estilo de hoje era superior ao de ontem. Era, por definição, a arte da avant garde. O pós-modernismo contestava a essência de um mundo que se apoiava em crenças opostas, ou seja, o mundo transformado pela ciência e a tecnologia nela baseada, e a ideologia de progresso que refletia.
A tentativa de comparar “a obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” (Walter Benjamin) com o velho modelo do artista criativo individual reconhecendo apenas sua inspiração pessoal tinha de fracassar. A criação era agora essencialmente mais cooperativa que individual, mais tecnológica que manual. Como observou Benjamin, a era de “reprodutibilidade técnica” transformou não apenas a maneira como se dava a criação, mas também a maneira como os seres humanos percebiam a realidade e sentiam as obras de criação. Isso não mais se dava pelos atos de adoração e prece seculares em nome dos quais os museus e galerias, tão típicas da civilização burguesa do século XIX, supriam as igrejas.
As impressões dos sentidos, e mesmo as idéias podiam alcançá-los simultaneamente de todos os lados. A tecnologia encharcaria de arte a vida diária privada e pública. A obra de arte se perdera na enxurrada de palavras, sons e imagens, no ambiente universal do que um dia se teria chamado arte. Então esse crítico alemão excêntrico chamado Walter Benjamin foi um visionário. Ele percebia nas discussões sobre arte uma supressão da cultura popular, um foco limitado, um desprezo mesmo daquilo que era chamado de arte comercial. Ele se opôs a um certo modo elitista de enfocar arte, e a viu enquanto um dos efeitos da cultura. A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica enfocava o que estava acontecendo em decorrência da ascensão da fotografia, o fato de que a fotografia permitia a exploração da arte em si mesma.
Abalou conceitos, tabus como originalidade e autoria, colocou em questão a idéia do artista como o único produtor que vende sua tela. A “aura” do original foi descrito pela primeira vez por Benjamin, quando ele fala da qualidade única que um original possui, de como foi produzido, em seu tempo e lugar. Só que hoje ela é reproduzida por todo o mundo de todos os jeitos e essas reproduções não têm nenhum valor ao original, de seu self origin.
O sociólogo Renato Ortiz no capítulo sobre “legitimidade e estilos de vida” (no livro Mundialização e Cultura. Editora Brasiliense, 1991) informa: “É somente na passagem do século XVIII para o XIX que o universo artístico torna-se independente das injunções políticas e religiosas. Até então, a obra de arte cumpria uma função religiosa (habitava as igrejas e os conventos), política (luta entre burguesia iluminista e o poder aristocrático), ou ornamental (os retratos nas cortes ou nas famílias dos grandes comerciantes). Este constrangimento se reforçava ainda com a existência do mecenato. O artista dependia materialmente daquele que o sustentava. A modernidade reformula este quadro. Surge o artista enquanto indivíduo livre (isto é, capaz de escolher seus temas e sua linguagem), e uma esfera autônoma (quase sagrada) da arte enquanto tal. Os julgamentos políticos, religiosos, ou comerciais (antagonismo entre os românticos e a literatura de `massa`, o folhetim) são substituídos por critérios exclusivamente estéticos. A afirmação de Flaubert, ´a arte pela arte`, revela um novo espírito, a presença de um domínio fechado sobre si mesmo, cujas regras de funcionamento escapam às ingerências externas”.
No final do século XX os interesses econômicos de indústrias de consumo se fundiram com as vanguardas e extraíam seus lucros de um certo ciclo de moda e de vendas em massa instantâneas para uso interativo mas breve. Se a distinção entre o sério e o trivial, o bom e ruim, profissional e amador foi deixado de lado com base em que a única medida de mérito eram as cifras de venda, ou que eram elitistas, ou que, como dizia o pós-modernismo, não se podia fazer qualquer distinção objetiva. Qual será o papel ou mesmo a sobrevivência das artes no século XXI?. Só o tempo dirá.
Para Hipócrates, a arte é longa, a vida é curta. Já Mário Pedrosa resumiu: arte, necessidade vital. Com mais de 40 mil anos de história, a pintura continua sendo um espaço aberto à reflexão e ao prazer. “Não podemos matar uma tradição pictórica. A pintura é mais poderosa que a guerra, os governos ou o gosto”, disse René Ricard. A arte não morrerá, informou o crítico Frederico Morais (no seu livro Arte é o que eu e você chamamos arte. Record, 1998), simplesmente porque em arte não há progresso. Nem, a rigor, decadência. Mudam os meios de expressão, mudam os suportes, os materiais, e as técnicas empregadas pelo artista, as formas de apresentação e circulação das obras de arte, mas, essencialmente, a arte não muda. Desde os tempos pré-históricos ela é sempre uma necessidade vital para o homem e as nações. As questões da arte serão as questões de sempre. Assim, quando será decifrado o mistério da arte?.
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Quem desejar adquirir o livro Bahia um estado d´alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Piedade), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Roha na Praça Castro Alves) e na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela)
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