27 maio 2009

Dez anos de Matrix (3)

Já o terceiro filme há muitas dúvidas: Seria Neo apenas uma simulação da Matrix para cumprir sua tarefa de retirar 23 pessoas de Zion antes que ela seja destruída ou um ser humano real? O oráculo está do nosso lado ou ainda é fiel as máquinas e ao seu criador? O Arquiteto era um ser humano ou uma manifestação da Matrix, como um programa de inteligência própria? Zion será destruída? Terá Neo que escolher entre a morte dos humanos que ainda estão presos dentro da Matrix ou a morte dos que estão fora dela? Não seria Zion uma simulação da própria Matrix para abrigar as pessoas que não aceitaram ficar dentro do programa?



Mas afinal, o que é a Matrix? "Você pode escolher entre a pílula vermelha ou a azul" diz Morpheus a Neo a certa altura do filme. "Se escolher a azul você vai acordar de manhã em sua casa e sua vida vai permanecer a mesma . Mas, se escolher a vermelha, vai descobrir o quão funda é a toca do coelho da Alice". Numa das cenas iniciais do filme, Neo é desafiado a escolher entre a pílula azul e a pílula vermelha. Esta é sua primeira (e decisiva) escolha Ou seja, ele terá que escolher entre permanecer como está ou conhecer a verdade do Real. Imbuído de aguda curiosidade, Neo escolhe a pílula vermelha, que o conduz a uma outra dimensão da sua vida pessoal.

Ao escolher a pílula vermelha, Neo renasce, literalmente. A partir daí, Neo “conhece” a Matrix e o significado da luta do grupo de Morpheus. Torna-se membro da resistência humana, atuando na Matrix a partir de sua base submarina, o Nabucodonosor. Desde a escolha da pílula vermelha, a trama do filme dos Irmãos Wachowski se desenrola em fases delimitadas: o (re)nascimento de Neo, o descobrimento da Verdade, seu treinamento, a ida ao Oráculo; a traição e armadilha de Cypher, a captura de Morpheus, seu resgate por Neo e Trinity, o duelo no Metrô entre Neo e o agente Smith; a fuga de Neo, sua morte e ressurreição e a afirmação de Neo como o Escolhido, aquele que irá redimir a humanidade da dominação das Máquinas, libertando-os da Matrix. A tragédia de Neo, no decorrer de Matrix, é ser obrigado a escolher, a agir e não apenas a perguntar (o mesmo desafio moral é posto no decorrer de todo o filme). Em vários momentos, Neo se depara com o desafio: “Você é quem escolhe”.



“É a pergunta que nos impele, Neo. Foi a pergunta que te trouxe aqui. Sabes a pergunta, assim como eu sei. A resposta está lá fora Neo “( Trinity)



A trama narrativa é permeada de escolhas e de enfrentamento do destino, daquilo que está programado e contra isto se insurge Neo e os demais. É, em última instância, o tema da liberdade humana e da própria dialética liberdade e necessidade. É através deste enfrentamento cotidiano, que Neo adquire a consciência de si. É outro ponto decisivo – não existe consciência de si sem luta intensa e enfrentamento com as condições dadas (a Matrix é uma condição dada e os agentes federais, como software de rastreamento, são condições dadas, programadas, escravos da programação-mor da Matrix, obstáculos à liberdade pleiteada pelos seres humanos).



Dois planos espaço-temporais permeiam a narrativa de Matrix. A primeira ocorre no deserto do Real, onde a Terra após a vitória das Máquinas transformou homens e mulheres em fonte de energia. Mas existem homens que resistem no subterrâneo, habitando a cidade de Sião, “a última cidade humana, o único lugar que nos restou perto do núcleo da Terra onde ainda é quente”, cujo acesso é secreto (o que os agentes federais queriam era o código de acesso a Sião para poderem derrotar, de vez, a resistência humana). Segundo, o que ocorre no mundo real simulado pela Matrix, cenário urbano da metrópole, com sua vida cotidiana, onde as pessoas estão imersas no emprego e nas suas ambições triviais. É o mundo tal como ele é.





A realidade simulada é uma virtualização complexa que oculta a verdadeira Realidade, o “deserto do Real”. De um lado, a bárbarie regressiva perto de 2199. De outro lado, o simulacro digital complexo que oculta a exploração do gênero humano pelas Máquinas Inteligentes. Estamos diante de um mundo digital, binário, tão perfeito quanto a própria realidade concreta. Neste mundo de Matrix, os objetos e pessoas são meros sistemas de códigos binários, programas de computador, deste imenso sistema informático. “A Matrix é um mundo dos sonhos gerado por computador feito para nos controlar, para transformar o ser humano nisto aqui [bateria]”, observou Morheus.
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